Graças à competência nacional e aos bons ventos trazidos pelo euro, a Itália transformou-se na 7ª. maior economia do mundo (logo após Estados Unidos, Japão, Alemanha, China, Reino Unido e França – o Brasil está em 10º) e o PIB já superou a barreira dos 2 trilhões de dólares. Com um território pobre em matérias-primas, embora ótimo para o vinho e para a grappa, o país industrializou-se a partir do norte, sendo decisivo tanto na constituição quanto no fortalecimento da União Européia. Nessa terra da arte e de incríveis belezas naturais, tudo seria perfeito não fossem os políticos. No momento, os italianos assistem ao melancólico fim daquela que pode ser a mais curta legislatura de sua história republicana (é a XV, iniciada em 17 de maio de 2006, ainda competindo com a XI de Ciampi e Amato que durou 21 meses entre 1994 e 1996), graças ao império da Lei Eleitoral, denominada de La Porcata (a porcaria) por seu próprio autor, Alberto Calderoli, da direitista Liga do Norte. A Lei possibilita que 33 agremiações políticas estejam representadas no Parlamento e, ao forçar a formação de dois grandes blocos, concedeu força desproporcional aos partidos nanicos. Novas eleições legislativas acontecerão dias 13 e 14 de abril próximo.
Desde 1948 a Itália já teve quinze Legislaturas, cinqüenta e seis governos e onze presidentes (além de quatro interinos), nada indicando que o processo de sobe e desce de lideranças fugazes, que por vezes só duram o tempo de uma estação, possa ser interrompido a curto prazo. Romano Prodi renunciou à presidência do Conselho de Ministros, depois de um processo de desgaste que liquidou a popularidade por ele obtida em seu primeiro governo e como presidente da União Européia, por ser incapaz de administrar as desavenças na coalizão de sete partidos de centro e de esquerda que o sustentavam. Também caiu porque propôs reformas ousadas no sistema de aposentadorias e na política fiscal. Quando começou a discutir a política norte-americana e a presença de tropas no Afeganistão e no Iraque, perdeu o apoio dos liberais-democratas e da União de Democratas de Direita e de Centro, dois pequenos partidos com apenas seis representantes no Senado (há 315 senadores e 650 deputados), onde lhe garantiam uma escassa maioria de dois votos. O Presidente da República, Giorgio Napolitano (82 anos, do Partido dos Democratas da Esquerda), tentou constituir um novo governo para fazer a necessária reforma eleitoral, fracassando pela pressão da direita por eleições e pela desconfiança dos nanicos de que seria imposto um mínimo de 5% dos votos para fazer parte do Parlamento, o que os inviabilizaria.
Os partidos políticos tradicionais desapareceram e agora há uma tentativa de reorganização em torno de dois novos grandes grupos, a Cosa Rossa ou Sinistra Arcobaleno (Coisa Vermelha ou Esquerda Arco-Íris) e a Cosa Bianca (Coisa Branca) ou Partido da Liberdade, esta reunindo as forças da direita sob o comando do milionário e megaempresário das comunicações Silvio Berlusconi, presidente do Milan.
Há poucas dúvidas de que a direita voltará ao poder com Berlusconi, cujo maior feito foi ter sido o único 1º Ministro a governar durante uma legislatura completa (a XIV, de 2001 a 2006). Seu adversário será o atual prefeito da cidade de Roma, Walter Veltroni, secretário-geral do recém criado Partido Democrata (PD), que pretende correr só, sem alianças, numa tentativa de afastar-se da corrupção endêmica que contaminou inclusive o governo de Prodi (é o presidente do PD, mas já comunicou que desta feita não concorrerá), dizendo que pretende combater a “antipolítica”, posicionando-se como uma esquerda reformista, não radical. A votação do orçamento para as missões militares italianas no Afeganistão e no Kosovo, um tema espinhoso que divide violentamente a esquerda e a direita, será o primeiro teste da XVI ou Sedicesima Legislatura, que se iniciará sob a quase certeza geral de que não dará certo, pois o regime de proporcionalidade que antes derrubou a Berlusconi e agora a Prodi, está plenamente vigente e impede que o vencedor obtenha uma maioria sólida e duradoura no Senado.
Vitor Gomes Pinto
Escritor. Analista internacional