Há três hipóteses principais acerca da insistente notícia de que Osama bin Laden estaria morto. A primeira é de que a informação é verdadeira; a segunda de que se trata de invenção diversionista da própria suposta vítima; enquanto a terceira, para variar, afirma que é mais uma criação de George Bush, interessado em recuperar prestígio interno para as eleições de meio de mandato que acontecerão nos EUA em novembro próximo.
O leitor pode fazer sua opção, considerando que as chances de acertar são quase iguais: 33% para cada. A exemplo de boatos infundados anteriores, a origem não é segura, resumindo-se desta feita a uma fonte isolada da inteligência francesa que teria sido informada pelas forças de segurança da terra natal do terrorista mor, a Arábia Saudita. Ninguém coloca a mão no fogo, mas no último fim de semana os governos do Paquistão, Afeganistão, Estados Unidos, França e mesmo os sauditas trataram de dizer que não possuíam qualquer comprovação do fato.
O presidente afegão, Hamid Karzai, chegou a afirmar que bin Laden desde os atentados de 11 de setembro, há cinco anos atrás, não esteve no país e nele hoje não se encontra, embora não saiba seu endereço de residência. Jornais e emissoras de TV da região se contentam em repetir as mesmas informações difundidas pelas grandes redes noticiosas e mesmo a sempre bem informada Rede Al Jazeera nada mais faz do que apostar na terceira hipótese, a da culpa de Bush, não sem antes confirmar que também estão desaparecidos os mais próximos auxiliares do terrorista, Ayman al-Zawahiri e o taliban Mullá Omar.
Há um relativo consenso no meio das forças internacionais de segurança de que a rede al-Qaeda sofreu golpes muito severos depois do 11 de setembro, tendo seus santuários no Afeganistão destruídos e sendo obrigada a trabalhar de maneira descentralizada e com efetivos bem mais reduzidos porque os seminários talibãs e paquistaneses que abertamente formavam seus quadros já não mais existem, excetos alguns na clandestinidade.
Isso ocorre, contraditoriamente, quando o ódio muçulmano a Bush e aos Estados Unidos alcança seu auge, em princípio comprovando as teses de bin Laden. Pelo que parece, ao lado da oposição ao papel dos EUA com base nos acontecimentos do Iraque, Palestina e Líbano para só citar as agressões mais recentes, desenvolveu-se em paralelo uma rejeição aos métodos do terrorismo radical, provocando crescente isolamento dos seus líderes.
A região onde estaria a liderança da al-Qaeda, na fronteira entre Paquistão e Afeganistão, favorece aos perseguidos por sua geografia montanhosa e pela tradição guerreira e libertária do povo Pashtun que é a etnia predominante, mas a pressão implacável e o cerco permanente exercidos por milhares de oficiais e soldados norte-americanos apoiados pelos governos locais, cerceia de maneira quase absoluta as chances de movimentação de quem ali tem seus esconderijos. Bin Laden, caso permaneça vivo, tem hoje 49 anos.
Com seu um metro e noventa e três, sempre foi magro e nos bons tempos não pesava mais do que 73 kg. Agora, diante de condições de vida precárias e mudando de morada sem sossego, tem sua saúde submetida a constantes provas de fogo. Não é de estranhar que seja ameaçado por endemias com alta incidência nas montanhas asiáticas e típicas da sobrevivência em reclusão e da má alimentação.
Dessa feita, foi a vez da febre tifóide, denunciada (e não confirmada por fontes independentes) pelo jornal regional francês L’est Republicain como a causa mortis. Causada por uma bactéria, o Bacilo Tifóideo ou Salmonella typhi,é uma doença infecciosa que pode matar até cerca de 15% de suas vítimas quando não há diagnóstico oportuno nem tratamento adequado que exige antibióticos (cloranfenicol e, se não der certo, ampicilina e amoxacilina). Ocorre em áreas sem saneamento básico e é transmitida por alimentos ou água contaminados.
Segundo a Organização Mundial da Saúde, constatam-se de 25 a 30 milhões de casos em todo o mundo a cada ano (600 mil mortes), dos quais 60% na Ásia, incluindo a área onde estaria bin Laden e seu grupo, e 35% na África. No começo é confundida com a malária e depois com a tuberculose, mas sem um médico experiente por perto o diagnóstico dificilmente é feito na hora certa. Depois de 15 dias quando a doença está sendo incubada e não há sintomas, vem a febre cada vez mais forte acompanhada por dores de cabeça e prostração, exigindo hospitalização em geral quando surgem manchas róseas no tórax, a roséola tífica.
Quando a pessoa está em boas condições físicas o mal regride após quatro semanas, mas no suposto caso de bin Laden o acesso a cuidados médicos era impossível e o bacilo teria tido liberdade para prosseguir em seu trabalho de ataque às estruturas do intestino até perfurá-lo.
Uma vez que o fim de bin Laden poderia ter acontecido em 23 de agosto, entre especulações e falsas pistas é possível prever que a confirmação do fato irá requerer muitos anos. Nesse ínterim, saqueadores, aventureiros, generais e soldados das mais distintas nacionalidades dedicar-se-ão a uma procura mórbida atrás do tesouro: os vinte e cinco milhões de dólares oficialmente oferecidos pelo Departamento do Estado dos EUA a quem capturar ou der informações acerca do paradeiro, vivo ou morto, de Osama bin Laden, o mais procurado terrorista da face da Terra.