A morte trágica do candidato à Presidência da República, Eduardo Campos, é uma perda não apenas de seus familiares, amigos e correligionários, mas de todos – e também para a eleição em curso, que agora tende a se polarizar, se não surgir um tertius inesperado. O político era jovem, acabava de ser pai pela quinta vez, respeitado por aliados e adversários pela coerência de princípios, componente da nova geração de homens públicos. À parte a dor da perda, sobra perplexidade com o ocorrido – algo absolutamente inesperado.
Fazer ilações sobre o rumo dos fatos, se não fossem outros acontecimento — embora característica humana — provoca desespero, é estéril, mera especulação. Ainda assim, não podemos deixar de lado a indagação: como teria sido isso, se aquilo não tivesse acontecido?
Não podemos descartar as promessas, os compromissos, que sempre renovam esperanças, mas olhamos essas quimeras já com certa suspeição. Aquele que as faz assume uma obrigação claramente definida, mas geralmente esse encargo esvai-se nas cinzas do esquecimento, até para aqueles que um dia, talvez, tenham acreditado nela. É apenas em uma democracia, onde o cidadão tem efetivamente voz e não apenas voto, que essas promessas, assumidas de forma livre, poderão ser cobradas e cumpridas.
Compromissos morais nascem da ação — e apenas na ação podem efetivar-se, numa perspectiva amadurecida, proveniente da atividade social, dado que uma identidade pessoal cria-se no diálogo, não pode existir sem a intermediação da realidade e da coletividade. A possível autenticidade implica em que a obrigação tenha um aspecto recíproco, já que a afirmação e a manutenção de promessas ocorrem normalmente em nível transcultural, aquele que promete tendo, na maior parte das vezes, mais privilégios materiais e culturais que aqueles que nele creem.
Todas as sociedades são constituídas por instituições reconhecidas internamente como legítimas, e sem uma rede de ordenamento jurídico e comunitário tornam-se absurdas e desumanas, como em países totalitários. No entanto, comunidade não é apenas um conceito – para constituir-se exige como alvo o bem comum; para manter-se e articular-se necessita o rumo do espaço moral, da origem social de toda concepção do dever – não apenas o abstrato.
Acima das discórdias e das precariedades, necessita discussão, pois as teorias normativas devem levar ao consenso — e o discurso na esfera pública deve orientar-se para o consenso e compreensão mútua. Por isso, muitos pensadores fazem uma importante distinção entre a liberdade de valores e a relevância de valores, já que as infindáveis formas do mundo social estão em relação direta aos valores culturais.
Que lei rege o cumprimento das promessas eleitorais? Delas preservaremos outra memória além do possível registro nas páginas de um antigo jornal?
Independentemente da candidatura a sagrar-se vencedora, a dúvida sobre qual teria sido nosso futuro, se nada houvesse ocorrido, persistirá. Ao cumprir o dever de votar, manifestando nossa vontade, e renovando nossa esperança, gostaríamos de poder, desta vez, e em memória da excelente pessoa desaparecida, denominá-la confiança.

Wanda Camargo é educadora e assessora da presidência das Faculdades Integradas do Brasil – UniBrasil