Enquanto a crise volta a ameaçar a Europa e a boa parte do Ocidente, a China se torna a segunda maior economia do planeta, com um PIB de 1,33 trilhões de dólares, ultrapassando o Japão que parou na marca dos US$ 1,28 trilhões. A razão está no consistente crescimento chinês em torno dos 10% (fenômeno repetitivo na última década), contra míseros 0,1% da economia japonesa no último trimestre. Neste caminhar, estima-se que em 2030 os Estados Unidos também serão alcançados. O mercado interno de cada país terá um papel decisivo. Hoje a população chinesa é de 1,33 bilhão de habitantes, com a Índia – outra gigantesca economia em plena expansão – em segundo lugar com 1,17 bilhão, os EUA em 3º com 310 milhões e o Japão em 10º com 127 milhões. Para 2030 os números serão respectivamente de 1,39 – 1,46 – 373 e 113, ou seja, haverá mais indianos do que chineses e os japoneses terão diminuído em número (o Brasil, com PIB de US$ 1,6 trilhão, no mesmo período saltará de 201 para 240 milhões de habitantes). Acrescente-se que do ponto de vista demográfico a China é um país em processo de acelerado envelhecimento e de forte urbanização, ao ponto de que os residentes em suas cidades dobrarão nos próximos quinze anos. Outra fonte de incerteza para o futuro está no crescimento industrial e no aumento dos automóveis nas ruas de Pequim, Shangai  e demais cidades de médio e grande porte, multiplicando o desequilíbrio ambiental causado por uma maior emissão de gases de efeito estufa. Nem os melhores analistas se arriscam a afirmar que a expansão da economia será capaz de compensar os problemas que ela própria causa.
No lado de cá da Terra, 56% dos norte-americanos declaram-se insatisfeitos e desaprovam a gestão de Barack Obama, exatamente em função das instabilidades econômicas dos últimos tempos. Não obstante, reconhecem os méritos do primeiro presidente negro de um país que foi devastado pela guerra civil racial no século XIX. Afinal de contas, Obama conseguiu aprovar a reforma da saúde que promete recolocar no mercado a 32 milhões de pessoas que não possuíam plano de saúde, além de impedir que as seguradoras se livrem de doentes, inclusive os terminais, por motivos financeiros. Outros três êxitos de Obama vêm sendo valorizados. O primeiro é o cumprimento da promessa de retirada das tropas do Iraque que até o final do mês serão reduzidas de 140 mil para 50 mil homens; o segundo é a sanção da Lei Dodd-Frank que cria um inusitado mecanismo de controle do mercado financeiro e do uso de cartões de crédito; e em terceiro lugar a nomeação para a poderosa Suprema Corte de Justiça de duas jovens mulheres: Sonia Sotomayor de 56 anos (a primeira de origem hispânica) e Elena Kagan de 50, nos lugares dos ultraconservadores David Souter de 70, nomeado pelo Bush pai, e John Paul Stevens de 90 que vem da administração Gerald Ford.
As eleições de novembro, quando serão renovadas as 100 cadeiras do Senado e um terço das 435 da Câmara, representam um sério desafio para os democratas, levando Obama, finalmente, a falar sobre outra reforma fundamental na sociedade americana, a regularização de pelo menos 11 milhões de imigrantes ilegais, mesmo porque – como ele mesmo afirmou – seria impossível localizar e deportar a todos. Disso depende, em grande parte, o desejado voto hispânico, mas nenhum avanço concreto foi obtido até agora. O presidente nem mesmo denunciou a legislação fascista aprovada no Arizona, pela qual o fato de não ter documentos foi transformado em delito sujeito a duras punições, além de obrigar os trabalhadores imigrantes a portar seus contratos de trabalho. Uma lei de imigração para ser aprovada depende do apoio republicano, difícil de ser viabilizado em período eleitoral.
Deixando à parte os grandes do mundo, é bom lembrar que uma significativa mudança está sendo anunciada no Egito, uma nação chave no jogo político do Oriente Médio e o mais populoso dos países asiáticos (80 milhões de habitantes). Trata-se da saída de Hosni Mubarak da presidência, onde está desde 1981, quando Anwar el-Sadat foi assassinado. Desde então vigora o estado de exceção e as eleições, uma inovação recente, servem somente para consagrar a quem está no poder. Hosny foi reconduzido três vezes por meio de referendos confirmatórios e recebeu 88% dos votos no pleito de 2005. Aos 84 anos e sob insistentes boatos de que estaria com câncer, talvez não concorra em 2011. Quem for indicado pelo PDN, Partido Democrático Nacional, oficialista, sem dúvida será eleito. Especula-se que será Omar Suleiman, o chefe do Serviço Secreto, ou Gamal Mubarak, filho de Hosny. A organização oposicionista Irmandade Islâmica está na ilegalidade e tem parte de seus líderes presos. Depois de viver no exterior por quase três décadas, Mohamed el-Baradei, prêmio Nobel da Paz e ex-diretor da Organização Internacional de Energia Atômica da ONU, retornou ao país com a intenção de concorrer pela recém criada Associação Nacional para a Mudança como candidato independente, algo praticamente impossível no Egito. Passou a ser perseguido e se queixa de que não pode montar comitês políticos, nem arrecadar fundos e muito menos reunir pessoas. Tem feito algumas visitas para conversar sobre propostas de governo, mas quando vai embora a polícia vem e prende alguns dos seus interlocutores. Ainda assim, o mero surgimento de uma liderança alternativa com alguma densidade popular é uma grande e festejada novidade na terra dos faraós e deve ter impacto na vizinhança.         
        
Vitor Gomes Pinto
Escritor. Analista internacional