Quando os bancos de investimento e de desenvolvimento disponibilizam recursos para financiar determinado projeto, o objetivo é que o mesmo seja rentável. Ou seja, que o valor presente dos retornos obtidos tem que ser maior que o dos gastos e custos realizados. No entanto, há diferenças entre o papel de cada uma dessas instituições. A principal delas é que o primeiro se preocupa apenas com o retorno do investimento realizado, dado um certo risco. Enquanto o segundo, mesmo que se preocupe com o retorno e em minimizar o risco de um possível não pagamento do investimento realizado, está atento, também, ao impacto que esse investimento terá na economia, seja na geração de emprego, seja no dinamismo que dará sobre outros setores de produção indiretamente.
Desta forma, a nova inserção de estrutura de investimentos por parte do BNDES no exterior busca dinamizar os negócios de empresas brasileiras. O objetivo é conquistar novos mercados para produtos nossos que tenham alto valor agregado. Assim, para construir um porto em Cuba, por exemplo, são demandados produtos siderúrgicos, cimentos, serviços de engenharia, entre outros. Ao mesmo tempo, ao melhorar as relações do Governo brasileiro com o daquele do país que recebe esse investimento, novos acordos comerciais são realizados entre as duas nações. E isso possibilita a colocação de outros produtos brasileiros provindos de outras indústrias voltadas ao consumo e à indústria (bens intermediários e bens de capitais), substituindo antigos fornecedores. Portanto, dinamizando a pauta de exportação do Brasil e alcançando mercados para o produto nacional onde esse não obtinha logro.
Do mesmo modo, o advento de um banco dos BRICS surge com uma premissa similar. Não obstante, as assimetrias econômicas e culturais existentes entre seus membros. É uma nova forma dos países pertencentes ao BRICS fomentarem sua presença no comércio internacional. Para o Brasil, serve como uma nova plataforma para possibilitar a maior presença, do produto de elevado valor agregado, no mercado exterior.
Ainda que o capital inicial projetado para o banco dos BRICS seja pequeno, US$ 50 bilhões, esse é apenas um aporte inicial. (Para fins de comparação, a carteira de crédito do BNDES, em 31 de março de 2014, remontava a R$ 577, 8 bilhões. Supondo um câmbio de R$ 2,20 por dólar, isso dá uma carteira de créditos de US$ 262, 64 bilhões, aproximadamente.) Não obstante, o projeto está por ser implantado. Do mesmo modo, o banco dos BRICS poderá lançar títulos de dívida nos mercados internacionais para captar novos recursos. Assim, dinamizando maior volume de crédito disponível para financiamento em mercados emergentes.
Pode-se questionar como um país com uma infraestrutura defasada e que encarece as despesas em logística das empresas, investirá na infraestrutura de outros países. São duas questões distintas. O investimento em infraestrutura externa, se bem administrado, sem interferências políticas ou ideológicas, focado, apenas, em projetos viáveis em países que interessam aos produtos nacionais de alto valor agregado, gera empregos internos (pela venda desses produtos ao exterior), divisas internacionais e elevam a influência do país no mercado mundial.
O investimento na infraestrutura interna reduz as despesas para o escoamento da produção no seu fluxo interno. O que barateia o produto nacional e eleva a rentabilidade dos negócios. Por isso, cabe ao Governo brasileiro saber administrar a alocação dos recursos no exterior, do BNDES. Do mesmo modo, a formação de inserção do Banco dos BRICS, na negociação com os demais membros, visando ao melhor proveito para as empresas brasileiras. Como o país tem restrições quanto à sua poupança, espera-se que os investimentos externos sejam bem escolhidos, de modo a gerarem receitas diretas e indiretas que justifiquem esse valor no exterior.
Como dito anteriormente, o objetivo de um banco de desenvolvimento não deve ser apenas a busca por rentabilidade com baixo risco. Mas também o de gerar fatores reflexivos para a sociedade: o efeito arrasto como a geração de empregos sobre outros setores da economia, desenvolvimento tecnológico e eficiência produtiva. Assim, os investimentos em infraestrutura externa realizadas pela nova inserção do país nos mercados internacionais também se inserem em uma dinâmica do desenvolvimento econômico do Brasil.

Márcio Pereira Nunes é professor de Economia da Faculdade Mackenzie Rio