Caça ao diploma de jornalista na inquisição chamada Gilmar Mendes A imprensa, também chamada de quarto poder, sempre é tida como a vilã para os erros da sociedade como se os jornalistas tivessem responsabilidade sobre a corrupção de políticos que pulula em Brasília, a compra de votos nos currais do nosso país, o abuso de poder ou o tráfico de influência. A verdade estampada nos jornais fere quem não tem compromisso com a ética e com o uso correto da máquina pública e de sua responsabilidade com relação à população. Essa mesma verdade com que os jornalistas são “contaminados” com certeza incomodou o magistrado Gilmar Mendes, que processa jornalistas que o criticam e acredita em uma imprensa controlada. Quem sabe no governo chinês ele fosse feliz ao controlar o que é noticiado ao mundo. Nem precisamos ir muito longe. Se fosse braço direito de Hugo Chavez, “el Mendes” teria carta branca para impor um regime de perseguições a bel prazer e sem nenhum respaldo legal a cumprir. * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * Cozinheiro sim, com muito orgulho O ministro do STF — e não foi invenção dos jornalistas — comparou jornalistas a cozinheiros, alegando que mesmo havendo a qualificação de “chefs” de cozinha, o Estado não tem como exigir tal qualificação em suas refeições. Numa jogada política e cujo discurso não deve afetar nem jornalistas nem cozinheiros, porque todos nós temos nosso devido valor e lugar, a verdade é que, quanto mais se mexe no caldeirão em Brasília e nas decisões do seu magistrado, mais se exala no ambiente o odor fétido das brechas jurídicas usadas a fim de vingança pura e simples. O poder talvez seja a experiência mais forte para qualquer ser humano enfrentar. Dê poder a alguém e você verá quem essa pessoa é de fato. A máscara – seja qual for – cai e desvenda a real face de quem está por trás dela. * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * Contradições Em uma época em que o governo federal aposta no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) numa tentativa longínqua de excluir o vestibular e quando lança mão de uma estudante indo às lágrimas dizendo que o sonho dela era fazer Medicina, que exemplos contraditórios estamos recebendo? Um país de todos ou um país para quem seguir a cartilha do bom cidadão, onde bom aqui se entende em concordar com tudo e fazer vistas grossas ao que não dá certo em várias áreas da vida em sociedade? Jornalista não é aquele que só critica, mas quem também busca sugerir soluções, é a voz dessa sociedade ao exigir o combate à violência, ao expor nas manchetes as filas de idosos todas as manhãs em busca de senha para conseguir atendimento médico, ao brigar pelo direito dos contribuintes para que seu dinheiro seja bem investido. Quando o governo estipula regras para regular o estágio que era usado por muitos empregados para ter mão-de-obra barata, agora uma decisão do STF vai contra a maré ao potencializar um fenômeno que já provoca um estrago razoável na composição das redações dos grandes veículos de comunicação: a proliferação de trainees, que agora passam a ser fábricas doutrinando futuros “jornalistas”. Ao invés de termos viabilizado a melhoria dos cursos de jornalismo, de termos criado condições para que os grandes jornalistas brasileiros se animassem a dar aulas para os jovens aspirantes a repórteres, chegamos a esse abismo no fundo do qual se comemora uma derrota. * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * Somos idealistas Infelizmente nossa democracia é feita de pessoas que dão carta branca a políticos em troca de comida, cargos políticos ou nem isso. Quem dera essa fosse uma nação que, ao menor desgosto, tomasse as ruas em manifestações com panelaços e muito barulho. Talvez assim o papel do jornalista fosse de menor relevância na sociedade, já que a população iria tomar sua posição de fato e de direito como rege a nossa Constituição. Esse é o perfil do jornalista, um eterno idealista por uma sociedade mais justa – e não apenas no discurso – mas na prática. * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * Repercussão de “el Mendes” O fim da obrigatoriedade do diploma coloca em risco não apenas o jornalista, mas outras profissões em que o magistrado já acenou com a possibilidade do fim da exigência. Por certo não será para a profissão secular do direito, que até bem pouco tempo atrás era sinônimo de jornalista. Isto é, quem se formasse em Direito era tido como jornalista por saber articular bem o latim. Eu entendo e sei ouvir pessoas. Logo, poderia me dar bem como psicóloga. Também sei plantar temperos no jardim. Acho que daria uma boa agrônoma. E você, sabe escrever? Pronto. Já pode ser jornalista. * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * LIVRO Sabe qual a relação entre Chico Buarque e a coluna desta semana?! Os jornalistas mais experientes podem elencar uma série de razões pelas quais escolhi esse livro. Vou apontar apenas uma: a característica intrínseca de analisar fatos, de ler um livro e extrair dele a relação do passado com o presente e costurar a teia do futuro. É isso que nos torna jornalistas, bem mais do que nos tirar um simples canudo. Nesse livro, à semelhança do Brasil dos tempos atuais, Chico Buarque nos oferece a visão da sociedade brasileira sob um prisma bem pessimista: compadrios, preconceitos de classe e de raça, machismo, oportunismo, corrupção, destruição da natureza, delinquência. Qualquer coincidência com a vida real não é mera semelhança. * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * FRASES “O verdadeiro heroísmo consiste em persistir por mais um momento, quando tudo parece perdido.” (W. F. Grenfek) * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * Para dúvidas, questionamentos sobre Carreira e sugestões, envie e-mail para [email protected]. Endereço para correspondências: Travessa João Turin, 37, cj. 501 Batel CEP 80.240-100 * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * ANA PAULA DE CARVALHO anapaula @stampanews.com.br |