Cuba , ao longo dos últimos setenta e cinco anos, apesar de alguns mandatos breves e intermediários, na verdade teve dois líderes absolutos: Fulgencio Batista que dominou a partir de 1933 e Fidel Castro Ruz que o derrubou em 1959 e permaneceu no comando inconteste da Revolução (é o Presidente desde 1976) até a última 3ª. feira, 19 de fevereiro de 2008, quando declarou que não mais deseja exercer a presidência no país. Foram 49 anos no poder de um sólido regime socialista numa ilha situada 145 km ao sul da Flórida, e agora Cuba e o mundo terão de conviver com a retirada do palco do maior mito vivo da esquerda mundial. O Parlamento cubano reuniu-se domingo para renovar o Conselho de Estado e nomeou o próximo Presidente. Foi escolhido o irmão Raúl Castro de 76 anos (cinco a menos que Fidel) e, a julgar pelo que fez nos 16 meses em que atuou como interino, não se devem esperar alterações significativas no espectro político nacional. Cuba continuará sendo um país comunista com partido único. Dirigentes mais jovens, como o médico de 56 anos Carlos Lage, o vice-presidente que na prática tem atuado como um 1º Ministro, igualmente não têm apetite para mudanças.
As expectativas de novidades internas no curto prazo se limitam à possibilidade de concessão mais liberal de vistos para que cubanos possam viajar ao exterior e medidas de apoio à produção agrícola, considerando afirmativas de Raúl de que o país precisa de uma reforma agrária para superar sua crônica dependência de alimentos. Os contados mercados particulares que hoje vendem basicamente vegetais e carnes, a preços que só poucos conseguem pagar, poderiam ter permissão para expandir-se.
O embargo norte-americano, aprofundado pelo regime de George Bush a partir de 2004, terá vida curta ou longa na dependência de quem vencer as eleições norte-americanas de novembro próximo. Barack Obama considera-o um erro crasso, pois tornou a população ainda mais dependente do governo e promete diminuir as restrições. Hillary Clinton não quer levantar o bloqueio econômico nem facilitar as viagens à ilha, mas aceita rever as posições americanas caso aconteçam mudanças no regime que suceder Fidel. Já o republicano McCain pretende manter o embargo, achando que com isso obterá o voto dos hispânicos legalmente residentes nos EUA.
Fidel diz que continuará em atividade, orientando seu povo por meio dos artigos que escreve para o Granma, jornal do PC. Sua luta atual é contra a doença que o impediu de seguir no comando. Não há um diagnóstico oficial, especulando-se (pela gravidade do mal e pela intensa perda de peso após as cirurgias de intestino) entre um câncer e uma diverticulite no intestino grosso. Desmentidos como os do médico espanhol José Luis García que identificou uma lesão benigna e afirmativas como as de Gabriel García Marques (caminhei quilômetros com Fidel e ele é o mesmo de sempre) ou de Lula que o achou “impecável, pronto para assumir seu papel político”, perderam força diante da decisão do próprio comandante de não mais assumir responsabilidades de mando devido ao seu estado de saúde. Não há dúvida de que o Partido Comunista Cubano mantém toda sua força, mas é evidente que um líder como Fidel não pode ser substituído. O futuro dirá se o caminho a seguir será no modelo chinês, no vietnamita, ou se Cuba criará suas próprias estradas.
Vitor Gomes Pinto
Escritor. Analista internacional
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