No Palco Hotel, a meia hora do centro de Havana entre os jardins e as belas residências do Reparto Siboney, a partir desta 2ª. feira, 19 de novembro, a elite dos negociadores do governo colombiano e das FARC se reúnem para discutir o acordo geral para o término do conflito e construção de uma paz duradoura e estável firmado um mês atrás em Oslo, Noruega. Desde então o conflito vitimou a mais 60 guerrilheiros e 9 militares. Em seu mais recente ataque, no departamento de Cauca, a Frente Sexta e a Coluna Jacobo Arenas conseguiram entrar na localidade de Tororó e disparando rajadas de fuzil contra o quartel mataram um policial e feriram outros dez até serem rechaçados pelo voo rasante dos helicópteros em apoio aos combatentes de terra.As Forças Revolucionárias da Colômbia nasceram em 1966 com base no núcleo duro do Partido Comunista no centro-sul do país sob o comando de Manuel Marulanda Véliz, o Tirofijo. Dois anos antes surgiu o Exército de Liberação Nacional, o ELN, inspirado na revolução cubana e de forte tendência maoista. Negociações de paz fracassadas se sucedem desde o governo Belisario Betancur em 1984, sendo retomadas com maior ou menor empenho pelos seis presidentes seguintes até chegarem ao atual processo capitaneado pelo liberal Juan Manuel Santos. Cinco pontos estarão sobre a mesa de discussão: o problema da terra, o desarmamento por parte do grupo guerrilheiro, a entrada dos rebeldes desmobilizados na vida política, a solução da problemática do narcotráfico e a reparação devida às vítimas do conflito. Os governos de Cuba e da Noruega atuam como garantidores do diálogo de paz, enquanto os do Chile e da Venezuela figuram como acompanhantes. Das experiências anteriores a que maiores esperanças de êxito suscitou foi uma Zona de Distensão do tamanho do estado do Rio de Janeiro implantada em outubro de 1998 por Andrés Pastrana em San Vicente del Caguán e outras quatro cidades ao sul, reconhecendo status político às FARC e que foi dissolvida pelo governo quase quarenta meses depois, quando o senador Jorge Gechem foi sequestrado. A administração de Álvaro Uribe, o primeiro presidente a ser reeleito, foi de guerra total com apoio norte-americano por meio do Plano Colômbia que ao longo de dez anos destinou mais de 8 bilhões de dólares ao país, tentando uma vez mais sem sucesso aniquilar a guerrilha. Em relação às tentativas precedentes o cenário agora é distinto, o que não necessariamente significa que a paz finalmente será conquistada. O paramilitarismo foi desarticulado, transformando-se em delinquência comum; as FARC chegam enfraquecidas à mesa de negociação, após terem perdido cinco membros do seu secretariado (Tirofijo, Alfonso Cano, Mono Jojoy, Raul Reyes, Iván Rios) e do segundo escalão, além de milhares de militantes; as Forças Armadas se fortaleceram, tornando-se as mais bem treinadas e as segundas mais numerosas da América Latina; as plantações de coca em parte se transferiram para a Bolívia e o Peru, enquanto alguns dos cartéis da droga de Medellin e Cali foram substituídos por seus congêneres do México e da América Central, mais próximos dos Estados Unidos. Acrescente-se que o plantel de negociadores é de alto nível: o advogado de 66 anos e vice-presidente anterior Humberto de La Calle chefia a missão oficial que inclui o Alto Comissionado para a Paz, o presidente da Associação Nacional dos Empresários e dois generais reformados, um do Exército e outro da Polícia, ao passo que pelas FARC estarão três membros do Estado-Maior – Iván Márquez como chefe, Rodrigo Granda (o chanceler), Andrés Paris -, além do delegado do grupo no Mèxico e Alexandra, ou Tania Nijmeijer, filóloga holandesa de 34 anos que em 2002 veio a Caguán numa visita de estudos e desde então se tornou uma guerrilheira.A população e os demais atores (instituições de paz, organizações que representam as famílias das vítimas, p. ex.) até o momento não acreditam que Santos conseguirá a paz, mesmo porque não fazem parte das discussões que são restritas a quem está no campo de batalha. Contudo, apoiam seus esforços, sabedores de que um novo fracasso poderá significar outros dez anos de guerra com todos seus corolários de dor, horror e sofrimento para o país. O principal obstáculo a ser superado é que um cessar-fogo está colocado como um ponto de chegada e não de partida, o que significa negociar em meio à violência. O governo teme que um pacto inicial de cessar-fogo (de difícil verificação na prática) favoreça a guerrilha, permitindo-lhe recuperar sua capacidade militar, o que terminaria por impedir qualquer acordo definitivo. No entanto, o prosseguimento dos combates e das mortes por certo endurecerá as posições lado a lado, produzindo mais desacordos e ressentimentos, com efeitos negativos na opinião pública. Iván Márquez sinalizou a possibilidade de uma pausa nos combates para o Natal e o Ano Novo, desde que seja bilateral. É um bom começo.                   

 

Vitor Gomes PintoEscritor. Analista internacional. Autor de Guerra en los Andes