Caça
ao diploma de jornalista na inquisição chamada Gilmar
Mendes

A imprensa, também chamada de quarto poder, sempre é
tida como a vilã para os erros da sociedade como se os jornalistas
tivessem responsabilidade sobre a corrupção de políticos
que pulula em Brasília, a compra de votos nos currais do nosso
país, o abuso de poder ou o tráfico de influência.
A verdade estampada nos jornais fere quem não tem compromisso
com a ética e com o uso correto da máquina pública
e de sua responsabilidade com relação à população.
Essa mesma verdade com que os jornalistas são “contaminados”
com certeza incomodou o magistrado Gilmar Mendes, que processa jornalistas
que o criticam e acredita em uma imprensa controlada.
Quem sabe no governo chinês ele fosse feliz ao controlar o que
é noticiado ao mundo. Nem precisamos ir muito longe. Se fosse
braço direito de Hugo Chavez, “el Mendes” teria
carta branca para impor um regime de perseguições a
bel prazer e sem nenhum respaldo legal a cumprir.

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Cozinheiro
sim, com muito orgulho

O ministro do STF — e não foi invenção
dos jornalistas — comparou jornalistas a cozinheiros, alegando
que mesmo havendo a qualificação de “chefs”
de cozinha, o Estado não tem como exigir tal qualificação
em suas refeições. Numa jogada política e cujo
discurso não deve afetar nem jornalistas nem cozinheiros,
porque todos nós temos nosso devido valor e lugar, a verdade
é que, quanto mais se mexe no caldeirão em Brasília
e nas decisões do seu magistrado, mais se exala no ambiente
o odor fétido das brechas jurídicas usadas a fim de
vingança pura e simples.
O poder talvez seja a experiência mais forte para qualquer
ser humano enfrentar. Dê poder a alguém e você
verá quem essa pessoa é de fato. A máscara
– seja qual for – cai e desvenda a real face de quem
está por trás dela.

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Contradições
Em uma época em que o governo federal aposta no Exame Nacional
do Ensino Médio (Enem) numa tentativa longínqua de
excluir o vestibular e quando lança mão de uma estudante
indo às lágrimas dizendo que o sonho dela era fazer
Medicina, que exemplos contraditórios estamos recebendo?
Um país de todos ou um país para quem seguir a cartilha
do bom cidadão, onde bom aqui se entende em concordar com
tudo e fazer vistas grossas ao que não dá certo em
várias áreas da vida em sociedade?
Jornalista não é aquele que só critica, mas
quem também busca sugerir soluções, é
a voz dessa sociedade ao exigir o combate à violência,
ao expor nas manchetes as filas de idosos todas as manhãs
em busca de senha para conseguir atendimento médico, ao brigar
pelo direito dos contribuintes para que seu dinheiro seja bem investido.
Quando o governo estipula regras para regular o estágio que
era usado por muitos empregados para ter mão-de-obra barata,
agora uma decisão do STF vai contra a maré ao potencializar
um fenômeno que já provoca um estrago razoável
na composição das redações dos grandes
veículos de comunicação: a proliferação
de trainees, que agora passam a ser fábricas doutrinando
futuros “jornalistas”.
Ao invés de termos viabilizado a melhoria dos cursos de jornalismo,
de termos criado condições para que os grandes jornalistas
brasileiros se animassem a dar aulas para os jovens aspirantes a
repórteres, chegamos a esse abismo no fundo do qual se comemora
uma derrota.

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Somos
idealistas

Infelizmente nossa democracia é feita de pessoas que dão
carta branca a políticos em troca de comida, cargos políticos
ou nem isso. Quem dera essa fosse uma nação que, ao
menor desgosto, tomasse as ruas em manifestações com
panelaços e muito barulho. Talvez assim o papel do jornalista
fosse de menor relevância na sociedade, já que a população
iria tomar sua posição de fato e de direito como rege
a nossa Constituição. Esse é o perfil do jornalista,
um eterno idealista por uma sociedade mais justa – e não
apenas no discurso – mas na prática.

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Repercussão
de “el Mendes”

O fim da obrigatoriedade do diploma coloca em risco não apenas
o jornalista, mas outras profissões em que o magistrado já
acenou com a possibilidade do fim da exigência. Por certo
não será para a profissão secular do direito,
que até bem pouco tempo atrás era sinônimo de
jornalista. Isto é, quem se formasse em Direito era tido
como jornalista por saber articular bem o latim.
Eu entendo e sei ouvir pessoas. Logo, poderia me dar bem como psicóloga.
Também sei plantar temperos no jardim. Acho que daria uma
boa agrônoma. E você, sabe escrever? Pronto. Já
pode ser jornalista.

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LIVRO

Sabe qual a
relação entre Chico Buarque e a coluna desta semana?!
Os jornalistas mais experientes podem elencar uma série de
razões pelas quais escolhi esse livro. Vou apontar apenas
uma: a característica intrínseca de analisar fatos,
de ler um livro e extrair dele a relação do passado
com o presente e costurar a teia do futuro. É isso que nos
torna jornalistas, bem mais do que nos tirar um simples canudo.
Nesse livro, à semelhança do Brasil dos tempos atuais,
Chico Buarque nos oferece a visão da sociedade brasileira
sob um prisma bem pessimista: compadrios, preconceitos de classe
e de raça, machismo, oportunismo, corrupção,
destruição da natureza, delinquência. Qualquer
coincidência com a vida real não é mera semelhança.

 

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FRASES

“O verdadeiro heroísmo consiste em persistir por mais
um momento, quando tudo parece perdido.”


(W. F. Grenfek)

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ANA PAULA DE CARVALHO
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