SÃO PAULO, SP – Os fundos de investimento em renda fixa foram as melhores aplicações do primeiro semestre do ano, com rendimento de 4,32% após desconto de Imposto de Renda (alíquota de 22,5%, para resgate até 180 dias), segundo o ranking de investimentos elaborado pela reportagem. Já o dólar ocupou a lanterna nesse mesmo período, com queda acumulada de 6,4%. A moeda americana também aparece como pior investimento em 12 meses, com desvalorização de 0,5%, enquanto os fundos de ações livre –opção para o pequeno investidor que quer aplicar em Bolsa– lideraram o ranking nesse mesmo período, com alta de 10,01% após desconto de IR (com incidência de alíquota de 15%), em parte graças à alta de 12,03% da Bolsa brasileira no mesmo intervalo. No caso dos fundos de investimento, os cálculos usam como base os dados da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais). O ranking considera o rendimento das aplicações descontado o Imposto de Renda, quando incidente, para resgate até 180 dias –no caso do semestral– e após 12 meses. Vale destacar que, quando há perda, o IR não é cobrado. O período de 12 meses é considerado por refletir o desempenho dos investimentos em um prazo maior, corrigindo eventuais oscilações de curto prazo. O investidor consegue, assim, avaliar um período maior para tomar sua decisão de aplicação. Manter uma aplicação por pelo menos um ano também reduz a alíquota de Imposto de Renda a pagar –de 17,5% até o mínimo de 15% na renda fixa. Para fundos de ações livre, a alíquota é fixa em 15%, independentemente do período. A inflação projetada para junho, de acordo com o IPCA (índice oficial) é de 0,34%, segundo pesquisa mais recente feita pelo Banco Central com economistas. No ano (até maio, dado mais recente disponível) está em 3,33%, enquanto em 12 meses o avanço é de 6,37%. RENDA FIXA Além de liderarem o ranking semestral, os fundos de renda fixa apresentam desempenho de 8,31% em 12 meses (após desconto de IR). “Esse desempenho mostra uma recuperação da rentabilidade dos títulos públicos, principalmente os indexados à inflação [NTN-B e NTN-B Principal], que tiveram desempenho bom”, afirma Roberto Indech, analista da Rico.com.vc, plataforma de investimentos da Octo Corretora. Já os fundos DI –que investem principalmente em títulos públicos e privados pós-fixados– registraram ganho de 3,81% no semestre (já descontado o IR) e de 8,09% em 12 meses. A alta se deveu principalmente às sucessivas elevações da Selic, a taxa básica de juros da economia, ao longo de um ano –entre abril do ano passado e abril deste ano. A poupança –para todas as datas de depósitos– teve valorização de 3,39% no semestre. Em 12 meses, os resultados variam, em razão da taxa Selic, que era mais baixa no início do período –de 8,5% em julho do ano passado para 11% em maio deste ano. O ganho foi de 6,74% para depósitos feitos até 3 de maio de 2012 e de 6,67% para os realizados depois disso. Não há incidência de IR na poupança. BOLSA Além de liderarem o ranking em 12 meses, os fundos de ações livre registraram ganho de 0,95% (após IR) no semestre, impulsionados pela valorização de 3,22% da Bolsa no ano. A alta da Bolsa começou a se delinear em março, quando o Ibovespa, principal índice acionário brasileiro, inverteu a tendência de queda iniciada em 2013 –quando caiu 15,5%– e passou a subir. Essa valorização pode ser creditada à divulgação de pesquisas eleitorais que trouxeram a possibilidade de derrota do atual governo. Isso animou os investidores, que veem a gestão da presidente Dilma Rousseff como “intervencionista”. Uma mudança de governo significaria, na opinião de analistas ouvidos pela reportagem, mudança na forma de gerir empresas estatais como a Petrobras. Para analistas, as eleições devem continuar a influenciar a Bolsa até o fim do ano. “As ações mais ligadas à política e ao crescimento do país, como varejo, e afetadas por inflação e juros, como as de construtoras e imobiliárias, vão