A obesidade já está sendo tratada como o mal do século por médicos e especialistas no Brasil e no mundo.

Uma pesquisa divulgada na revista científica Lancet, no mês de maio, aponta o Brasil como o 5º no ranking mundial, com 60 milhões de pessoas acima do peso e 22 milhões de brasileiros considerados obesos. A obesidade também cresce rapidamente entre as crianças: cerca de 16% dos meninos e 12% das meninas com idades entre 5 e 9 anos são hoje obesas no país, quatro vezes mais do que há 20 anos. Já a mais recente pesquisa do Ministério da Saúde coloca Curitiba em 9º lugar – entre as 27 capitais brasileiras – com maior número de crianças e adultos obesos.
A obesidade é considerada uma doença crônica caracterizada pelo excesso de gordura no organismo, mas tem causa multifatorial e envolve questões biológicas, econômicas, sociais, políticas e culturais. Mas a principal causa costuma ser o desequilíbrio entre o consumo de alimentos e o gasto de calorias.
É evidente que nos últimos anos houve um aumento global no consumo de alimentos altamente calóricos, ricos em gordura e açúcar, mas com baixo valor nutricional. Ao mesmo tempo, ocorreu uma diminuição na atividade física, mudança nos meios de transporte, aumento da urbanização e sedentarismo. É preciso rever este modo de vida que está trazendo prejuízos para a saúde dos brasileiros e a economia – devido aos gastos com a saúde e no tratamento de doenças relacionadas à obesidade.
O controle desta epidemia necessita de intervenção mais agressiva do estado. O Paraná e o Brasil podem e devem implementar uma política estadual e nacional de controle da obesidade da mesma forma que está sendo feito no México – um dos países mais obesos do mundo. Lá, as autoridades decidiram aumentar os impostos sobre alimentos muito calóricos como os refrigerantes e outros. Todos os alimentos que contenham mais de 275 calorias por 100 gramas foram tributados em 8 % de IVA (imposto sobre o valor acrescentado).
No início do mês, apresentei à Assembleia Legislativa do Paraná um Projeto de Lei que visa promover a diferenciação tributária entre os alimentos calóricos e os alimentos saudáveis, garantindo subsídios para a compra de legumes, verduras, frutas e uma lista de alimentos essenciais. É necessária uma reforma tributária sobre os alimentos calóricos para que as famílias de classes mais baixas possam ter acesso aos alimentos saudáveis. Os impostos recolhidos a mais poderiam além de subsidiar o menor preço de alimentos saudáveis, financiar programas de combate à obesidade.
Além disso, a Minuta do Projeto de Lei inclui outras medidas intersetoriais e que deverão ser discutidas com o Governo do Estado. Entre elas, está o subsídio à produção e o cultivo de alimentos saudáveis para pequenos produtores, o incentivo a atividade física em espaços públicos e de lazer, inclusão na grade curricular das escolas de atividades educacionais sobre orientação alimentar, a criação de um selo indicando se o alimento é saudável ou não e outras ações. Este é apenas o primeiro que estamos dando na busca por uma sociedade mais saudável e consciente.

Caetano Marchesini é médico cirurgião, professor, membro titular da Federação Internacional de Cirurgia para Obesidade, membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica e membro titular da Sociedade Brasileira de Endoscopia Digestiva