Conflitos nos quatro cantos do mundo

Bem Paraná

É verdade que a tensão diminuiu em alguns países. Desde a posse de Dmitri Medvedev a Rússia e suas vizinhanças estão quietas; os tibetanos acalmaram-se ou foram acalmados pelos chineses e o Nepal conquistou um governo democrático afastando o rei Gyanendra enquanto, aqui por perto, Venezuela, Equador e Colômbia ao menos diminuíram a retórica de confronto. Em outros, a tensão é permanente, como no Iraque, Israel/Palestina, Afeganistão/Paquistão, onde a interferência externa é predominantemente norte-americana. A ONU mantém 20 missões de paz em 21 países mais o Sahara Ocidental, com tropas pesadas (mais de 9 mil capacetes azuis) no Congo, Libéria, Líbano, Sudão, Costa do Marfim e Haiti.
Na África, afora a província de Darfur no Sudão, as atenções concentram-se no Zimbábue onde o 2º turno das eleições, previsto para 27 deste mês, perdeu sua razão de ser com a retirada de Morgan Tsvangirai do Movimento de Mudança Democrática (MDC) devido à total impossibilidade de um pleito justo. Robert Mugabe declarou que só Deus o tiraria do poder. O secretário-geral do MDC, Tendai Biti, foi preso por ofender em campanha ao presidente e poderá ser condenado à morte e Tsvangirai para escapar pediu asilo à Holanda. Mugabe, aos 84 anos é hoje uma peça da engrenagem que se apoderou do país e cujo verdadeiro poder é exercido pelo Comando de Operações Conjuntas do partido do governo, liderado pelo veterano da guerra de 1980 Emerson Mnangagwa. Há outros cinco homens fortes, entre os quais o presidente do Banco Central, Gideon Goni, que mantém o prestígio apesar da inflação de um milhão por cento. Refugiados zimbabuanos invadiram em massa a África do Sul (o presidente Tabo M’beki é a base de sustentação de Mugabe) e de lá estão sendo escorraçados.
A Europa, no top do mundo, não está livre de confusão e é varrida por uma onda de xenofobia. O Parlamento Europeu aprovou lei, a vigorar em 2010, que oficializa a detenção de imigrantes ilegais sem culpa formada por seis meses e permite a detenção e expulsão de menores não acompanhados. Os defensores de estratégias graduais de integração (abdicação de alguns costumes religiosos e culturais) ou assimilação (abandono da cultura nativa) não são ouvidos e a rejeição cresce especialmente contra negros, ciganos e muçulmanos, castigando ainda a simples imigrantes, asilados e refugiados que necessitam acolhimento. Mesmo sendo uma mão-de-obra barata e prolífica num continente de baixa taxa de fecundidade, os não-europeus são acusados de aumentar desemprego e gastos com serviços públicos, além de deteriorar a segurança.
Nas Américas, a situação anda confusa na Bolívia, na Argentina e no Brasil. Evo Morales sofreu a quarta derrota consecutiva com 80% dos votantes apoiando o novo estatuto autonômico de Tarija, onde estão as reservas de gás da nação, numa reprodução dos resultados de Bení, Pando e Santa Cruz. Os Departamentos de Cochabamba e Chuquisaca farão plebiscitos em setembro, restando Potosí, La Paz e Oruro ao lado de Evo. Vem ai o Referendo de 10 de agosto, destinado a confirmar ou não no poder o presidente, o vice e os nove prefeitos. É uma maluquice a mais e a maioria dos prefeitos (quatro já governadores) é contrária à sua realização, pois a eventual remoção das autoridades que obtiverem menos votos do que na sua eleição há dois anos e meio atrás não solucionará qualquer dos grandes problemas, econômicos e políticos, que a Bolívia enfrenta. Enquanto isso, Cristina Kirchner esforça-se para demonstrar o erro cometido pelo marido Nestor ao elegê-la presidenta argentina para obter, a seguir, mais oito anos de mandato. A disputa com os ruralistas que se opõem ao aumento de impostos de exportação já consumiu mais da metade dos primeiros seis meses da administração de Cristina e derrubou sua popularidade para 20%. A desmedida violência do Rio de Janeiro garante o destaque brasileiro na mídia internacional., graças às milícias constituídas por policiais e militares de folga, membros de academias, seguranças particulares: autêntico terceiro  poder do qual a sociedade não consegue se livrar.
 


Vitor Gomes Pinto
Escritor. Analista internacional