SÃO PAULO, SP – O principal índice da Bolsa brasileira ganhou fôlego na última hora de negócios desta sexta-feira (1º) e inverteu a tendência negativa vista na maior parte do dia para fechar em leve alta de 0,13%, a 55.902 pontos.
Com isso, o Ibovespa quebrou uma sequência de cinco quedas, mas não conseguiu evitar o desempenho negativo na semana, de 3,32% -a pior performance semanal desde o período entre 26 e 30 de agosto do ano passado.
“Foi um período de realização”, diz Elad Revi, analista-chefe da Spinelli Corretora. “O Ibovespa subiu muito desde o final do primeiro trimestre e precisava corrigir esse desempenho”, acrescenta.
Para Revi, as incertezas em relação a quando o banco central dos Estados Unidos começará a subir os juros naquele país e conflitos geopolíticos, como os impasses entre Rússia e o Ocidente e os ataques de Israel em Gaza, alimentaram um clima de aversão ao risco global nos últimos dias. Nesse contexto, os investidores aproveitaram para vender ações e embolsar lucros.
“O mercado de ações brasileiro e os demais emergentes têm um agravante: o calote técnico da Argentina. Mesmo que o país esteja fora da rota financeira global desde o default de 2001, a economia argentina é um dos principais parceiros comerciais do Brasil. O setor automobilístico e de autopeças brasileiro, por exemplo, já tem sofrido com as dificuldades do país vizinho”, afirma o analista.
EUA E DÓLAR
No exterior, as Bolsas americanas fecharam no vermelho refletindo a desaceleração do crescimento do emprego nos Estados Unidos, que atingiu um nível maior que o esperado em julho. O resultado corrobora dúvidas sobre quando o Fed -banco central americano- vai elevar os juros naquele país.
A presidente da instituição, Janet Yellen, já afirmou que um aumento só deve ocorrer em 2015, mas dados recentes mostrando o fortalecimento da economia dos EUA deram origem a rumores sobre uma possível elevação antes do esperado. Os dados de emprego divulgados hoje esfriaram essa possibilidade.
Uma alta no juro básico americano deixaria os títulos do Tesouro dos EUA -remunerados por essa taxa e considerados de baixíssimo risco- mais atraentes do que aplicações nos emergentes, motivando uma fuga de recursos desses países.
Nesse contexto, o mercado de câmbio reagiu positivamente nesta sexta-feira, reduzindo a pressão sobre a cotação da moeda americana. O dólar à vista, referência no mercado financeiro, fechou em queda de 0,13% sobre o real, cotado em R$ 2,266 na venda. Na semana, houve alta de 1,8%. Já o dólar comercial, usado no comércio exterior, caiu 0,65% no dia e subiu 1,48% na semana, para R$ 2,260.
O Banco Central deu continuidade ao seu programa de intervenções diárias no câmbio, através do leilão de 4.000 contratos de swap (operação que equivale à venda futura de dólares), pelo total de US$ 198,7 milhões.
AÇÕES
As ações da empresa de alimentos BRF ficaram entre as maiores altas do Ibovespa nesta sexta-feira, com valorização de 1,75% (a R$ 57,25). A companhia divulgou alta de 28% no lucro líquido do segundo trimestre em relação a igual período do ano passado. No mesmo setor, a JBS avançou 5,27%, para R$ 8,79 -melhor desempenho do índice.
Do outro lado da Bolsa, a ação preferencial (sem direito a voto) da mineradora Vale caiu 2,03%, para R$ 28,54. O banco Nomura cortou seu preço-alvo para o ADR (recibo de ações negociado na Bolsa de Nova York) da Vale de US$ 31 para US$ 20, recomendando compra. Já o Morgan Stanley elevou o preço-alvo de US$ 15,20 para US$ 16, com recomendação “equal weight” -desempenho em linha com o mercado.
A PDG Realty encabeçou a lista das maiores perdas do Ibovespa, com baixa de 3,45%, a R$ 1,40. O papel reagiu à notícia de que a empresa ampliou o prejuízo no segundo trimestre a R$ 135,3 milhões, acima do esperado, em um período marcado por vendas e lançamentos menores.
“O resultado abaixo da expectativa reflete uma combinação de um ambiente mais difícil de vendas e despesas financeiras maiores que as esperadas, como consequência do processo de refinanciamento”, afirmou a equipe de análise do Citi em relatório.