Por Lúcio Flávio

BRASÍLIA, DF, 18 de abril (Folhapress) – O pesadelo dos anos de chumbo e o olhar literário que vem de países da África e da Ásia nortearam os temas abordados na 2ª Bienal Brasil do Livro e da Literatura, em Brasília.

Com uma curadoria de peso, autores como o chinês Mirong Xuecun –uma das sensações do encontro literário– e a norte-americana de origem nigeriana Nnedi Okorafor despertaram atenção do público sobre a realidade dura, triste e sufocante de seus países, mas também de como a literatura que se faz por lá tem ajudado a dar voz aos problemas que enfrentam.

Outros convidados como o moçambicano Mia Couto –bastante assediado– e o angolano Gonçalo Tavares, além do cubano Leonardo Padura, compartilharam essa mesma experiência.

Segundo organizadores, cerca de 250 mil pessoas –entre visitantes e alunos de escolas públicas– passaram pelos corredores, stands de livrarias e auditórios da Bienal, que teve como grande estrela o uruguaio Eduardo Galeano.

Tietado desde o primeiro dia em que colocou os pés em brasília, o autor do clássico “As Veias Abertas da América Latina” correspondeu às expectativas. “Sinto-me sufocado de tanto carinho”, chegou a dizer.

As mesas em que o escritor participou foram as mais movimentadas, e a expectativa do público de ver o ídolo latino-americano gerou confusão em vários momentos do encontro por causa do limite de lotação do espaço.

À revelia da péssima condução de alguns mediadores, alguns debates causaram frisson na Bienal, como o do escritor cubano Leonardo Padura, que falou dos bastidores do seu livro “O Homem que Amava os Cachorros”, título lançado do Brasil.

Bastante aguardada, a escritora argentina Pola Oloixarac deixou-se ofuscar pelo seus colegas de mesa, e o moçambicano Mia Couto causou burburinho entre o público feminino.

Estrutura precária

Com um orçamento de R$ 11 milhões, a Bienal Brasil do Livro e da Literatura pode até ter tido uma boa acolhida do público, que prestigiou em massa nomes importantes da literatura do Brasil e do mundo.

O evento, no entanto, pecou pela desorganizada e precariedade da estrutura, localizada no gramado da Esplanada dos Ministérios.

Problemas como a falta de estacionamento, falta de água nos banheiros e despreparo de monitores –que mal conseguiam orientar as pessoas em busca de informações– irritaram o público.

Um dos incômodos mais visíveis era o sucateado piso colado sobre a grama em toda a Bienal. De tão deteriorado, o tapume mais parecia um jogo da velha com a quantidade de “x” marcados com fitas amarelas, assinalando defeito.