MONIQUE OLIVEIRA
SÃO PAULO, SP – Em meio a uma grave crise financeira na Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, médicos da instituição pediram nesta sexta-feira (19) o imediato afastamento do atual provedor, Kalil Rocha Abdalla. O advogado, reeleito em abril, ocupa pela terceira gestão consecutiva o cargo máximo da entidade.
O pedido do afastamento de Abdalla foi decidido em assembleia pela manhã por cerca de 120 profissionais presentes. O grupo escreveu um documento e colherá assinaturas por toda a instituição.
O apoio para que Abdalla deixe o cargo, dizem os médicos, é maciço e sustentado por todo o corpo clínico. O documento, foi entregue no gabinete do provedor no início da tarde. Procurado, Abdalla não se manifestou. Nesta semana, o provedor disse à reportagem que está confortável na sua função
“Acreditamos que só o afastamento do provedor atual da direção da NOSSA instituição vai possibilitar a transparência devida para as apurações”, escreveram os médicos.
O grupo pede ainda que um novo modelo de gestão, mais democrático, seja pensado para a Santa Casa. Eles também querem mais representatividade e sugerem a criação de uma associação de médicos da casa.
Em entrevista, integrantes do grupo classificaram a gestão de Abdala como “vergonhosa”.
Os médicos dizem que, apesar de nada estar comprovado, a permanência de Abdalla no cargo se tornou insustentável devido aos graves problemas apontados em sua gestão.
Auditorias independentes contratadas pelo governo do Estado apontaram que o hospital tem uma dívida de R$ 773 milhões –e não os pouco mais de R$ 400 milhões informados inicialmente.
Os dados mostram ainda que imóveis da instituição estão alugados por valores até 81% abaixo dos praticados no mercado. Abdalla, além de provedor, ocupa o cargo de mordomo da instituição, função responsável pela carteira de imóveis da entidade.
RENÚNCIA
Os médicos afirmam que a atitude é “desesperada” para salvar a instituição. O grupo cita reportagem da Folha de S.Paulo na qual Abdalla disse “estar confortável no cargo”.
Abdalla só pode ser destituído por renúncia, intervenção judicial ou à pedido da própria irmandade que o elegeu. A expectativa dos médicos é de que o provedor renuncie.
Segundo o grupo, na quarta-feira (17), a superintendência da entidade apresentou a cerca de 50 “irmãos” da instituição, grupo responsável por captar doações e eleger o provedor, comunicado extraordinário apontando uma crise “insolvente” e descrevendo ser “impossível, em curto prazo, honrar débitos com fornecedores, funcionários e dividas fiscais da gestão passada [em que Abdalla também era provedor]”.
Os médicos dizem que a mesa não se pronunciou sobre o caso nem sobre a permanência do provedor, apesar de todos os indícios para o possível fechamento da instituição. Não há, segundo o grupo, nenhuma credibilidade de Abdalla para se manter no cargo e, por isso, o afastamento deve ser imediato.
O Sindicato dos Médicos de São Paulo (Simesp) não participou do encontro. Os médicos não deliberaram sobre salários, atrasados desde o dia 5 e nem sobre a 1º parcela do 13º, que deveria ter sido paga em novembro.