DIOGO BERCITO, ENVIADO ESPECIAL EREZ, ISRAEL – Gaza aparece, no horizonte, como uma visão triste. As colunas de fumaça, erguidas por ataques na região fronteiriça, escurecem o céu em sua direção. A repetida artilharia israelense soa como trovoada de mau agouro. A reportagem da Folha de S.Paulo foi incluída, nesta terça-feira (22), em um comboio organizado pelo Exército israelense para cruzar jornalistas Gaza adentro, em meio a operações militares em todo o estreito de terra. A passagem regular, feita a pé, estava proibida pela insegurança. Mas o avançar da guerra, na segunda, manteve o grupo de repórteres em um limbo entre o território israelense e aquele controlado pela facção palestina Hamas. Ouvia-se, ali, a voz rouca das explosões de projéteis ao redor. Mais cedo, um alerta de foguete obrigara o grupo a refugiar-se nas imediações de um banheiro, até que a ameaça estivesse resolvida. A região de Erez, a fronteira norte entre Israel e a faixa de Gaza, vem sendo uma das áreas mais delicadas durante os últimos dias de Operação Margem Protetora –a ação militar iniciada no dia 8, após a morte de três jovens israelenses na Cisjordânia. As Forças de Defesa de Israel e militantes do Hamas trocam disparos em Erez, sob intenso bombardeio. A retirada de centenas de civis palestinos com passaporte estrangeiro foi organizada com cautela, nos últimos dias, e essa passagem tem sido excepcionalmente aberta durante períodos curtos. A maior parte das informações coletadas dentro da faixa de Gaza tem vindo de repórteres que já estavam ali, quando a entrada era possível. Grupos penavam, também, com a dificuldade de deixar o local. O Exército tenta criar comboios de saída, assim como de entrada. O Ministério da Saúde conta ao menos 508 mortos entre palestinos, a maior parte dele civis, com grande número de crianças. Em Israel, foram duas baixas civis e 27 soldados, diz o Exército. Um soldado foi também dado nesta terça-feira como desaparecido. O Hamas havia anunciado, anteriormente, a captura de um militar israelense, ainda não confirmada, o que poderia incrementar suas exigências em uma possível negociação para chegar ao cessar-fogo. Um acordo já havia sido proposto com a mediação egípcia, mas foi recebido com recusa pelo Hamas. As chances de uma segunda oportunidade acompanham a chegada, nesta terça-feira, do secretário-geral da ONU Ban Ki-moon e do secretário de Estado americano John Kerry à região.