O poder costuma exercer uma irresistível atração sobre quem o ocupa e não é raro encontrar aqueles que se desesperam ao se aproximar o momento do fim do mandato e decidem, desafiando a tudo e a todos, permanecer na cadeira presidencial. A estratégia é sempre a mesma: acumular poder militar e político, anular o Judiciário e amordaçar ou cooptar a imprensa e a oposição. As táticas variam de acordo com as circunstâncias.
Na Argentina, sempre submetida a líderes carismáticos e com viés ditatorial, o comando é do Partido Justicialista (criado por Juan Domingo Perón) desde 1946, entremeado por breves intervalos oposicionistas e pelas inevitáveis Juntas Militares. Em 2003 assumiu Néstor Kirchner com um engenhoso plano de permanência pelo menos até 2019. Assim, saiu em 2007 elegendo sua esposa Cristina Kirchner que deveria devolver-lhe o posto agora, em 2011, para que pudesse comandar o país por outros dois períodos, de 4 anos cada. Estava dando certo até 27/11/2010 quando Néstor faleceu. Cristina assumiu e até hoje não retirou o vestido preto de luto a simbolizar a devoção ao marido e ao justicialismo. Será reeleita em 1º turno no próximo dia 23. Nas províncias o predomínio do peronismo é quase total: a previsão é de chegar a vinte governadores do total de vinte e quatro.
Não tendo a mesma tradição dos partidos seculares de argentinos e mexicanos, o PT brasileiro busca o mesmo caminho. Sem possibilidade de eleger a esposa do presidente, pois dona Marisa não teria perfil para tanto, a escolha recaiu em Dilma Rousseff, uma militante surpreendentemente bem articulada. A idéia é que ela devolva o cetro para Lula, hoje nos bastidores e que, assim, conseguiria ficar no poder por vinte anos (seus 8, os 4 de Dilma, mais 8 do novo mandato), mais tempo do que o velho Getúlio e só um ano menos do que a ditadura militar.
Em novembro a vez é da Guatemala e da Nicarágua, encerrando o ciclo 2010/2011 de eleições latino-americanas, que teve alternâncias para a centro-direita no Chile, Honduras, Colômbia, Panamá, Costa Rica e para a centro-esquerda no Uruguai, Peru e El Salvador, ademais da eleição do cantor de kompas (típico ritmo centro-americano) Sweet Micky para a presidência do Haiti. Na Guatemala a opção é entre a direita militar com o general e favorito Otto Perez Molina e a direita radical com o empresário Manuel Baldizán que propõe mano dura contra a insegurança. Enquanto isso, Daniel Ortega da Frente Sandinista deverá vencer ao empresário do setor radiofônico Fabio Gadea que tem apoio dos liberais e da União Nacional de Empregados. O artigo 147 da Constituição não permite a reeleição e Ortega não poderia ter sido candidato, mas diante da força policial dos sandinistas os nicaragüenses encaram o futuro com impotência e conformismo. 
Nas Américas, 2012 é a vez dos Estados Unidos, México e Venezuela. Obama debate-se em crescente desespero diante da pressão amordaçante dos republicanos, mas está em campanha pela continuidade, restando-lhe e vantagem de não ter um adversário com carisma para vencê-lo. No México, o PRI – Partido Revolucionário Institucional –, no poder entre 1929 e 2000, está de volta. Depois da vitória arrasadora no pleito de julho último no Estado do México, quando obteve mais de 60% dos votos, poucos duvidam de que o governador que agora deixou o posto, Enrique Peña Nieto, será o próximo presidente. O futuro mexicano é o retorno ao passado. Quanto a Hugo Chávez Frías, os venezuelanos estão conscientes de que ele só poderá ser derrotado pelo câncer que segue sendo combatido pela quimioterapia em Havana. Com o novo período de seis anos, Chávez completará 18 anos e 10 meses no trono. A oposição, uma vez mais, firmou um pacto de união para lançar  só candidato, mas não será fácil escolher entre os governadores de Zulia e Miranda, o prefeito de Caracas, a deputada Maria Corina e o líder partidário Leopoldo López, todos ávidos de poder.
   Por fim, resta a constatação de que a Rússia pertence ao czar Vladimir Putin. O ex-agente da KGB quando presidente de 2000 a 2008 governou sob o regime de democracia sob regência e eliminou os políticos oposicionistas. Tornou-se 1º Ministro de Dmitry Medvedev, considerado para efeitos práticos como um presidente interino. Agora, Medvedev anunciou no congresso do Partido Rússia Unida que o candidato para o período 2012 – 2016 é Putin. Este, ao aceitar, informou que Medvedev será o seu 1º Ministro. Tudo em casa. Os russos parecem acreditar que ao invés de culpado, Putin é um líder cheio de energia e necessário em um país com enormes desigualdades e tomado por corrupção endêmica, pela insurgência islâmica e pelas lutas de fronteira. Gorbachov, aos 80 anos, é dos poucos a reagir. Disse que a Rússia possui reles imitações de sistemas parlamentar e judiciário, cobrando (junto com a Anistia Internacional) a libertação do antigo diretor da empresa petrolífera Yukos, Mikhail Khadorovsky, na cadeia desde 2033 quando criticou o czar.   

Vitor Gomes Pinto
Escritor. Analista internacional