O governador Beto Richa (PSDB) acusou ontem o senador Roberto Requião (PMDB) de trair o Paraná, ao agir para tentar barrar empréstimo de US$ 350 milhões (R$ 731,5 milhões) do Banco Mundial (Bird) ao Estado. Na noite de terça-feira, Requião obstruiu a votação do empréstimo no Senado, alegando não ter conhecimento sobre o destino do dinheiro.
É inaceitável essa atitude do senador e governador aposentado Roberto Requião contra o Paraná. Na mesma noite em que traiu o Paraná, Requião votou a favor de empréstimos para o Rio Grande do Sul, dois para Santa Catarina, para Ceará e Bahia. Isso mostra que é, sim, contra o Paraná, reagiu Richa. Os recursos de 350 milhões de dólares, R$ 731,5 milhões, do Banco Mundial – Bird – para o Paraná seriam usados nas áreas de educação, segurança e saúde. Projetos como Renova Escola, Mãe Paranaense, Rede de Urgência e Emergência, para desenvolvimento rural sustentável , gestão ambiental e de riscos de desastres e em ações de qualificação e modernização da gestão pública, explicou o governador.
Segundo o governo, o empréstimo foi aprovado por vários órgãos de fiscalização do governo federal, entre eles, a Secretaria do Tesouro Nacional e o Ministério da Fazenda. Também tem parecer favorável do relator da proposta, senador Delcídio Amaral (PT-MS). Os senadores teriam fechado acordo para a votação dos empréstimos em bloco e Requião teria obstruído somente o pedido do Paraná.
Richa afirmou ainda que foi o próprio Requião quem iniciou negociações para obtenção de empréstimos junto ao Bird, em 2010, quando ainda era governador. Ele foi o primeiro a pedir esse tipo de empréstimo ao Bird, afirmou.
O governador rebateu as alegações de Requião de que o pedido de autorização não especificava o destino dos recursos. O Bird é criterioso. Passamos mais de um ano negociando, disse. O Requião deveria ser o primeiro a cumprir a obrigação de ajudar o Paraná e não a criar caso, criticou Richa.
O governador contou que na noite de terça-feira e ontem pela manhã conversou com senadores Sergio Souza (PMDB-PR), Delcídio Amaral, Aecio Neves (PSDB-MG), Cássio Cunha Lima (PSDB-PB) e até com o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-PA) para colocar novamente o pedido de empréstimo na pauta de votação. A expectativa dele é que a votação ocorra na sessão de hoje. Hoje (ontem), o Congresso Nacional (Senado e Câmara dos Deputados) vai ter uma sessão tumultuada ao apreciar o veto da presidente Dilma (Rousseff) à distribuição dos royalties do petróleo e dificilmente o pedido entre na pauta, o mais certo é que seja votado na sessão de amanhã. É o que esperamos, disse Richa.
O que posso dizer é que o Paraná tem 80 senadores apoiando esse empréstimo e só um contra. Está provado que Requião, por questões políticas, joga contra os interesses do Paraná, completou o governador. Segundo o governo, Requião diz desconhecer como serão usados os recursos do empréstimo, mas não compareceu em nenhuma das reuniões da bancada paranaense no Congresso Nacional que debateu os projetos e as áreas que serão atendidas pelos recursos pleiteados.
Espero que ele (Requião) tenha um lapso de bom senso para aprovar o projeto, cobrou.
 Se não houver a liberação do empréstimo, os investimentos do governo do Estado ficam comprometidos, explicou o secretário de Estado da Fazenda, Luiz Carlos Hauly.
Justificativa — Em nota divulgada ontem à tarde, Requião negou ter tentado impedir a aprovação do empréstimo. Ele alegou que ao contrário dos pedidos de outros estados, o do Paraná não especificava onde seriam aplicados os recursos. O relatório apresentado senador Delcídio Amaral (PT-MT) falava apenas em investimentos no ‘desenvolvimento setorial’, sem dizer o que isso poderia significar, afirmava a nota.
Segundo o senador, ao questionar o relator, Amaral teria admitido que não encontrou no texto do projeto a informação sobre a destinação dos recursos. Diante disso, o senador José Sarney, que presidia a sessão, determinou que o pedido do Paraná fosse retirado de pauta, até que se esclarecesse o destino dos 350 milhões de dólares reivindicados, alegou o peemedebista.
Requião também afirmou que quando pediu autorização para contrair empréstimos externos, apresentou um completo plano de aplicação dos recursos que seriam destinados à agricultura familiar e ações de combate à pobreza e à exclusão social.
Requião garantiu ainda que Requião não é contra empréstimos externos para o Paraná, mas contra o desperdício de recursos não se sabe onde, sob que justificativas.
Não é a primeira vez que Requião age para barrar empréstimos do governo do Estado. Durante a administração de Jaime Lerner, o peemedebista – também cumprindo mandato de senador – conseguiu obstruir por quase dois anos a aprovação de empréstimos para o Paraná na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado.