Nenhum dos três candidatos favoritos se imagina como o vencedor absoluto no 1º turno das eleições nacionais do Equador dia 15 de outubro. Caso ninguém consiga a metade mais um dos votos válidos haverá uma segunda volta, já marcada para 26 de novembro com os dois primeiros. De acordo com a última pesquisa, da empresa Cedatos, lidera o ex-vice-presidente Leon Roldós (advogado, 64 anos) da Izquierda Democrática com 24%, seguido por Cynthia Viteri (advogada, 40 anos) do direitista Partido Social Cristiano com 17% e por Rafael Correa (economista, 43 anos) do Partido Socialista Frente Amplio que, alcançando 12% superou o tradicional empresário do setor bananeiro e eterno candidato perdedor Alvaro Noboa e a Gilmar Gutiérrez, irmão do deposto presidente Lucio Gutiérrez. Outros oito candidatos nanicos são apenas figurantes na carreira presidencial.


Nada está decidido, principalmente por dois motivos: 71% dos eleitores permanecem indecisos e movimentos organizados como a Frente de Jovens Profissionais em Prol da Honorabilidade do Congresso (www.congresohonorable.com), Ruptura 25 e Gente Comum fazem campanha pelo voto nulo e calculam que pelo menos 60% seguirão seus conselhos (Não queremos os mesmos de sempre – Não te deixes manipular – Se não estás satisfeito, vota nulo). Após um período de dez anos no qual o Equador teve sete Presidentes, três dos quais destituídos em meio a revoltas populares, nunca as autoridades estiveram tão desprestigiadas. Outra pesquisa indica que o Congresso merece a confiança de 17% da população, o Executivo de 22% e a Corte Suprema da Justiça de 25%, num cenário onde a campeã é a Igreja Católica (70%), seguida pelos Meios de Comunicação e pelas Forças Armadas. Os que defendem a anulação do voto reconhecem que não é solução, pois não impede que o Executivo e o Parlamento sejam escolhidos, e se preparam para, em outras eleições, apresentar “candidatos melhores”. Além do Presidente e do Vice, Deputados nacionais e do Parlamento Andino, membros dos Legislativos estaduais e municipais serão escolhidos por 9,2 milhões de eleitores. Dois outros pontos que merecem atenção são o comportamento de cerca de 2 milhões de equatorianos que emigraram por falta de oportunidades e cujas remessas do exterior só perdem para o petróleo como fonte de divisas para o país (são os indecisos do passado) e a surpreendente habilitação de 1 milhão de eleitores a mais do que na eleição municipal de 2004, um aumento súbito de 12,3% não explicado pela Justiça Eleitoral.


Ao que tudo indica, chegou a vez de Leon Roldós comandar o país. Tem um programa de poucas promessas concretas que começa pela visão de “um Equador com desenvolvimento humano”, apóia a descentralização ao invés das autonomias das províncias e prevê um crescimento médio de 6% com inflação de 2%. Quer submeter a consulta popular a aprovação do Tratado de Livre Comércio (TLC) com os EUA, a decisão sobre voto obrigatório – como é hoje – ou facultativo e a possibilidade de um Congresso bicameral. Sua maior adversária até o momento, Cynthia Viteri, defende o trinômio “emprego, produção e dignidade individual” e dá grande destaque à regulação da Petroecuador que maneja a grande riqueza nacional, o petróleo. Quanto a Correa, segue o figurino de seu maior inspirador, o venezuelano Hugo Chávez: ataca a tudo e a todos, quer derrubar o presidente eleito caso não seja ele, diz que fará uma nova Constituição e confia na seriedade do seu candidato a vice, Lenin Moreno, diretor da “Fundação Eventa para a pesquisa e promoção do humor” e autor do livro “As melhores piadas do mundo”. Vale observar o desempenho do Dr. Luis Macas do Movimento Pachakutik e Reitor da Universidade Intercultural dos Povos Indígenas que só tem 1% das intenções de voto apesar de representar, como índio quéchua, quatro de cada dez equatorianos que são ameríndios.


Alguns dos principais temas de interesse nacional permanecem ausentes da campanha, por serem incômodos. É o caso da Base norte-americana de Manta, da guerra na vizinha Colômbia (interações na fronteira com as Farc), a produção e o tráfico de coca, a dolarização, o respeito às minorias. Em compensação, as recentes erupções do vulcão Tungurahua que obrigaram a retirada de milhares de pessoas são discutidas à exaustão. O primeiro a chegar no local, o milionário Alvaro Noboa do Prian, criticou a ineficiência governamental e distribuiu bananas, aveia e farinha de trigo, ademais de financiar brigadas médicas que, dirigidas por sua mulher Anabelle que é médica e candidata a deputada, entregaram ao povo remédios, máscaras, soro oral e colírio. Há candidatos a deputado para todos os gostos. Ximena Bohórquez, a esposa do defenestrado presidente Lucio Gutiérrez que o abandonou no meio do curto exílio em Brasília (depois se reuniram em Quito) diz que o Congresso, onde quer permanecer, por ser a instituição mais desacreditada necessita depuração e gente de currículo moral inatacável, o que seria o seu caso. Enquanto isso, na reunião do Rio encerrada na 6a. feira, o Equador voltou a fazer parte do G-20, grupo que contesta duramente a intransigência dos Estados Unidos e da União Européia em reduzir seus subsídios agrícolas, causa do impasse na OMC em relação à Rodada Doha. O presidente atual, Alfredo Palácios, não se sabe porquê, considera que sua atitude não prejudicará as já difíceis negociações com os EUA pelo TLC.


Vitor Gomes Pinto é Escritor, analista internacional, autor dos livros “Guerra en los Andes” e “ZIM, uma aventura no sul da África”