continuar sofrendo”, afirma André Moraes, analista da Rico.com.vc, plataforma de investimento da Octo Corretora. Segundo Carlos Müller, analista-chefe da Geral Investimentos, o desempenho da ação preferencial (sem direito a voto) da Petrobras evidencia isso. O papel tinha forte queda nos primeiros meses do ano, mas inverteu a tendência e passou a subir –o ganho atual é de 1,23%, considerando o fechamento desta segunda-feira (30). “A empresa continua com problemas de produção, endividada e sofrendo com a disparidade de preços dos combustíveis no Brasil e no exterior. Os papéis mudaram de tendência pelas expectativas de troca de governo. A ação deve continuar subindo caso a presidente Dilma Rousseff siga perdendo espaço na corrida pelo Planalto ou seu governo passe a adotar uma postura menos intervencionista”, diz Müller. DÓLAR Com a queda de 6,4% do dólar no semestre, os fundos cambiais –alternativa para o pequeno investidor que quer aplicar em moeda estrangeira– tiveram desvalorização de 6,44%. Em 12 meses, porém, ainda acumulam leve alta de 0,43% (após desconto de IR), enquanto a moeda americana cai 0,5%. Os fundos cambiais e a compra direta da moeda americana só são indicados por consultores financeiros ao pequeno investidor se ele tem despesas programadas –como com um filho que mora no exterior, no primeiro caso, e uma viagem de férias, no segundo. Como opção de investimento fora desse contexto, afirmam consultores, o dólar é muito instável para o pequeno investidor e, no longo prazo, a renda fixa acaba pagando mais. Para Reginaldo Galhardo, gerente de câmbio da Treviso Corretora, o alívio do dólar nesse semestre deveu-se à entrada maior de recursos externos na economia, tanto pelas especulações políticas na Bolsa quanto pela alta do juro básico (Selic) para 11% ao ano. “Mesmo que o intervencionismo do governo desagrade os investidores estrangeiros, o Brasil continua sendo um país confiável, com grau de investimento e reservas cambiais de aproximadamente US$ 400 bilhões. É um país cuja taxa de juro remunera bem com risco controlado”, diz Galhardo. O gerente da Treviso lembra que o mercado também ficou mais confortável com a sinalização de que os juros nos EUA só subirá em 2015. “Até lá, os estrangeiros devem manter suas aplicações no Brasil”, completa. A avaliação é que, quando o BC americano começar a subir a taxa, haverá uma migração de recursos dos emergentes para os títulos do Tesouro dos EUA, que são considerados praticamente livres de risco. OURO A cotação do metal subiu 3,87% no ano e de 6,33% em 12 meses, devido à valorização da commodity no exterior. “O ouro subiu no mercado internacional, compensando um pouco a queda do dólar que vimos em junho. Com a crise da Argentina e os problemas no Irã, os investidores correram atrás de um ativo que desse mais garantia, como o metal”, afirma Edson Magalhães, gerente de operações da Reserva Metais. Para os próximos meses, Magalhães vê uma influência menor da crise argentina sobre a commodity. “O impacto da crise da Argentina já aconteceu no mercado de ouro, fazendo que mudasse o patamar das cotações da commodity no mercado internacional. Mas não vai gerar combustível adicional no futuro”, avalia. Para investir em ouro, é possível comprar contratos negociados na BM&FBovespa, que são padronizados em 250 gramas. Com o grama hoje a R$ 90,60, quem quiser comprar uma barra terá de desembolsar R$ 22.650. Há corretoras, porém, que oferecem contratos com quantidades menores do metal. Também é possível optar por fundos que aplicam no metal. É preciso, no entanto, ficar atento à taxa de administração desses fundos e ao valor da aplicação inicial, que pode inviabilizar a entrada do pequeno investidor. Mas é importante ressaltar para o investidor que sua decisão não deve levar apenas em conta a rentabilidade passada, pois, como bem alertam os informativos de fundos e outras aplicações, ela não é garantia de rentabilidade no futuro.