Vista aérea prédios em Curitiba. Foto_Daniel Castellano_ SMCS
Imagem ilustrativa (Foto: Daniel Castellano / SMCS)

Mudar, em todos os sentidos, faz parte do ser humano. E mudar no sentido literal da palavra é algo intimamente ligado com o mercado imobiliário. Mas, a mudança neste caso não é somente de imóvel: envolve o comportamento de consumo que, por sua vez, influencia diretamente na construção civil e imobiliária.

Um estudo recente da empresa Deloitte mostrou que, enquanto aproximadamente 44% da população brasileira é formada por uma geração nascida antes de 1945, que foi educada para gerar patrimônio e, com isso, garantir segurança futura, existem outros cerca de 30% nascidos a partir de 1982 que já são mais flexíveis com relação a aquisição de bens. Além de mais 26% dos nascidos após 2010, que ainda não atingiram a maioridade, mas já se comportam completamente diferentes dos seus pais e avós.

As mudanças de comportamento das gerações, as novas necessidades que surgem, o ambiente econômico do país, entre outros fatores, são indicativos que levam a indústria imobiliária a caminhar conforme os cenários se apresentam.

Para a atual geração economicamente ativa, por exemplo, o aluguel de um imóvel pode conviver com a poupança. A tendência é de que esse modelo evolua para ir de encontro ao estilo de vida dinâmico de uma geração que não cria raízes, permitindo mais flexibilidade e menos burocracia.

1) Aluguel em alta
Vivemos um dos períodos mais longos em que a locação se mantém em alta frequente. De acordo com dados observados pela Basetag Marketing Imobiliário, empresa que administra o marketing de dezenas de empresas do setor, anúncios de imóveis para aluguel residencial têm resultados praticamente instantâneos. Não há necessidade de investir em anúncios patrocinados na maioria dos casos, uma vez que a demanda por locação está maior que a oferta.

Facilidade de mudança de imóvel e a desburocratização do processo de locação que vem ocorrendo nos últimos anos, com mais opções de garantia locatícia, são fatores que figuram no topo desta alta. Na sequência, está o fato de ser mais vantajoso financeiramente e, em terceiro lugar, ser menos burocrático.

2) Imóvel como renda
A locação em alta não representa que as vendas estejam em baixa. Este movimento do mercado apresenta-se como grande oportunidade para investimento na compra de imóveis com finalidade de disponibilizá-los para locação. Novamente, a premissa de que imóvel é o melhor investimento se confirma. Morar é uma necessidade básica do ser humano e sempre existirá, seja alugando ou comprando. Para os mais conservadores, morar no próprio imóvel representa mais segurança. Para os mais flexíveis e arrojados, é possível pagar aluguel para morar melhor e ter imóveis como opção de investimento.

3) Configuração dos imóveis
Em uma cidade com mais de 300 anos, como Curitiba, percebe-se muitos imóveis antigos, especialmente na área central. Em sua maioria, são apartamentos amplos, com cozinhas compostas com área de serviço, quarto e banheiro de funcionários. A maioria não possui vagas de garagem e, quando tem, geralmente são de um tamanho menor, considerando que os veículos eram mais antigos.

Os imóveis mais novos estão cada dia menores, porém com ambientes mais abertos, que proporcionam maior interação entre os moradores. Assim, o antigo “quarto de empregados” deixa de existir, até porque as pessoas que precisam deste serviço costumam contratar profissionais diaristas; este espaço passou a ser utilizado para outros fins, inclusive para trabalho remoto e escritório, em especial após a pandemia.

Famílias mais dinâmicas e enxutas, além de demandarem a flexibilidade de mudança, também precisam compartilhar espaços em residências menores. Logo, apartamentos com dois quartos são os mais buscados, tanto para locação quanto para compra. Os imóveis compactos – de um ou dois quartos – inseridos em condomínios que apresentam áreas comuns como salão de festas, bicicletários, playground, são os que geram maior interesse das pessoas nos canais de divulgação. Ter o principal para viver com conforto a poucos passos do local de trabalho é uma das comodidades mais valorizadas.

4) Localização sob demanda
Sobre a localização do imóvel, percebe-se uma mudança mais significativa na última década: a escolha do bairro está baseada mais pela logística das pessoas no seu dia-a-dia. O que as pessoas menos querem é pegar trânsito para chegar e voltar do trabalho: todos almejam ganhar tempo para usá-lo com qualidade. Por isso, morar próximo ao trabalho, estar perto de supermercados, farmácias, bancos, parques, são atrativos que valorizam o imóvel. Este estilo de vida é uma mudança de comportamento que influencia não só o imóvel em si, mas principalmente os projetos urbanos. Em Curitiba, a maioria dos bairros possui estruturas próprias cada vez mais completas, de forma que seus moradores possam utilizar serviços e comércio sem a necessidade se deslocar para o centro da cidade.

5) Estilo de vida
Dados levantados pela Basetag, através de consultas ao IBGE, Deloitte e ONU, revelam que o percentual de pessoas solteiras (57%) aumentou e é maior do que as casadas, o índice de divórcios aumentou em 3%, totalizando 9% da população, a taxa de fecundidade caiu e o índice de envelhecimento aumentou de 47 para 103%. Estas mudanças são resultado de uma nova forma de viver, com mais liberdade cultural, maior independência financeira individual, aumento de hábitos saudáveis envolvendo esportes, alimentação e, principalmente, valorização de ações sustentáveis.

Com base nestes e outros dados, a indústria imobiliária se molda, não somente no formato dos produtos, mas principalmente nos processos de negócio. Quando a percepção de valores se altera, é importante que a indústria acompanhe a transformação. Hoje, a geração consumidora valoriza (e até paga mais) por produtos sustentáveis e considera mais empresas que busquem contribuir com ações neste sentido.
Apesar de o produto ser denominado “imóvel’, ele é algo extremamente exposto às variáveis do mercado e suas necessidades. Logo, estar atento ao que as pessoas precisam e valorizam no requisito “morar” é fundamental para quem constrói e também para quem vende.

*Tatiana Gielow é especialista em marketing digital de alta performance no mercado imobiliário e diretora da Basetag Marketing Imobiliário.