MÁRCIO FALCÃO
BRASÍLIA, DF – Candidato do PT à Presidência da Câmara e se esforçando para se descolar do Planalto, o deputado Arlindo Chinaglia (SP) acusou nesta quinta-feira (18) a Secretaria de Comunicação da Casa de “tentar interferir no resultado da disputa”. O petista ficou irritado com a divulgação pela TV Câmara de que ele foi lançado candidato com apoio do governo.
De partidos da base aliada, Chinaglia e o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), apontado como favorito, transformaram a “independência” da Casa em principal bandeira para tentar conquistar votos dos colegas. Os dois reeditam discursos de disputas anteriores em defesa de maior autonomia do Congresso frente ao Executivo.
Diante do desgaste do Planalto na Câmara, Chinaglia tenta retirar o rótulo de “candidatura palaciana” e para minimizar o discurso de Cunha sustenta que é “dever” do comando da Câmara ter independência.
“Eu quero finalizar [ discurso] com uma reclamação. Ontem, em um dado momento, eu fui assistir à sessão em meu gabinete. E lá estava a notícia, através daquelas letrinhas que correm permanentemente: ‘Deputado Arlindo Chinaglia foi lançado candidato à Presidência da Câmara com apoio do PT, PCdoB, PROS e do governo’. Aliás, se não me falha a memória, diziam, em primeiro lugar, com apoio do governo”, disse o petista.
“Ninguém da Secretaria de Comunicação tem o direito de fazer esse tipo de abordagem porque eles são maduros o suficiente para saber que esse tipo de noticiário é uma tentativa de interferir no resultado da disputa da presidência”, completou.
Ele afirmou que quando foi eleito para comanda a Casa nunca usou da condição de líder do governo, cargo que ocupava na época, para ganhar votos. “Se eu não utilizo, qual é o jornalista, qual é o diretor que tem autoridade, que sabe o que está fazendo, de dizer e fazer discurso de conveniência que este ou aquele candidato é do governo ou é da oposição ou aquele que é carne e peixe ao mesmo tempo?”, questionou.
Segundo o petista, o tratamento foi desigual porque os outros candidatos não foram apresentados como nomes do governo ou de oposição. “Eu não os vejo assim [governo ou oposição]. Qualquer um que venha a sentar naquela cadeira não tem esse direito, nem constitucional nem regimental. E, se alguém tentar, o plenário vai segurar. Essa é uma tentativa de desqualificar a cadeira da presidência”.
ALIANÇAS
Além de Chinaglia e Cunha, o deputado Júlio Delgado (PSB-MG) também oficializou sua candidatura.
Cunha recebeu o apoio nesta quarta-feira (17) das bancadas do DEM, PTB e PRB. Ele já fechou aliança com Solidariedade e PTB. Ao todo, essas bancadas terão 140 parlamentares em 2015. Ele ainda tenta atrair PP e PR. A bancada ruralista, que é formada por parlamentares de vários partidos, também fechou com o peemedebista.
A bancada do PT decidiu colocar o nome depois que Cunha demonstrou resistência em conversar com o partido para costurar um entendimento.
Num almoço, o petista costurou aliança com PROS e PCdoB. O PDT participou do encontro, mas faltou ao evento de Chinaglia. Os pedetistas ainda vão decidir se embarcam na campanha ou se lançam nome próprio. Nos bastidores, dizem que o partido espera uma definição sobre o espaço na reforma ministerial. O partido pode perder o PDT. Até agora, o petista tem apoio de 90 deputados.
Júlio Delgado foi lançado por PSB, PSDB, PV e PPS, que somam 106 deputados. Ele defende que é o único que pode pregar a independência porque não tem ligação com o Planalto e não está em sua base. Em 2012, Júlio disputou a presidência com Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), mas foi derrotado. Na época, ele teve 165 votos