Não são apenas os camburões que têm um pouco de navio negreiro. As ruas e a consciência do brasileiro estão contaminadas pelo racismo e pela violência. E numa dessas ações que alguma jornalista por aí diz ser compreensível, a vida de mais um inocente pode ter sido perdida.

O menino que você vê acima é Alailton Ferreira, de 17 anos. O jovem, que sofria de problemas mentais, foi espancado na tarde do último domingo (6) às margens da BR-101 na cidade de Serra, no Espírito Santo. Foram mais de duas horas apanhando da população, que o xingava e gritava mata logo. A tortura resultou na morte de Alailton, que não resistiu aos ferimentos e faleceu na noite de terça-feira.

Até agora, ninguém sabe ao certo o motivo para o linchamento de Alailton. Alguns dizem que ele teria tentado estuprar uma mulher, outros afirmam que ele teria tentado roubar uma moto e abusar de uma criança de 10 anos. Acusações que, até agora, não foram formalizadas – segundo a Polícia Civil, não foi feita nenhuma denúncia ou mesmo alguma testemunha ou parentes da própria vítima foi relatar o que ocorreu.

O jovem foi espancado por mais de duas horas – tempo que levou para a polícia chegar ao local. A multidão, enfurecida, mesmo sem saber o crime (ou mesmo se houve um crime), precisou ser contida pelos policiais, que tiveram de utilizar spray de pimenta para conter os populares. Alailton foi levado desacordado ao hospital.

Em entrevista ao jornal Gazeta Online, a mãe de Alailton, a doméstica Diva Suterio Ferreira, de 46 anos, disse que o filho foi injustiçado e ainda afirmou, após o sepultamento do filho, que os agressores devem pedir perdão a Deus pelo que fizeram. Ele já foi preso por furto, usava droga, mas não estuprou ninguém, jamais faria isso, disse. Meu filho era amado, sonhava em me dar uma casa. Dizia que queria um quarto para ele, um para mim e um para irmã. Minha filha, de 11 anos, só chora, tem medo de sair à rua depois do que aconteceu.

Um outro morador da região, Uelder Santos, de 29 anos, também afirmou que o rapaz pode ter sido vítima de uma injustiça. Ninguém viu esse tal estupro ou mesmo quem é a suposta vítima. O menino até disse que era ‘noiado’, e ele nem reagia, diz Uelder.