Foi um golpe de mestre, um ás tirado da manga num momento crucial da batalha entre republicanos e democratas em torno do presidente que os Estados Unidos elegerão no próximo dia 4 de novembro. Com a escolha de Sarah Palin, até então uma desconhecida ex-prefeita de Wajilla e governadora do longínquo Alasca, para vice-presidente na chapa republicana, as tendências se inverteram como num passe de mágica. Na mais recente pesquisa de opinião, conduzida pelo Instituto Gallup junto com o jornal USA-Today, John McCain aparece com 54% das preferências dos eleitores contra 44% de Barack Obama. Nada que não possa ser revertido mais adiante, mas é inegável que a juventude de Obama e a sua plataforma centrada na mudança já não são suficientes para assegurar-lhe a vitória. Os republicanos estão enfeitiçados por Sarah e apostam tudo não mais em McCain e sim na dupla. “Eles mudarão Washington” é o novo lema da campanha, consolidando uma estratégia que busca tirar do adversário a exclusividade da bandeira da renovação. Até aqui Obama enfrentava a McCain e agora precisa derrotar também a Sarah Palin.
Eleição americana tem dessas coisas. Primeiro, gastam uma fortuna durante um ano para escolher os candidatos a presidente nas “primárias” e depois permitem que cada cúpula partidária indique num conchavo dois meses antes do pleito quem será o vice, mesmo sabendo que este tem grande probabilidade de vir a comandar a nação. Sarah Palin, em caso de impedimento de McCain, seria a presidente capaz de conduzir os destinos da nação mais poderosa do mundo? Não foi esta a preocupação dos delegados da convenção republicana, por sinal um típico espetáculo de beleza americana feito sob medida para arrasar com os democratas, cheio de louras platinadas e seus atléticos companheiros sempre atentas ao orador da ocasião que era aplaudidíssimo quando jurava dedicação aos valores da pátria ou provocava vaias ao criticar o adversário. Ela é ultraconservadora, mas apenas um pouco mais do que a maioria dos republicanos, e uma garantia de que as tradições serão respeitadas. Na verdade, Sarah, aos 44 anos, representa, ao lado da numerosa família (com seus altos e baixos, parecida à família americana média como já dizem os novos fãs), a dose de energia e de vivacidade quase adolescente que evidentemente faltava aos 72 anos de McCain e que, no outro lado, sobrava tanto na figura de Obama quanto na da conservada Hillary Clinton. Trata-se de um bom truque de mídia que está dando resultado no curto prazo. Já os democratas acharam que precisavam de alguém com idade e, portanto, respeitabilidade, para melhorar suas chances de chegar à Casa Branca. Assim, optaram por um senhor de 65 anos para vice, o senador Joe Biden do pequenino estado de Delaware (0,3% da população dos Estados Unidos), até aqui com mínimo impacto.
As promessas de campanha de Obama ganham agora tons mais concretos em temas de interesse para a economia interna: quer acabar a dependência de petróleo do Oriente Médio em dez anos e reduzir impostos de 95% das famílias trabalhadoras americanas. Conta com sustentação da poderosa AFL-CIO (Federação Americana do Trabalho) que representa 10,5 milhões de trabalhadores de 56 grandes sindicatos, colocou US$ 50 milhões no orçamento para doações aos democratas e promete lançar 250 mil voluntários na campanha. Esta é a maior fonte de preocupação, em relação aos democratas, para a América Latina, devido ao histórico protecionista à mão-de-obra americana contra a de outros países e ao apoio que a AFL-CIO tem dado a movimentos antiesquerdistas e pró-EUA no continente. “Votaremos em Obama porque ele se oporá a acordos comerciais com outros países caso não protejam os empregos dos americanos”, declarou J. Sweeney, presidente da Federação. McCain assegura que criará mais empregos que seu oponente, sem explicar porque o governo atual de seu partido não o fez. Quem vencerá em novembro? O eleitorado é meio a meio. Faça sua aposta. 


 


Vitor Gomes Pinto
Escritor. Analista internacional