SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A Otan (aliança militar do Ocidente) diz estar preparada para enviar tropas à Turquia a fim de protegê-la frente à ameça representada pela escalada da intervenção russa na vizinha Síria. “A Otan está capacitada e pronta para proteger todos aliados, incluindo a Turquia, caso seja necessário”, disse nesta quinta-feira (8) o secretário-geral da aliança, Jens Stoltenberg. A declaração ocorreu antes do início de uma reunião em Bruxelas, na Bélgica, entre os ministros da Defesa dos 28 países-membros da Otan sobre a “preocupante escalada das atividades militares russas” na Síria e “suas implicações para a segurança” do bloco. Os atritos entre a Otan e o Kremlin vêm crescendo desde que a Força Aérea russa iniciou, na semana passada, uma operação na Síria em favor do regime do ditador Bashar al-Assad sob o pretexto de atacar o Estado Islâmico (EI) e outros grupos radicais. A tensão entre Moscou e Ancara aumentou a partir do fim de semana, quando jatos russos que operam na Síria invadiram duas vezes o espaço aéreo turco. A ação irritou a Otan e o governo turco, que chegou a ameaçar abater as aeronaves caso a violação se repetisse. “Não queremos quaisquer tensões com a Rússia, mas é nosso direito como vizinho esperar que a Rússia respeite as fronteiras e o espaço aéreo turcos e que respeite os interesses da Turquia com relação à Síria”, disse na quarta-feira (7) o premiê turco, Ahmet Davutoglu. O presidente turco, Recep Tayyp Erdogan, disse nesta quinta-feira que as ações militares da Rússia na Síria podem afetar sua parceria comercial. “Perder a Turquia pode ser uma grande perda para a Rússia”, disse Erdogan. “Se necessário, a Turquia pode buscar comprar gás natural [importante commodity russa] de lugares diferentes.” Buscando apaziguar o clima de tensão, a Rússia reiterou nesta quinta-feira querer manter boas relações com a Turquia. “Com relação à operação da Força Aérea russa na Síria, nossas ações para proteger a Síria contribuem para garantir estabilidade e segurança na região próxima à fronteira com a Turquia”, disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov. ESCALADA MILITAR A escalada militar da guerra civil na Síria alcançou um novo patamar na quarta-feira, quando a Rússia disparou dezenas de mísseis contra alvos do EI a partir de navios de guerra no mar Cáspio, a 1.500 quilômetros de distância. Também na quarta-feira, o Exército sírio iniciou uma grande ofensiva por terra, com o apoio de bombardeios russos, para retomar áreas controladas por grupos de oposição nas províncias de Hama e Idlib, no centro do país. Segundo o Observatório Sírio pelos Direitos Humanos, organização baseada no Reino Unido, os recentes combates entre os rebeldes e as tropas pró-Assad são os “mais intensos em meses”. Nesta quinta-feira, o regime sírio expandiu sua operação para áreas na porção ocidental do país. O controle dos rebeldes sobre as áreas próximas ao Mediterrâneo, única saída da Síria para o mar, ameaça a estabilidade de Assad e a presença militar russa em bases próximas às cidades de Tartus e Latakia. A guerra civil na Síria teve início em março de 2011, na esteira dos acontecimentos relacionados ao levante popular conhecido como Primavera Árabe. Desde então, grupos de oposição e milícias radicais assumiram o controle de partes do país, fragmentando seu território. O conflito já deixou cerca de 250 mil mortos e forçou o deslocamento de 11 milhões de pessoas, o que corresponde a quase metade da população síria.