Na Faixa de Gaza: guerra para Obama ver

Bem Paraná

O grupo que comanda Israel, o Kadima do ainda 1º Ministro Ehud Olmert e o Partido Trabalhista do Ministro da Defesa Ehud Barak, decidiu aguardar a posse de Barack Obama bombardeando e invadindo com tropas e tanques a Faixa de Gaza. Não por coincidência, o país está às vésperas de eleições (fevereiro) e a atual chanceler Tzipi Livni vê seu favoritismo decair diante do crescimento da candidatura de Barak que comanda a guerra. Às margens do Mediterrâneo o sofisticado poderio militar israelense não encontra obstáculos em sua ofensiva total que já alcançou Rafah na fronteira com o Egito, logo depois que o inglês Tony Blair passou por lá e declarou que a comunidade internacional deseja dialogar, mas primeiro é preciso fechar os túneis. Na verdade, é a resistência subterrânea que mantém o poder palestino em Gaza, permitindo a livre circulação dos 20 mil combatentes do Hamas no estreito território de 360 km2, ou abastecendo-o com armas e alimentos pelos túneis que ignoram o bloqueio em Rafah.
Há forte desequilíbrio de forças. O Hamas, que administra a Faixa de Gaza (1,5 milhão de habitantes), ataca sistematicamente o sul de Israel com foguetes Katyusha, uma plataforma de lançamento em geral acoplada a caminhões. Têm limitada potência e alcance (20 a 40 km), sendo montados quase artesanalmente embora sua tecnologia tenha melhorado desde o primeiro modelo usado pela União Soviética em 1941. O objetivo do Hamas, de manter-se como um ator político a ser levado em conta e provocar a irada e drástica reação israelense, foi atingido. Já Israel diz que sua estratégia, não de curto prazo, é acabar com o controle do Hamas sobre Gaza exigindo que este reconheça o estado judeu, renuncie ao confronto armado e aceite os acordos já negociados com o Fatah. Quer demonstrar ao Hamas que pode existir um mundo pior que o do bloqueio econômico, imposto há mais de dezoito meses a Gaza (deve continuar após a atual guerra) e que impede ou condiciona o acesso da população a alimentos, materiais de construção, medicamentos, água, eletricidade, combustíveis, fazendo da vida um inferno na esperança de que os moradores se revoltem e expulsem o movimento que os governa.
Analistas afirmam ser impossível derrotar por completo o Hamas e que se tal acontecesse seria substituído por algo ainda mais agressivo, no estilo Al-Qaeda. Nessa luta sem fim, Israel está dizendo a Obama que os EUA não podem abandoná-lo. Desconfiam do ex-general James Jones, novo assessor de segurança nacional, um crítico de suas posições, e não têm certeza se Hillary Clinton será uma Secretária de Estado tão submissa quanto o foi Condy Rice. A ONU, forçada a retirar-se depois de ver suas escolas e veículos de ajuda humanitária serem atacados, faz um papel mais lamentável que o costumeiro.               


Vitor Gomes Pinto
Escritor. Analista internacional