MARCELO NINIO
WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) – Em uma importante vitória política da China, o FMI (Fundo Monetário Internacional) anunciou nesta segunda (30) a inclusão do yuan em sua cesta de moedas de reservas. A moeda chinesa se junta às demais que compunham a cesta, o dólar americano, o euro, o iene japonês e a libra esterlina.
O Comitê Executivo do FMI, que representa os 188 membros do Fundo, afirmou que o yuan cumpre a condição de ser uma moeda “livremente utilizável” para ser incluída na cesta. A conclusão é contestada por muitos economistas, que apontam para as restrições econômicas impostas pelas autoridades de Pequim.
A inclusão entra em vigor no dia 1º de outubro de 2016. Segundo o FMI, o peso do yuan na cesta será de 10,92%, contra 41,73% do dólar, 30,93% do euro, 8,33% do iene e 8,09% da libra.
Para a diretora-gerente do Fundo, Christine Lagarde, a inclusão do yuan na cesta de reservas do FMI é “um importante marco na integração da economia chinesa no sistema financeiro global”. Também é um reconhecimento do progresso das autoridades chinesas nos últimos anos em reformar a economia e o sistema financeiro do país, acrescentou Lagarde.
“A continuação e o aprofundamento desses esforços contribuirão para um sistema monetário e financeiro internacional mais robusto, que por sua vez dará suporte ao crescimento e à estabilidade da China e da economia global”, afirmou a diretora-gerente.
DIVERSIFICAÇÃO
A cesta de moedas, ou Direitos Especiais de Saque (SDR, na sigla em inglês), foi criada em 1969 para complementar as reservas dos bancos centrais e dar apoio ao sistema de taxas de câmbio fixas estabelecido pelos acordos de Bretton Woods, de 1944.
Conhecidos como “a moeda do FMI”, os SDR tem sua composição reavaliada a cada cinco anos. A campanha chinesa pela diversificação da cesta é antiga, mas na última revisão, em 2010, o FMI decidiu não adicionar o yuan por considerar que a moeda ainda não era “livremente utilizável”.
CRITÉRIOS
Dois critérios básicos são levados em conta para a inclusão de uma moeda no SDR. O primeiro é uma participação significativa nas exportações mundiais da economia atrelada à moeda. Tal requisito é amplamente cumprido pela China, que em 2013 superou os EUA como a maior potência comercial do planeta. O segundo é que a moeda seja plenamente conversível, ou seja, que o Estado emissor mantenha uma conta de capital aberta para que investidores de outros países possam negociar ativos nessa moeda com base nas forças de mercado.
Esse segundo critério é controverso. Segundo alguns analistas, provocou divisões entre técnicos do FMI, que hesitaram em corroborar a conclusão de que a moeda chinesa é “livremente utilizável”, uma vez que ela pode variar no máximo dentro de uma banda de 2%. Para Jake van der Kamp, comentarista de finanças do jornal “South China Morning Post”, de Hong Kong, o critério foi principalmente político.
Segundo ele, é compreensível que a decisão tenha causado divisões entre membros do comitê do FMI. “Eles estão absolutamente certos em ficar hesitantes. Os ricos da China não tem nenhum problema em driblar os controles de capital, mas o homem comum enfrenta sérios obstáculos para converter suas economias para uma moeda diferente”, escreveu. “A conta de capital ainda é fechada, apesar da retórica do PboC [banco central chinês]”.