Acusado de envolvimento com o doleiro Alberto Youssef e na mira de um processo de cassação, o deputado federal André Vargas (sem partido) pediu à Câmara uma licença médica de uma semana. A previsão é que o plenário da Casa decida sobre a perda do mandato do ex-petista na primeira semana de dezembro. Na quarta-feira, Vargas comunicou à Secretaria-Geral da Mesa que realizou uma cirurgia na boca e que precisaria se afastar por cerca de uma semana. Ele não deu detalhes sobre o procedimento e ficou de enviar um atestado médico ao Legislativo.
Na semana passada, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara negou um recurso movido por Vargas, no qual ele contestava a decisão do Conselho de Ética que pediu a cassação de seu mandato. Com isso, o caso do ex-petista e ex-vice-presidente da Câmara ficou pronto para a votação final no plenário.
A princípio, a expectativa era que a cassação fosse decidida na semana que vem, de modo que um afastamento médico por uma semana serviria para atrasar a análise do caso. Vargas, que não concorreu à reeleição, tem atuado nos bastidores para evitar a perda do mandato parlamentar neste ano para ao menos preservar seus diretos políticos. No entanto, parlamentares consideram que dificilmente o tema seria votado na semana que vem, já que o Congresso estará totalmente debruçado sobre o projeto que flexibiliza a meta do superávit primário.
O presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), considerou que o adiamento por uma semana é um prazo razoável e tem objetivo de garantir a ampla defesa do parlamentar. Ele negou que haja o risco de o processo não ser votado até o fim dos trabalhos do Congresso neste ano, no final de dezembro. Ele foi cirurgiado e pediu um tempo mínimo necessário para sua recuperação quer seria de uma semana apenas, disse Alves. Ele quer comparecer e se defender no plenário, defendeu.
A estratégia de Vargas é tentar protelar ao máximo a votação para que ela não aconteça antes do encerramento das atividades deste ano no plenário da Casa. Com isso, ele evitaria ser enquadrado na Lei da Ficha Limpa, o que o deixaria inelegível por oito anos. O processo ficou parados dois meses na Comissão de Constituição e Justiça, graças a sucessivas manobras da defesa e de aliados do parlamentar. Para a cassação ser aprovada no plenário, são necessários 257 votos favoráveis.
Em agosto, o Conselho de Ética considerou que Vargas havia quebrado o decoro parlamentar por intermediar, junto ao Ministério da Saúde, negócios do doleiro Alberto Youssef, preso pela Polícia Federal por envolvimento em esquema de lavagem de dinheiro. No último dia 11, a CCJ rejeitou o último recurso apresentado pelo parlamentar. Logo após a rejeição do recurso, Alves havia anunciado que o processo seria votado em Plenário nesta semana, mas precisou rever a decisão por causa da cirurgia de Vargas.
Jatinho – A ligação de Vargas com Youssef, preso no âmbito da operação Lava Jato, veio a público quando foi revelado que ele pegou carona em um jatinho pago pelo doleiro. Nas investigações conduzidas pela PF, Vargas é apontado ainda como o responsável por indicar um ex-assessor do Ministério da Saúde para trabalhar no Labogen, laboratório que, de acordo com a apuração, centralizava o esquema de lavagem de dinheiro de Youssef. Vargas nega ter intermediado essa indicação.