A polarização no segundo turno entre os candidatos à presidência Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB) transformou a internet em um campo de batalha com uma série de novas possibilidades que muita gente ainda não domina. As eleições deste ano no Brasil têm pelo menos 68,1 milhões de internautas, podendo chegar a 108 milhões de brasileiros conectados se for considerado o uso esporádico em celulares smartphones, no trabalho ou em casa, segundo dados do Nielsen IBOPE. A exposição de um argumento e a conexão entre as pessoas tem o maior alcance da história. A propaganda agressiva dos candidatos, também presente nas redes sociais, ajudou a polarizar as discussões a ponto de romper relacionamentos entre amigos e familiares.

As agressões entre colegas de trabalho, parentes e amigos envolvendo política é mais frequente nas redes sociais por causa da ausência física dos indivíduos. O professor de Comunicação Social da PUC-PR, especialista em mídias sociais e políticas públicas, Zanei Barcellos afirma que há uma liberdade de expor argumentos quando o interlocutor não está presente. O acirramento está em toda a sociedade. Mas nas redes sociais há uma potencialização, porque é diferente de estar cara a cara. Na rede você não está frente a frente com quem está debatendo e as pessoas se sentem protegidas, analisa.
O professor relaciona pelo menos dois comportamentos como causas principais para a revolta dos internautas: a reprodução de conteúdo duvidoso e interpretação de linguagem. As pessoas ainda acreditam na coisa publicada como sendo verdade, percebe. Além disso, a maneira como as pessoas escrevem, em alguns casos, não corresponde à mensagem que queriam passar. Há grande possibilidade de mal entendidos, porque você não tem como saber o tom de voz, a postura. As vezes você coloca uma frase de elogio e é entendido como algo ofensivo, analisa.

Invasão – Outra causa é a sensação de residência na página virtual. Uma das maneiras que determinada postagem aparece é na linha do tempo do usuário que escreve um comentário como se estivesse em um ambiente privado. O comentário aparece no perfil pessoal do usuário que se sente invadido com a mensagem. A dona de uma loja virtual Luciana Pieruccini Martins chama seu perfil no Facebook de casa e discutiu com vizinhos depois de ter a sensação de invasão. As pessoas chegam na sua ‘casa’ e ficam gritando ‘Dilma 13, por que você tem tanta raiva’ e eu tento levar a conversa para mensagem (direta, não pública), só que as pessoas voltam para a página e ficam. Não venha me agredir, reage.

A confusão entre real e virtual tem efeitos em ambos os mundos. O economista e dirigente sindical Pablo Sergio Mereles rompeu relações com o tio depois de uma discussão no Facebook. Enquanto um disse que petistas eram vagabundos o outro dizia que tucanos eram assassinos. Pablo bloqueou o tio no Facebook, impossibilitando que ambos se enxerguem na rede. Ele evita falar de política se encontrar o tio pessoalmente. Meu próprio tio, é um aposentado e partidário do Stroessner (Alfredo Stroessner, comandante do exército do Paraguai, autor de um golpe de Estado na década de 1950); começou a ofender muito, chamou todo petista de vagabundo, aquela apelação; é muito ofensivo quando se sai do campo da ideia e parte para o ódio, lamenta. O economista respondeu a uma ofensa e em seguida bloqueou o tio. Eu sou um contemporâneo da Constituição de 89, quando se tinha uma série de sonhos cidadãos e agora se vê um retrocesso; naquela época as pessoas discutiam ideias para se construir uma sociedade solidária e democrática; e hoje a gente não tem mais um inimigo comum, tanto que a oposição se uniu para derrubar um regime, saúda.