MATHEUS LEITÃO BRASÍLIA, DF – Em audiência realizada nesta sexta-feira (29), a Comissão Nacional da Verdade confirmou a descoberta dos restos mortais do líder comunista e desaparecido político Epaminondas Gomes de Oliveira, morto em 1971 pela ditadura militar (1964-85). É a primeira descoberta oficial de restos mortais de um desaparecido político nos últimos cinco anos, desde que foi identificada a ossada e feito o sepultamento de Bergson Gurjão, em 2009. Criticada por se aproximar do fim dos trabalhos, em dezembro deste ano, sem ter revelado extensas novidades sobre as perseguições durante o regime, a descoberta dos restos mortais de Epaminondas é uma grande vitória da Comissão da Verdade.

A confirmação dos restos mortais foi determinada através de laudo do Instituto Médico Legal de Brasília, divulgado nesta sexta, após a exumação do Cemitério Campo da Esperança, em 24 de setembro de 2013. Assinado pelos médicos legistas, Aluísio Trindade Filho, Malthus Fonseca Galvão e Heloísa Maria da Costa, o laudo concluiu que os exames periciais antropológicos colhidos apontam “que o esqueleto humano exumado da sepultura 135, da quadra 504 e do setor A do Cemitério Campo da Esperança, representa os restos mortais de Epaminondas Gomes de Oliveira”.

Amparada pelos trabalhos do delegado federal Daniel Lerner, a Comissão da Verdade descobriu em registros do antigo SNI (Serviço Nacional de Informação) a informação sobre o local do sepultamento de Epaminondas no cemitério Campo da Esperança, em Brasília. Todavia, a quadra informada estava incorreta. Foram os registros oficiais do cemitério ajudaram os investigadores a descobrir o local exato.

Os restos mortais de Epaminondas seguirão amanhã de Brasília para Imperatriz (MA), onde a família poderá finalmente realizar o sepultamento do líder camponês. Presente na audiência, Epaminondas de Oliveira, neto do esquerdista assassinado, afirmou que o ato foi “a maior vergonha realizada por agentes públicos nesse país”.

HISTÓRICO

Sapateiro que chegou a ser prefeito de Pastos Bons (MA), Epaminondas foi preso em um garimpo paraense, em agosto de 1971, durante uma operação militar que buscava coibir focos guerrilheiros, como a Guerrilha do Araguaia (1972-74), na região do Bico do Papagaio – área era militarizada e na região que hoje abrange o norte do Tocantins e o sudeste do Pará.

Implantada pelo PCdoB, a guerrilha do Araguaia tinha o objetivo de formar, com a infiltração gradual de militantes esquerdistas armados e integrados à comunidade local, uma área militarizada na região. O plano foi descoberto e a guerrilha foi dizimada pelo Exército em três operações entre 1972 e 1974. Apesar de não fazer parte da Guerrilha, Epaminondas tinha ligação com o Partido Comunista Brasileiro (PCB) e posteriormente do Partido Revolucionário dos Trabalhadores (PRT), uma dissidência da Ação Popular (AP).

Em virtude de sua militância em movimentos de esquerda, Epaminondas ajudou o médico João Carlos Haas Sobrinho, esquerdista da Guerrilha do Araguaia, antes de engajar-se na luta armada. Através de 41 depoimentos, a Comissão descobriu ainda as torturas com choques e socos em instalações do Estado na região do Bico do Papagaio, e, em Brasília, para onde foi levado e morto pelos militares. Para o coordenador da CNV, Pedro Dallari, o caso de Epaminondas revela que, durante a ditadura militar, o “Estado Brasileiro atuou com o método de extermínio e ocultação de cadáveres”. “É uma cerimônia de reencontro familiar. Se algum mérito pode se encontrar no nosso trabalho está na busca de respostas aos familiares de desaparecidos”, disse.