Jornalismo e os leitores

Bem Paraná

Bem sei que o título acima é amplo demais para caber numa crônica, pelo que me restrinjo à experiência pessoal com os leitores do nosso Jornal do Estado, para o qual escrevo há cerca de dez anos graças ao apoio de Josianne Ritz que sempre responsabilizou-se pela página de Opinião. Dedicando-me a temas de relações internacionais, assunto é que não falta, mesmo porque toda semana alguém resolve atacar os Estados Unidos (não lá – pelo menos depois do 11 de setembro -, mas no Iraque, no Afeganistão e pelo mundo afora) ou aqui por perto o Chávez ou os Kirchners aprontam alguma. Hoje, contudo, o tema são os leitores que duplamente me honraram na última semana, primeiro ao lerem o texto “Chacinas cariocas e as olimpíadas” (título violento demais, feito no calor da reação diante dos ataques das gangues que, então, deixaram doze vítimas, transformadas em trinta e seis depois do troco da polícia); segundo por terem decidido participar. O ofício do escritor é sempre solitário, mas ele ganha vida quando quem lê se emociona, entristece ou simplesmente se motiva.
Juan Daniel diz que concorda com a maioria das críticas e me pede para oferecer soluções, tornando-me mais construtor. Não é desculpa, mas o espaço de um artigo, normalmente sessenta linhas, em geral só permite descrever os fatos e comentá-los, por vezes desenhando caminhos para que cada um então se posicione. Não escrevo para impor uma ideologia qualquer ao leitor, e sim para ajudá-lo a compreender o que se está passando na vida e no mundo, pois este é o verdadeiro espírito do jornalismo. Faço mais ou menos o oposto ao Mangabeira Unger com seus escritos tonitroantes e definitivos, estilo sabe-tudo, mas que depois, quando lhe acenam com alguma vantagem de peso, desmente tudo o que disse e passa a dizer o oposto, sempre com a mesma energia.
 Gostaria de ter soluções para o caso do Rio de Janeiro, que tanto as necessita. Quem sabe se votassem melhor? Votar é importante e com isso tento responder ao Jorge Pimentel que pergunta se sou do DEM ou do PSDB. Nem desses, nem dos outros, embora ache que os cariocas poderiam escolher um pouco melhor seus governantes, ao invés de continuarem reagindo na base da gozação, elegendo Cacarecos ou um festivo qualquer (depois de tentarem o Moreira, César Maia, Garotinhos, os atuais e tantos outros, quase elegeram o Gabeira). A diferença com o caso de Curitiba é gritante. Independente das opções políticas de cada um, a população curitibana tem optado por quem é do ramo, não sendo à toa que a cidade serve de exemplo para todo o país. Agora mesmo, exportou o ex-prefeito Taneguchi para Brasília, onde ele tenta dar jeito num dos sistemas de transporte mais ineficientes das nossas grandes cidades. Por enquanto, diga-se a verdade, só há obras por toda parte infernizando o dia-a-dia dos moradores, mas a promessa é de que tenham fim no ano que vem, em tempo de ajudar o governador a ser reeleito. Sobre os partidos, já fui eleitor de cabresto do velho PCB, depois virei brizolista como filho criado na divisa do Rio Grande com Santa Catarina, fiel ao pai getulista. Desse tempo, ficou pelo menos o ensinamento de não ter filiação partidária nem ajudar a candidato de direita ou que notoriamente não tenha proposta alguma.
Outro comentário muito interessante, uma pena que sem assinatura, considera que ao revolver o caldo dos tiroteios da cidade maravilhosa e estranhar a realização lá da Copa do Mundo e das Olimpíadas, nada mais fiz do que relatar o óbvio. Às vezes tenho sido acusado do contrário. Quando, numa das primeiras análises sobre a crise de Honduras, publicada também no Globo Online, expus uma posição diversa da veiculada pela grande mídia, explicando que a Constituição previa tanto a remoção de Zelaya quanto a escolha de Micheletti e a realização das eleições de novembro próximo. Embora dezenas de e-mails tenham concordado com o texto, foi o suficiente para que me acusassem de desafiar a versão do óbvio ululante, pela qual se tratava sem dúvida de um golpe a justificar até mesmo a intervenção da embaixada brasileira. Agradeço também as valiosas contribuições de Victor, Ivair Fritzen, Jorge Pimentel, Márcia Del Frari, de tantos outros e do Vanderlei de quem é a afirmativa de que os investimentos para os jogos do Rio serão algo que nosso país jamais vai esquecer. Só não concordo com uma sugestão de “colocar o exército para atuar”. Pela força nada se resolve. O atual governador do Rio tentando imitar o colombiano Uribe declarou guerra ao tráfico, às gangues, às milícias e sabe-se lá ao que mais. O resultado, segundo os especialistas, é que a criminalidade está sendo contida em São Paulo (mesmo longe do desejado) que prende os bandidos enquanto no Rio, onde eles são executados, agiganta-se e se torna mais e mais agressiva.       


 


Vitor Gomes Pinto
Escritor. Analista internacional