Parece incrível, mas apesar dos discursos otimistas e cheios de ufania das autoridades brasileiras e da reeleição de um ex-metalúrgico para a presidência, os esforços nacionais continuam não sendo reconhecidos pelo mundo. Para azar dos economistas e políticos em geral ou tristeza da nossa esforçada diplomacia, ultimamente uma verdadeira enxurrada de índices internacionais teima em perseguir o Brasil, classificando-o em posições verdadeiramente vexatórias. A notícia mais recente, da semana passada, veio com a divulgação pela ONG Transparência Internacional do seu Índice de Corrupção Global, no qual o nosso país caiu da 62ª para a 70ª posição (estávamos em 45º em 2002), refletindo a maneira como nos percebem lá de fora. Foi um desmentido à Fundação Konrad Adenauer que, mesmo citando e descrevendo entre vários outros os escândalos comandados por José Dirceu e pelo ministro Palocci, melhorara a colocação brasileira no Índice de Desenvolvimento Democrático da América Latina (IDD-Lat 2006) da 12ª para a 8ª colocação entre dezoito nações por considerar que, apesar de tudo, não houvera desestabilização institucional.
Na área econômica o julgamento externo tem sido duro. Pelo Índice de Competitividade divulgado em setembro pelo Fórum Econômico Mundial, recuamos nove posições em um só ano, caindo da 57ª para a 66ª, principalmente devido a fatores como tributação complexa, nível dos impostos e, para variar, corrupção no governo. Somos o 9º país mais desigual da face da terra de acordo com o Índice de Gini e temos a 22ª maior dívida externa, mas nesse fosso até que melhoramos um pouco, pois estávamos respectivamente em 3º e em 2º. Enfim, a velha dívida com o Fundo Monetário Internacional foi paga, proporcionando um ligeiro alívio para a balança de pagamento, uma vez que representava 7% de toda a dívida externa nacional. A fatia mais robusta, a conta com o Clube de Paris que se acumula desde 1983, segue viva. Apesar de sermos a 11ª economia mundial, nossa renda per capita permanece longe dos mais ricos, em 74º posto. De acordo com o Banco Mundial, o Brasil é conceituado como uma “economia média-baixa”. Já quando se trata de indicadores quantitativos, mesmo não tendo certeza de que isso seja positivo, não fazemos feio: 9º lugar em consumo de gasolina e de eletricidade e temos o oitavo maior número de usuários de Internet. As razões para tanto podem ser encontradas nas dimensões do país, o quinto em termos de área, população e força de trabalho.
As coisas ficam um tanto mais difíceis quando se trata da área social. A Organização Mundial da Saúde tem um ranking de sistemas nacionais de saúde onde figuramos num desastroso 125º lugar. Nossa colocação em percentual de pessoas alfabetizadas é a 90ª, em esperança de vida ao nascer a 117ª, em taxa de desemprego a 70ª e na mais conhecida das medições sobre bem-estar, o Índice de Desenvolvimento Humano – IDH que inclui alfabetização, educação, expectativa de vida e nível de renda – baixamos da 63ª para a 69ª. Quanto ao nível de pobreza, pelo fato de termos um pouco mais de 22% da população com rendimento inferior a dois dólares ao dia, somos a 53º nação do mundo. Para complicar o quadro, a Organização Repórteres Sem Fronteira colocou o Brasil em 75º posto no Índice de Liberdade de Imprensa.
Preocupada com todo esse quadro, a comissão especial de combate à corrupção da ONU decidiu vir ao Brasil e desde fevereiro pede permissão para uma visita da relatora Christy Mbonu. Até agora não teve êxito. O governo tem alegado agenda superlotada devido ao período eleitoral e ela deve chegar, na melhor das hipóteses, pouco antes do final do ano. Talvez suas avaliações ajudem, mas no conjunto qualquer mudança significativa para melhor terá que acontecer aos poucos e de maneira contínua. Não custa ter esperança.            


 


Vitor Gomes Pinto
Escritor, analista internacional
Autor dos livros Guerra nos Andes e
ZIM, uma aventura no sul da África