Remake virou palavra da moda quando o assunto é novela. A Globo fez isso com Ti Ti Ti (1985), em 2010. Criou um horário das 23 horas e o ocupou com O Astro (1978) e, agora, Gabriela (1975). Falta de bons roteiros ou vontade de mostrar grandes trabalhos às gerações tablet e Facebook? Melhor apostar nessa segunda alternativa quando o assunto é Guerra dos Sexos (1983), que, passados 29 anos, ganha um remake. Quem não teve a chance de assisti-la nos anos 80 terá agora.

Guerra dos Sexos é centrada em dois primos — Otávio e Charlô — que se detestam. Os tios homônimos deixaram para eles a mansão onde viviam e a rede de loja Charlô’s, sem direito a negociação de venda fora da família. Teimosos e irredutíveis, os primos preferem dividir a mesma casa e a administração das lojas a ter que ceder e vender seus exatos 50% para o outro. Depois de uma discussão sobre os valores masculinos e femininos, ambos fazem uma aposta arriscada: Otávio desafia Charlô e sua equipe a elevar o lucro da principal loja da rede num prazo de 100 dias. Se falhar, além de perder tudo o que herdou, ela ainda terá que assinar um atestado definitivo de incompetência do sexo feminino. Se vencer, quem perde tudo e assina o atestado é Otávio. Está declarada a guerra.

Eu sempre quis reescrever a novela, confessou o autor Silvio de Abreu, que sugeriu a ideia à Globo há cinco anos e ganhou o aval. Parceiro de Abreu em 1983, o diretor Jorge Fernando dirige também a nova versão. Me preocupava o fato de mexer em uma coisa que fez tanto sucesso no passado e que eu mesmo tinha feito. Conversei muito com o Silvio sobre isso. Mas apesar da ansiedade, senti uma grande alegria, porque Guerra dos Sexos foi um dos meus principais trabalhos, falou.

Com 29 anos de diferença entre uma novela e outra, o texto, por mais que mantenha a essência da trama original, passou por mudanças radicas. Naquela época, não existiam celulares, tablets, computadores, redes sociais. Toda essa modernização trouxe aspectos muito interessantes à trama, que obrigaram a adaptação de quase todas as cenas, disse Abreu. Tive que reescrever todos os diálogos. Mas as situações principais e aquela maluquice continuam as mesmas (risos).

O autor diz também que a motivação da trama central mudou. Nos anos 80, no pós-feminismo, a mulher estava começando a querer espaço no mercado de trabalho. Estava brigando por seu lugar na sociedade e o homem relutava em ceder e aceitar. Hoje, nós temos uma mulher como presidente. A mulher já conquistou o espaço dela e o homem está numa posição inferior à que estava há alguns anos. E o pior: sem entender essa nova mulher, falou Abreu. Mas a disputa entre os sexos é atemporal, ponderou Jorge Fernando.

Logicamente, o elenco também mudou. Cumbuca e Bimbo, como eram chamados Charlô e Otávio em 1983, já não são os mesmos. Agora, são Cumbuqueta e Bimbinho. Charlô II (Irene Ravache) é uma intrépida piloto de carro, moto e avião, exímia atiradora e apreciadora de safáris. Otávio II (Tony Ramos) é hipocondríaco, medroso, cheio de manias e parece ter urticária ao ouvir falar em exercícios. Fernanda Montenegro e Paulo Autran, a Charlô e o Otávio da trama original, fazem uma participação como o casal de tios que morre de infarto duplo numa prolongada noite de amor e deixa a herança aos sobrinhos. Os tios aparecem ainda nos quadros da mansão. As imagens mudam de expressão de acordo com os acontecimentos na casa.

Destacam-se pelo lado feminino Mariana Ximenes (Juliana), Luana Piovani (Vânia), Glória Pires (Roberta) e Bianca Bin (Carolina) nos lugares que eram de Maitê Proença, Maria Zilda, Glória Menezes e Lucélia Santos. Pelo lado masculino, Reynaldo Gianecchini (Nando), Heriberto Leão (Ulisses), Paulo Rocha (Fábio) e Edson Celulari (Felipe) encarnam personagens antes vividos por Mário Gomes, José Mayer, Herson Capri e Tarcísio Meira. Celulari, por sinal, fazia outro papel em 1983, o do lutador Zenon — o boxe, esporte praticado pelo personagem na época, deu lugar ao MMA (Artes Marciais Mistas), em mais um exemplo de modernização. Já Marilu Bueno, governanta em 1983, repete o personagem. A escolha do novo elenco agradou Silvio de Abreu em cheio.

Claro, eles são apenas coadjuvantes na guerra aberta entre Charlô e Otávio — que, entre outras brigas, jogam tortas na cara um do outro, numa cena clássica. Histórias divertidas não saem de moda. Apenas ganham remakes.