O favoritismo de Obama

Bem Paraná

Em relação às eleições presidenciais de novembro de 2012, os Estados Unidos vivem hoje uma situação paradoxal. Enquanto, na melhor das avaliações, 52% desaprovam a gestão de Barack Obama, nas bolsas de apostas suas chances são de 11 para 10. Ou seja, caso você apostar 10 dólares de que ele será o próximo presidente, receberá de volta apenas 11 dólares. Todos seus potenciais adversários republicanos são indiscutíveis azarões. O melhor deles, Mitt Romney, paga 80 por 10.
Os democratas mais pessimistas citam as estatísticas: nenhum presidente, desde Franklin Delano Roosevelt, reelegeu-se com taxas de desemprego superiores a 7,3% e a atual chega a 9,1%. Lembram que a economia vai mal, a reforma da saúde não deslancha, promessas como o fechamento da base de Guantánamo não foram cumpridas. Já os otimistas falam no espetacular êxito da política anti-terrorismo que liquidou Osama Bin Laden em maio último e, principalmente, divertem-se com as trapalhadas intermináveis dos candidatos republicanos, cujo resultado tem sido minar as possibilidades de vitória da direita. Obama, no auge da crise econômica, conseguiu caracterizar seus adversários como sendo sempre do contra, incapazes de superar a própria raiva em benefício do país ao negarem apoio no Congresso a medidas essenciais para superar o déficit do orçamento.
Dentro de seis semanas começam, por Iowa, as primárias para a escolha do candidato do Partido Republicano, num processo que envolverá cerca de 20 milhões de eleitores nos 50 estados, cada um indicando os seus delegados à convenção nacional de 27 de agosto. O resultado é imprevisível, dado o festival de disparates e escândalos proporcionado pela campanha, fazendo com que a cada pesquisa semanal surja uma nova cara com aparentes chances de vitória, até que os holofotes lhe caiam em cima, revelando suas fraquezas.
Conforme a última pesquisa de opinião do Instituto Gallup, o ex-governador de Massachusetts Mitt Romney permanece à frente com 20% das intenções de voto. É o mais conhecido (perdeu por pouco a candidatura para McCain em 2008), com fama de bom administrador, mas tem pouca consistência, muda de opiniões a toda hora e para os radicais do partido é liberal demais por ter feito uma reforma de saúde em seu estado parecida com a depois aprovada por Obama, além de ser considerado pelos protestantes como um não cristão pelo fato de ser mórmon. É a mesma acusação lançada a Jon Huteman, ex-governador de Utah. A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias não responde às acusações de que não passa de um culto, dizendo que não se mete em política, só em assuntos que envolvem a moral.
  Em segundo lugar, com 19% (avançou 7 pontos neste mês), está Newt Gingrich que ainda sofre rejeição por ter conduzido em dezembro de 1989 na Câmara dos Deputados o impeachment do presidente Bill Clinton – logo anulado pelo Senado – devido às aventuras amorosas com Monica Levinsky. O pastor Herman Cain é o 3º com 16% e está em viés de baixa devido às acusações de quatro mulheres de assédio sexual quando era presidente da Associação Nacional de Restaurantes, embora já esteja no terceiro casamento. Empresário de sucesso e negro, atuou como lobista de entidades culpadas pela crise das hipotecas e agora pediu proteção ao Serviço Secreto por supostas ameaças à sua vida.
Os demais não parecem muito melhores. Rick Perry, governador do Texas, que por suas origens humildes representa o ideal americano de sucesso, anda sempre com um revólver carregado no cinto, mas no último debate esqueceu o nome das Departamentos de governo que prometeu fechar caso eleito. Michele Bachmann, a mais votada nas prévias informais de Iowa, deputada por Minnesota e pouco experiente é cristã devota, tem toda a simpatia do Tea Party – a ala ultra-direitista do Partido Republicano -, diz que o Papa é o anticristo, rechaça a teoria da evolução e tem um hospital psiquiátrico que pratica terapias de cura de homossexuais.
Todos os que buscam a indicação republicana são contra o aborto, o casamento entre pessoas do mesmo sexo e a reforma da saúde. Tenho um passado conservador e me orgulho disso diz Rick Perry, mas o grupo dos mais velhos (são os que mais votam) prefere Gingrich e Romney. Continuam sem definir se concorrerão o ex-prefeito de New York, Rodolph Giuliani e a ex-governadora do Alaska, Sarah Palin, que não parece disposta a trocar sua milionária carreira na mídia pela aventura incerta e desgastante da luta de foice que sem dúvida serão as primárias republicanas.   

 

Vitor Gomes Pinto
Escritor. Analista internacional