E Barack Obama ganhou de novo, como em Iowa, e igualou-se a Hillary Clinton nas primárias, com a vantagem de ter um maior número de delegados à convenção nacional do Partido Democrata. Mesmo assim, sua candidatura à presidência dos Estados Unidos continua sendo uma grande improbabilidade.
As primárias da Carolina do Sul marcaram ainda mais as fronteiras entre as duas apostas dos Democratas para a sucessão de Bush. Com um comparecimento recorde de 530 mil votantes, o triunfo de Obama foi arrasador, superando com folga a soma dos apoios dados a seus adversários (55% contra 27% de Hillary e 18% de John Edwards), mas ele obteve 80% dos votos dos negros e só 25% dos brancos, num pleito que teve a presença de uma leve maioria dos primeiros.
Este é o ano em que os EUA escolherão seu 44º Presidente, repetindo a tradição iniciada em 1789 com George Washington. Ao que quase tudo indica, após a desastrada gestão de G.W. Bush os Republicanos perderão o comando e pela primeira vez na história o país será dirigido por uma mulher ou por um afro descendente. Às vésperas da disputa de New Hampshire, ganha por Hillary, uma foto distribuída pela agência Reuters ganhou a primeira página de muitos jornais, retratando a avó paterna de Barack, Sarah Onyango Obama, uma saudável matrona de pele negra num colorido vestido tipicamente africano, debulhando espigas de milho numa aldeia do Quênia, sob o olhar atento de uma vaca. Não havia dúvida quanto à mensagem subliminar: você votaria no neto desta senhora?
Os americanos estão cansados do Iraque, do Afeganistão e da desmoralização do dólar, mas também parecem querer livrar-se das famílias Bush e Clinton que os governam há dezenove anos. O clima é favorável a uma candidatura inovadora, que prometa a mudança, como aconteceu em 1992 quando Bill Clinton se impôs, e quem representa a quebra de parâmetros agora é Barack Obama. Tudo estaria bem se não fosse o fato de que ele precisa, além de superar o problema da cor da pele numa terra onde o racismo continua no coração de muitos brancos, derrotar não um e sim dois poderosíssimos adversários: o casal Clinton com a tremenda máquina eleitoral montada durante os oito anos da última administração democrata e que continua viva e eficiente, sustentando a campanha de Hillary desde 2.000, quando ela se elegeu para o Senado.
No complexo sistema eleitoral norte-americano, os 50 estados e o Distrito de Columbia realizam “primárias” para indicar delegados que escolherão o candidato de cada Partido, num processo que se encerra em 3 de junho em Montana e Dakota do Sul. No caso dos Democratas, o número mágico, sinônimo de vitória, é 2.025: a metade mais um do total de 4.049 delegados (80% provenientes das primárias, mais os superdelegados, como líderes partidários, senadores).
Vigora a regra da proporcionalidade, pela qual cada candidato obtém o número de delegados correspondente à sua fatia na votação. O momento crucial da campanha acontece em 5 de fevereiro, a Super Terça, com primárias em Nova York, Califórnia, Illinois, Nova Jersey e em dezenove outros estados. A Convenção Nacional, a 28 de agosto em Denver, apenas sacramenta a escolha e a partir daí restam cerca de três meses para as eleições gerais, nas quais toda a população habilitada pode votar, embora não no candidato e sim em 538 “eleitores estaduais” aos quais cabe, 41 dias mais tarde, escolher o Presidente. Quem receber 270 votos dirigirá os destinos da mais poderosa nação do planeta até o final de 2.012.
Barack Obama declarou que em suas andanças não viu uma Carolina do Sul branca ou negra, viu apenas a Carolina do Sul. Bate na tecla de que esta é uma eleição do passado (os Clinton) versus o futuro. O New York Times de domingo destaca a declaração de Caroline Kennedy, a filha de JFK: “quero um presidente como meu pai e é Obama”. Depois de superada a batalha interna, há que derrotar o candidato republicano que, apesar de Bush, ainda tem a seu lado cerca de metade da população.
* Escritor, analista internacional