Tanto na economia quanto na política a América Latina encerra o ano de 2009 um pouco pior do que começou, mas as A crise internacional iniciada com a quebra de bancos após o calote das hipotecas nos Estados Unidos e que na sequência atingiu duramente países antes louvados por estarem no topo da modernidade como Islândia e Irlanda, interrompeu um ciclo de progresso que já durava seis anos contínuos nos vinte países latino-americanos. diferenças não podem ser consideradas como significativas. O PIB regional, segundo a Cepal, cresceu em média 6,4% ao ano de 2003 a 2008 (o Brasil puxou o índice para baixo, com média anual de 4,4%), mas em 2009 despencou chegando a dezembro com uma contração de 1,8%. O pior desempenho foi do México, seguido por Paraguai, Honduras, El Salvador, Panamá e Venezuela, esta devido à queda nos preços do petróleo. O Brasil equilibrou-se na corda bamba, crescendo 0,3%. Para 2010 as perspectivas são de recuperação, estimando-se que a economia crescerá 4,1% sob a liderança brasileira (+5,5%). A Secretária Executiva da Cepal, a mexicana Alicia Bárcena, disse que o pior da crise já passou, mas persistem dúvidas de que essa recuperação será sustentável, pois o cenário global segue incerto.
Das seis eleições presidenciais acontecidas este ano, somente em El Salvador houve mudança real de rumos, com a surpreendente vitória do jornalista e homem de televisão Carlos Mauricio Funes que, mesmo nunca tendo sido guerrilheiro, candidatou-se pela Frente Farabundo Marti para a Liberação Nacional e derrotou por estreita margem a Rodrigo Avila da Aliança Repúblicana Nacionalista (Arena), partido que vencera os três últimos pleitos. A nova primeira-dama salvadorenha é a advogada paulista Vanda Pignato que além de trabalhar na embaixada representa o PT no país. No Panamá também houve mudança, mas a ala centro-direitista conservou o poder, agora com o empresário Ricardo Martinelli à frente de uma aliança liderada pelo Câmbio Democrático que interrompeu uma tradição que já durava duas décadas (desde a restauração democrática em 1989) sob o comando dos social-democratas e dos conservadores.
Conforme o esperado, a esquerda manteve-se no comando no Equador, na Bolívia e no Uruguai. O triunfo de Rafael Correa no 1º turno, sem qualquer adversário de peso, assegurou-lhe após apenas dois anos no governo, outros quatro mais uma reeleição por igual período. É a fórmula bolivariana de domínio sobre um país, no caso equatoriano permitindo a um só mandatário governar de 2007 a 2017, inexistindo qualquer garantia de que não mudará a Constituição novamente para então perpetuar-se como o fez Chávez. A promessa do jovem economista é de “aprofundar o socialismo no Equador”. Ao lado, Evo Morales também não teve problemas para bater ao ex-governador de Cochabamba Manfred Reyes Villa que foi para o sacrifício em nome de uma oposição que na Bolívia vê sua resistência esvair-se aos poucos. A Frente Ampla do presidente Tabaré Vasquez enfrentou dificuldades que resultaram num 2º turno, quando conseguiu eleger o ex-guerrilheiro tupamaro José Mujica derrotando a Alberto Lacalle do Partido Nacional (Blanco) que, mesmo com o apoio dos Colorados, não conseguiu fazer os conservadores uruguaios recuperarem o poder. Mujica, no país mais culto da América Latina, tinha contra si a inexperiência administrativa e o fato de nunca ter estudado, primeiro por falta de tempo e depois, no longo período de paz e quando já era senador, por não considerar necessário. Prevaleceu o desejo dos uruguaios de não devolver o país aos liberais.
Em Honduras aconteceu o esperado e um outro fazendeiro – Porfirio Lobo do Partido Nacional – substituirá Manuel Zelaya do Partido Liberal, cujo candidato, Elvin Santos, terá de esperar mais quatro anos para chegar à presidência, caso os grupos agora apoiados por Hugo Chávez e por Daniel Ortega não desestabilizem de vez o país. Resta por resolver o pleito chileno, com um 2º turno entre o conservador Sebastián Piñera e o socialista Eduardo Frei em 18 de janeiro. Qualquer que seja o vencedor, o Chile seguirá sendo o mesmo.
Para 2010 igualmente não são esperadas trocas radicais nas eleições previstas para a Costa Rica em fevereiro, Colômbia em maio e Brasil em outubro. Maiores emoções deverão apresentar os pleitos legislativos nos Estados Unidos em novembro por seu potencial de influência na região e pelas dúvidas a respeito da manutenção do prestígio dos democratas, e na Venezuela em dezembro, quando a oposição, fortalecida pela crise na economia e pelo cansaço da população com o domínio, previsto para ser eterno, do MAS (Movimiento Al Socialismo), tentará ganhar espaço ao menos para demonstrar que segue viva.
Vitor Gomes Pinto
Escritor. Analista internacional