O PRI, Partido Revolucionário Institucional, está demonstrando que na verdade nunca deixou o poder no México. Governou ininterruptamente de 1929 a 2000, quando o PAN, Partido de Ação Nacional, derrotou-o nas eleições elegendo primeiramente a Vicente Fox e em 2006 ao atual Presidente Felipe Calderón Hinojosa, conhecido como FCH, este numa eleição contestada pois a vantagem para o segundo colocado, Manuel Obrador do PRD (Partido da Revolução Democrática), foi de apenas 0,56% dos votos. Nos últimos dez anos o velho PRI se manteve como a principal agremiação política nacional e agora – nas eleições em doze estados para governadores de 4 de julho – divertiu-se pois além de ter triunfado em nove deles, os vencedores nos outros três são originários de suas fileiras. A costumeira confusão política mexicana, por vezes com diferenças imperceptíveis entre os programas dos vários partidos, desta feita atingiu o auge, uma vez que para vencerem em Sinaloa, Puebla e Oaxaca (os três maiores estados em disputa, à exceção de Vera Cruz) o PAN que é de direita e o PRD, de esquerda, formaram uma aliança que contrariou tudo o que cada um até aqui vinha defendendo. O primeiro tentou desmanchar a má imagem de conservador, enquanto o segundo arriscou-se a perder a boa aura de progressista.

Tentando tirar proveito da salada em que se transformou a política mexicana, Manuel Obrador declarou-se contrário à aliança espúria de seu partido com o PAN, informando que buscará um novo partido para candidatar-se contra todos nas próximas eleições nacionais de 2012. Os outros candidatos oposicionistas serão, provavelmente, o governador do Estado do México, Enrique Peña Nieto pelo PRI e o prefeito da capital, Marcelo Ebrard pelo PRD, enfrentando – caso não se alie a ela – a deputada Josefina Vásquez (luta contra uma série de pelo menos cinco outros sérios postulantes ao posto) pela situação. Quem vencer receberá um México em crise, com um PIB que decresceu em 6,7% no ano passado (redução de 1,8% na América Latina e crescimento de 0,3% no Brasil) e perdendo a luta contra o narcotráfico. Felipe Calderón no dia seguinte à sua posse mandou 45 mil soldados para os estados mais corroídos pelo tráfico e o resultado foi o aumento dramático da violência que hoje atinge níveis altíssimos no país inteiro.

Os principais Cartéis da Droga – Tijuana, Sinaloa, do Golfo, Los Zetas, Beltrán Leyva, La Família e Juárez – não têm limite no quesito crueldade, estimando-se que movimentam o equivalente a 45% da renda bruta total do país a cada ano. O costume é executar seus inimigos – de preferência policiais – e decapitá-los. Na segunda-feira anterior ao pleito, o candidato do PRI ao governo do estado de Tamaulipas, Rodolfo Torre, e cinco acompanhantes foram assassinados numa emboscada. É o político de mais alto escalão morto no México nos últimos dezesseis anos, mas seu irmão Egidio o substituiu e venceu a eleição. Antes, na estrada que liga Toluca ao município de Zitácuaro, a 150 quilômetros da capital do país, o Cartel La Família atacou um comboio policial matando doze a tiros de metralhadora e deixando quinze seriamente feridos. Como não poderia deixar de ser, a insegurança afastou a população das urnas. A abstenção geral foi de 46%, mas em estados muito afetados pelo tráfico de drogas, como Chihuahua, 66% dos votantes ficaram em casa.

Calderón embarcou na canoa de George Bush e tentou dominar o tráfico sem reduzir as desigualdades sociais, antepondo a violência do Estado à violência dos Cartéis da Droga. Fracassou e hoje é consenso entre os mexicanos de que as causas principais que alimentam o narcotráfico são a corrupção das autoridades em todos os níveis de governo e a impunidade. Recentemente o Subprocurador da República e três diretores do escritório local da Interpol foram presos por suas ligações com o tráfico. Famosa tornou-se a festa de arromba promovida por um dos maiores chefes do crime organizado, Joaquin El Chapo Guzmán para comemorar o 15º aniversário do filho e seu terceiro casamento, com a segurança a cargo de helicópteros do Exército. De acordo com Ricardo González Bernal da ONG Liberdade de Expressão, no ano passado de 244 casos de agressão contra jornalistas (12 assassinatos), nenhum foi julgado. Eles investigam por um tempo, mas logo abandonam. Em Washington, na semana passada, Obama e Michelle receberam num jantar na Casa Branca a Calderón e sua esposa Margarita Zavala. A cooperação entre os dois países nunca foi tão intensa. Obama pediu mais US$ 310 milhões ao Congresso em ajuda para o programa Fronteira Inteligente nos 3141 quilômetros que limitam os dois países e adiantou a entrega de uma aeronave e helicópteros Black Hawk ao exército mexicano. O governo do México resolveu distribuir milhares de mapas do deserto de Sonora que cerca nos dois lados a fronteira mais movimentada do mundo, sendo acusado de facilitar a migração ilegal. Queremos apenas evitar as mortes, identificando fontes de água e rotas mais seguras, responderam os geógrafos, nunca ouvidos pelas autoridades que fazem a segurança sempre com armas nas mãos.                

Vitor Gomes Pinto
Escritor. Analista internacional