BRUNA FANTTI
RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – O prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), classificou como “típico papo de boquirroto” as declarações do advogado Edson Ribeiro sobre um suposto acordo firmado com o senador Romário (PSB-RJ) em torno da candidatura do deputado federal Pedro Paulo na sucessão municipal em 2016.
Em gravação, Ribeiro insinuou que o senador teria feito um acordo com Paes -para se livrar de acusações sobre uma conta que mantinha na Suíça, Romário daria seu apoio a Pedro Paulo, candidato do atual prefeito do Rio.
“O que eu ouvi ali foi um advogado boquirroto numa reunião pré-crime fazendo ilações sobre o senador Romário. O senador Romário é um homem sério, que teve uma acusação contra ele há alguns meses e o próprio órgão de imprensa que o acusou voltou atrás. Então, é o típico papo de boquirroto”, disse Paes nesta quinta-feira (26) durante evento no Parque Olímpico de Deodoro, na zona norte carioca.
A menção à troca de favores entre Paes e Romário ocorreu durante uma conversa gravada em uma reunião do senador Delcídio do Amaral (PT-MS), líder do PT no Senado, com Bernardo Cerveró, filho de Nestor Cerveró (ex-diretor da Petrobras preso na operação Lava Jato). Também participaram deste encontro o chefe de gabinete de Delcídio Amaral, Diogo Ferreira, e o advogado Edson Ribeiro, um dos responsáveis pela defesa de Cerveró.
Delcídio e Ferreira foram presos nesta quarta (25) em decorrência do conteúdo desta gravação.
O advogado Ribeiro teve sua prisão decretada, mas não foi detido porque está nos Estados Unidos.
O propósito da reunião era tentar dissuadir o ex-diretor da Petrobras de fazer um acordo de delação premiada. Antes de entrar no tema do encontro, no entanto, houve o diálogo sobre a conta de Romário na Suíça.
REUNIÃO
Logo no início da gravação, Delcídio Amaral pediu desculpas por seu atraso. O motivo: um encontro entre Romário, o prefeito do Rio e Pedro Paulo.
“Hoje eu estava com a minha agenda toda organizadinha para estar aqui às 13h. Aí, para acabar de complicar ainda mais o jogo, me aparece o Eduardo Paes, com o Pedro Paulo, com o Romário e com o [Ricardo] Ferraço [senador do PMDB]”.
Amaral demonstrou surpresa pela presença dos três juntos, já que Romário era um dos cotados para ser candidato à Prefeitura do Rio e Pedro Paulo, secretário-executivo de Paes, é o escolhido do atual prefeito para a disputa.
“Ué, [os três] fizeram acordo, né?”, questiona o advogado Edson Ribeiro. “Diz o Eduardo que sim”, responde Amaral. “Foi Suíça, foi Suíça”, afirma Ribeiro, completando: “Tinha a conta realmente do Romário”.
O advogado refere-se a reportagem da revista “Veja” de 27 de junho, que mostrou o extrato de uma conta-corrente no banco suíço BSI atribuída ao ex-jogador, com saldo equivalente a R$ 7,5 milhões.
A veracidade do extrato foi questionada pelo senador e, após o banco negar que a conta fosse de Romário, a revista se retratou.
Na continuação da conversa, em um trecho cuja audição não é clara, Ribeiro diz a Delcídio que “seu amigo do banco, que foi comprado” [o banco suíço BSI foi comprado em 2014 pelo BTG Pactual, de André Esteves e que tem como diretor e sócio Guilherme da Costa Paes, irmão do prefeito do Rio] teria dito a Romário “tira [o dinheiro da conta], porque senão tu vai preso”.
Em seguida, Amaral diz ter ficado surpreso com a aliança: “Eu achei estranho. Eles chegaram e [eu perguntei:] ‘Romário o que você tá fazendo aqui?’. Ele disse: ‘Tô acompanhando o Eduardo'”. Segundo o senador petista, Paes, a quem chama de “companheirão”, teria lhe dito então que acertara uma aliança com Romário para que ele apoiasse a candidatura de Pedro Paulo.
Nesta quinta (26), Paes confirmou a reunião com Amaral, Romário e Pedro Paulo, mas disse que o grupo discutiu um projeto relacionado à dívida ativa de Estados e municípios.
“Eu e o senador Romário junto com o senador Ricardo Ferraço fomos ao gabinete do presidente de assuntos econômicos do senado para aprovar um projeto, de autoria do senador José Serra e do Romário que resolveria o problema de dívida do município”, afirmou o prefeito do Rio.
“Estou tentando o apoio do Romário para a candidatura do Pedro Paulo há muito tempo. Em nenhum momento [da gravação] você vê o Delcídio dizer algo sobre conta do Romário na Suíça “, disse Paes.
LEIA TRECHO DA CONVERSA EM QUE ROMÁRIO É CITADO
Delcídio conta que se surpreendeu ao ver o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), com o deputado e ex-jogador Romário (PSB-RJ). Conta então que eles fizeram um acordo para apoiar a candidatura do secretário de Governo, Pedro Paulo. E sugere que o acordo envolveu algo a respeito de uma conta de Romário, que seria real. Meses atrás, a revista “Veja” noticiou que Romário tinha uma conta na Suíça, informação que foi desmentida pelo banco suíço BSI e gerou um pedido de desculpas da publicação. Curiosamente, um irmão de Paes é sócio do BTG Pactual, de André Esteves, instituição que comprou o BSI no ano passado.
DELCÍDIO: Hoje eu estava com minha agenda toda organizadinha, só a partir das 13 horas. Aí, pra acabar de complicar ainda mais o jogo, me aparece o Eduardo Paes, com Pedro Paulo, com Romário e com [o senador do PMDB-ES Ricardo] Ferraço.
EDSON: Fizeram acordo, né?
DELCÍDIO: Diz o Eduardo [Paes] que fez.
EDSON: Tinha conta realmente do Romário.
BERNARDO: Tinha essa conta?
DELCÍDIO: E em função disso fizeram acordo.
EDSON: Seu amigo então foi comprado. Tira porque senão você vai preso.
DELCÍDIO: O que eu achei estranho [no encontro, foi] ele ter chegado: “O que você, Romário, o que você tá fazendo aqui?”. “Não, não, vim, tô acompanhando o Eduardo”.
EDSON: Esquisito
DELCÍDIO: Esquisito pra caramba. Aí o Eduardo falou assim: “Não Delcídio”, porque [com] o Eduardo tenho intimidade, o Eduardo foi companheirão meu aqui, principalmente na CPI dos Correios, ele foi meu braço direito aqui. Aí ele disse: “Não, Delcídio, eu chamei aqui o Romário”, na frente do Romário, “chamei o Romário, ó, nós acertamos uma aliança: o Romário apoiar o Pedro Paulo”. É isso que ele tá falando. Mas tem esse motivo.