Embora a grande maioria dos cerca de mil dubladores brasileiros estejam concentrados no eixo Rio-São Paulo, ao longo dos últimos anos profissionais de outros estados (destacadamente atores) começaram a investir na dublagem, em busca de colocação em um mercado aquecido devido à demanda de canais por assinatura (o TNT, por exemplo, que partiu para a dublagem duas décadas atrás, foi por muitos anos o líder em audiência na TV paga) e do mercado de videogames.

Em Curitiba, um dos irradiadores da arte é a Escola de Dublagem Curitiba, que por ser a primeira da Capital, levou o nome da cidade. Ali, jovens atores, atores experientes ou mesmo aqueles que são apenas amantes da dublagem podem aprender sobre a técnica. O empreendimento é gerido pela atriz e dubladora Mônica Alves Placha, graduada em Artes Cênicas pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), com especialização em interpretação e direção.

Segundo Mônica, a escola começou a evoluir a partir de 2009. Recém chegada de São Paulo, a atriz, que também fez cursos de dublagem, recebeu o convite do então coordenador do Curso de Artes Cênicas da PUC-PR para demonstrar através de algumas aulas como eram feitas as dublagens. O negócio então começou a ganhar forma, até se tornar uma escola.

Desde que abriu a escola, Mônica já treinou mais de 400 pessoas. As aulas aqui são bem descontraídas, até porque tenho de deixar a turma mais solta, mais à vontade, para poder extrair mais do aluno, explica a professora, salientando que dublagem é imagem, não é voz.

Quem entra na escola passa por três etapas ou módulos. O primeiro, que custa R$ 420, tem 12 horas de duração, divididas em quatro aulas, de terça a sexta. O aluno irá praticar a voz e trabalhar a vivência em estúdio, além de estudar sobre a historia da dublagem, cinema mudo, conhecer um pouco sobre a rotina de estúdio e exercícios de preparação vocal, relaxamento muscular e práticas para manter a voz apta para o exercício da profissão. É nessa etapa também que o aluno irá aprender a técnica fundamental da dublagem, a sincronização dos lábios (chamado de lip sync).

No segundo módulo, que custa R$ 630 e tem 24 horas de duração dividos em oito aulas, o aluno tem apenas aulas práticas em estúdio. Além dos filmes em inglês, trabalha-se também com obras em espanhol, francês, alemão, mandarin, cantonês e coreano. Com o trabalho em equipe, treina-se também a dicção, articulação, análise crítica e construção de texto, sotaque, leitura e interpretação.

Já no terceiro e último módulo, que custa R$ 735 e tem aproximadamente quatro horas de duração, os futuros dubladores confeccionam um portfolio, dublam trechos de um longa e uma animação. Ao final da edição desse terceiro e último módulo o aluno recebe o portfólio e uma listagem de empresas que operam com dublagem, narração e locução em Curitiba. No Paraná, segundo Mônica, a dublagem ainda é basicamente publicitária e institucional, o que significa que vários comerciais de empresas estrangeiras recorrem ao estúdio-escola para a sobreposição das vozes estrangeiras por versões brasileiras.


Profissão

 

Aulas reúnem pessoas de diferentes áreas

As próximas turmas da Escola de Dublagem Curitiba iniciam as aulas no próximo dia 11 de agosto, e alguns nomes já são presença garantida, entre eles o ator Bruno Rodrigues, de 24 anos, o supervisor de tecnologia da informação, Francisco José Teixeira, 33, e a jornalista Mari Bellegard, 28. Todos estão completando o segundo módulo do curso e agora se preparam para a etapa final.

Atualmente em cartaz com a peça Leocádio: A vida continua, no espaço cultural Falec, Bruno conta que sempre gostou de dublagem. Um dia, durante uma conversa despretensiosa, acabou desconbrindo a escola, que fica no Boa Vista (Rua José Mehry, 1395).

Eu nunca trabalhei como dublador, mas estou adorando o curso. Tem sido uma boa experiência e está me ajudando muito na interpretação, construção de texto e também no entendimento de cena, afirma.

Francisco, por sua vez, chegou ao curso por meio da internet. Também fã de dublagem, o supervisor de TI jamais havia se imaginado dublando, mas agora já pensa até em trocar de área. Eu adorei o curso, achei até mais do que esperava. Se não conseguir trabalho na área, terá sido uma diversão. Mas espero conseguir algo na área, conta. Como trabalho com TI, mexo muito com jogo, e tem aparecido muita coisa dublada. Como eu acho isso legal, acabei juntando a fome com a vontade de comer, brinca.

Já a jornalista Mari Bellegard encontrou no curso de dublagem uma forma de dar um plus ao seu mais novo empreendimento, o canal do YouTube, Acho Chic. Fiquei muito tempo trabalhando na televisão, mas chegou uma hora que eu não queria mais aparecer tanto. Foi quando decidi vir para a dublagem. Eu tenho esquetes de humor no meu canal, e a ideia é usar as técnicas que estou aprendendo aqui para fazer alguns desses trabalhos, finaliza.