O ciclo de euforia econômica que fez a América Latina crescer continuamente durante seis anos encerrou-se em 2008 quando o PIB ainda cresceu a 4,6%, prevendo-se uma expansão de 1,9% para este ano, afirma a Cepal, constatando uma desaceleração das exportações; queda de preços de produtos básicos como petróleo, metais e alimentos; redução nas remessas de dinheiro por trabalhadores no exterior; menos investimentos estrangeiros diretos; perdas em turismo e maior custo do crédito internacional que está minguando. O Brasil só não lidera a desaceleração (crescimento de 2,1% previsto para 2009 contra os 5,9% de 2008) porque o México está caindo de míseros 1,8% para 0,5%. A conclusão similar chegou a FGV com seu Índice de Clima Econômico, pelo qual a economia da região está em fase de declive, sem perspectiva de recuperação no curto prazo.
Imunes às crises, os políticos não sossegam e se preparam para as sete eleições presidenciais que acontecem este ano, quatro delas com favoritismo da esquerda. Os três regimes chavistas sul-americanos estão consolidados: na Venezuela Chávez obteve, no referendo de janeiro, o direito a candidatar-se eternamente, enquanto o Equador (em 26 de abril) e a Bolívia (em 6 de dezembro) farão eleições antecipadas graças a suas novas Constituições. O equatoriano Rafael Correa, que poderá reeleger-se agora e de novo daqui a quatro anos, deve derrotar sem dificuldades ao mega produtor de bananas Álvaro Noboa, ao ex-presidente Lucio Gutierrez e a Martha Roldós da Frente de Esquerda Unida. Evo Morales tem mais oposição interna e por ora só conseguiu o direito de mais um mandato para governar até 2015 caso vença, como é o esperado, ao ex-presidente Carlos Mesa e ao prefeito centro-esquerdista de Potosí, René Joaquino, que já foi operário. A eles poderá juntar-se, em El Salvador, Mauricio Funes da Frente Farabundo Marti para Libertação Nacional, a FMLN que se transformou em partido político em 1992 após doze anos de atuação como guerrilha. O pleito é em 15 de março e Funes, um ex-apresentador da Rede CNN sem passado guerrilheiro, confirmou um favoritismo apertado no mês passado quando a FMLN superou nas eleições legislativas a direitista Arena. Esta, no entanto, ganhou alento ao conquistar a prefeitura da capital e tentará permanecer no governo com o delegado de polícia Rodrigo Ávila como candidato. O Uruguai é o quarto país onde eleições majoritárias devem dar o comando político à esquerda, na verdade centro-esquerda, com a provável recondução em 25 de outubro de Tabaré Vasquez da Frente Ampla, derrotando novamente aos tradicionais Partidos Nacional (Blanco) e Colorado.
Candidatos de direita devem impor-se no Panamá (3 de maio), Honduras (29 de novembro) e Chile (11 de dezembro). Nos dois primeiros isso não será surpresa. Balbina Herrera, ministra da Habitação no atual governo do Partido Revolucionário Democrático tem 40% das intenções de votos no Panamá, contra 50% dados ao empresário Ricardo Martinelli do Partido da Mudança Democrática, que conseguiu unir as várias correntes de oposição ao cada vez mais impopular governo de Martín Torrijos. Em Honduras as disputas costumam ser acirradas, mas sempre entre grupos conservadores. Desta feita, Pepe (Porfírio) Lobo do Partido Nacional promete vingar a derrota sofrida em 2005, superando ao liberal Mauricio Villeda. Os chilenos parecem ter-se cansado dos socialistas de mercado da Concertación que os comandam desde o fim da ditadura militar em 1990. As pesquisas de opinião colocam em 1º lugar na corrida presidencial para 11 de dezembro ao empresário Sebastián Piñera da Aliança por Chile, uma coligação entre duas correntes que deram sustentação ao governo de Pinochet em seus dezessete anos de poder: a Renovação Nacional e a ultradireitista União Democrata Independente. Na situação, prossegue a luta entre democrata-cristãos (governos de Alwin e Frei nos anos noventa) e socialistas (Lagos e Bachelet desde 2000). Podem perder devido à falta de liderança de Michelle Bachelet, mas ainda teriam chances caso o candidato fosse o ex-presidente Ricardo Lagos que reiteradamente afirmou que não concorrerá, abrindo a vaga para o também ex-presidente Eduardo Frei. Corre por fora o Secretário-Geral da OEA, José Miguel Insulza, com alto prestígio como estadista na sociedade chilena. No pleito municipal de agosto último, a maioria das prefeituras ficou com a direita. Derrotado por escassa margem, desde então o governo de Bachelet ao invés de recuperar-se vem caindo mais e mais na avaliação popular.
      Importantes, também, são as eleições para renovar um terço do Senado no Haiti (abril) onde a Frente para a Esperança do presidente René Preval espera melhorar seu desempenho; na Argentina (outubro) para renovar a Câmara dos Deputados com previsão de enfraquecimento do grupo peronista liderado pela família Kirchner, e no México em julho, onde o velho PRI tem 40% das intenções de voto para o Legislativo, bem à frente dos partidos do presidente Felipe Calderón e do segundo colocado nas últimas eleições, López Obrador. Para o ano seguinte as atenções se voltarão para Brasil e Colômbia, onde os atuais presidentes, Lula e Uribe, ainda não desistiram de todo do sonho de um terceiro mandato.


 


Vitor Gomes Pinto
Escritor – Analista internacional
Autor do livro Guerra en los Andes