Neste domingo, 29 de novembro, definem-se rumos políticos bastante distintos em Honduras para os próximos quatro anos e no Uruguai para o qüinqüênio vindouro.
A situação é mais preocupante na América Central, região cujo potencial explosivo – sempre com a honrosa exceção da costa Rica – segue presente. O presidente deposto, Manuel (Mel) Zelaya, ao completar dois meses de residência na embaixada brasileira, diz que não sai nem pede asilo, ao mesmo tempo em que não vê problemas em incitar o boicote das eleições. O Brasil desde os tempos de Rio Branco tem na não intervenção nos assuntos de outros países o principal pilar de sua política externa, mas agora o ministro Celso Amorim, esquecendo das lições do patrono do Itamarati, declara que não pode conceder asilo porque não foi solicitado e Zelaya pode ficar o tempo que quiser, agindo como lhe der na telha, como convidado. Enquanto isso, o presidente De Facto Roberto Micheletti tirou licença por uma semana, com o que não presidirá o pleito nacional que escolhe o novo presidente e seu vice, como previsto no artigo 159 da Carta Magna hondurenha pelo qual “as eleições gerais serão levadas a cabo no último domingo de novembro do ano anterior aquele em que finaliza o período constitucional”. O afastamento de Micheletti vai até 2 de dezembro, coincidindo com o dia em que o Congresso decide sobre a restituição ou não da presidência a Zelaya, cujos partidários atacaram à bala o automóvel do procurador-geral de Honduras, Luís Rubi (encarregado dos processos contra Mel), que escapou ileso. Na mesma data está marcada nova reunião da OEA para definir sua posição em relação ao pleito de domingo, mas há poucas ilusões a este respeito, diante da posição sempre parcial do seu secretário-geral, o chileno Miguel Insulza. Afora os países bolivarianos e o Brasil, a Guatemala informou que não reconhecerá os resultados eleitorais, ao contrário do posicionamento do vizinho Panamá e dos Estados Unidos. O acordo denominado de San José-Tegucigalpa, patrocinado pelo embaixador norte-americano, gorou quando Zelaya não indicou representantes para o governo de coalizão que aceitara pouco antes e voltou a opor-se radicalmente às eleições, pois sua realização e a posse do eleito em janeiro acabam com suas chances de perpetuar-se no poder repetindo as façanhas de Chávez, Morales e Correa. A instabilidade do quadro político e as crescentes ameaças da esquerda fazem com que apenas metade dos 4,6 milhões de eleitores devam comparecer às urnas, provavelmente para eleger o fazendeiro oposicionista de 61 anos Pepe Porfírio Lobo, do Partido Nacional que tem quase 20% de vantagem nas intenções de voto diante do empresário Elvin Santos do Partido Liberal. Os dois grandes partidos hondurenhos revezam-se no poder desde 1982, quando do retorno da democracia ao país. Caso o grupo de Zelaya resolva apoiar os Independentes concorrendo aos 2.897 cargos (em todos os níveis, incluindo vereadores) em disputa, um futuro de paz para Honduras torna-se mais provável.
O favoritismo do senador José Mujica e ministro da economia Danilo Astori se mantém no Uruguai. A Frente Ampla, de esquerda, obteve 48% dos votos no 1º turno e agora tem em média 49% conforme as últimas pesquisas. Já a fórmula do Partido Nacional ou Blanco, com Luís Lacalle e Jorge Larrañaga, saltou de 29% para 41% graças ao apoio do Partido Colorado que, no entanto, só está transferindo parte do capital eleitoral que lhe deu 19% dos votos em outubro. A possibilidade teórica de Lacalle vencer existe, mas é reduzida, dependendo de uma improvável união a seu favor dos indecisos. Os uruguaios detém os melhores índices de educação em toda América e, mesmo assim, para não devolver o comando da nação aos conservadores, deve eleger o populista Mujica, que nunca teve tempo para estudar. Uma  das razões está na esperança de permanecer, segundo o informe agora publicado pela organização Transparência Internacional, com o mais baixo índice de corrupção do continente. A campanha, em sua reta final, assume um caráter cada vez mais negativo e de nível duvidoso. Os candidatos acusam-se a mais não poder e, com isso, a Frente Ampla não cresce e os Blancos caem nas pesquisas. Mujica, em seu estilo de costume, anunciou que enviará uma caixa de viagra a Lacalle. O líder dos Colorados, Pedro Bordaberri e seu vice, o ex-jogador de futebol Hugo de Leon, afinal decidiram percorrer o país em busca de votos para Lacalle. Por estar na dianteira, não confiar no palavreado de Mujica e temer a falta de carisma do vice Astori, a Frente Ampla do atual presidente Tabaré Vasquez cancelou o esperado debate pela Televisão que, se não traria maiores luzes ou novas propostas, exporia o lado pior dos candidatos para diversão geral da nação. 


Vitor Gomes Pinto
Escritor. Analista internacional