SÃO PAULO, SP – Dois dias depois de sua mãe ter morrido de ebola em uma clínica na capital da Libéria, Morávia, o menino John, 4, ficou sob os cuidados de um assistente social para que fosse monitorado sobre a doença. O novo guardião de John, um sobrevivente do ebola, estava imune ao vírus e feliz de tomar conta dele. Mas, quando os vizinhos tomaram conhecimento do plano, recusaram-se a voltar para casa temendo que o menino pudesse infectá-los também. O caso de John é um exemplo da situação de ao menos 3.700 crianças na África Ocidental que perderam um ou ambos os pais para o ebola e agora enfrentam abandono e estigma, de acordo com o Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância). Segundo a entidade, o número pode dobrar até meados de outubro. As crianças representam apenas 15% das 3.091 mortes registradas do ebola, em sua maioria na Libéria, Serra Leoa e Guiné, abaixo da proporção populacional que representam, de acordo com estatísticas da Organização Mundial da Saúde (OMS). Mas esse número esconde o impacto mais amplo que a doença tem sobre as crianças. O temor do contágio significa que muitos órfãos, mesmo aqueles cujos testes dão negativo, estão sendo abandonados. A natureza perigosa da doença força os trabalhadores assistenciais a repensar como cuidar deles. “Em algumas comunidades, o temor relacionado ao ebola se torna mais forte do que os vínculos familiares”, disse o diretor regional do Unicef para a África Central e Ocidental, Manuel Fontaine. “Essas crianças precisam urgentemente de atenção e apoio especiais; apesar disso, muitas delas se sentem indesejadas e até mesmo abandonadas.”