LUANA MARTTINA
MACEIÓ, AL (FOLHAPRESS) – Como muitos jovens de sua idade, o modelo alagoano Eric Ferraz se dividia entre os estudos e o trabalho, gostava de sair com os amigos e a namorada e fazia planos para o futuro. Mas, durante uma festa de Réveillon, ele entrou para a estatística de jovens assassinados no Estado que lidera o ranking de mortes violentas entre homens de 20 a 24 anos.
Divulgada nesta segunda-feira (30), a pesquisa Estatísticas do Registro Civil, realizada pelo IBGE, mostrou que Alagoas registra 332 mortes violentas para cada 100 mil habitantes nessa faixa etária. Há dez anos, a proporção era de 130 jovens mortos por 100 mil pessoas da mesma idade. Entre as causas violentas estão os assassinatos e os acidentes de trânsito.
O pai de Eric, o funcionário público Edglemes Santos, 55, não consegue esquecer a forma banal como a vida do filho, de 24 anos, foi tirada em uma festa de virada de ano. Enquanto todos celebravam a chegada de 2012, em meio à apresentação de grupos musicais na cidade de Viçosa (AL), Eric foi assassinado a tiros. O motivo, segundo testemunhas, foi banal: uma discussão iniciada depois que um homem paquerou a namorada do modelo. Eric morreu no local, antes de o socorro chegar.
“Eric era um rapaz bonito, cheio de vida e deixou um vazio que nada pode completar”, diz o pai. “Sempre sonhei em ver meu filho se realizar profissionalmente, em ser avô através dos filhos dele. Era um dia de festa e meu filho foi morto covardemente. E, a cada dia, mais jovens são mortos no que parece uma guerra sem fim”, afirma Edglemes.
A irmã de Eric, a psicóloga Valéria Ferreira, hoje com 24 anos, diz que depois da morte do irmão vive com medo. “Eu dividia o quarto com ele, sinto uma saudade imensa. Desde que ele foi assassinado, eu vivo com medo. Não confio em mais ninguém, me privo de sair em certos horários e sempre que pego um táxi envio a placa do carro para os meus pais”, conta a jovem.
Os assassinos de Eric, dois irmãos, serão julgados no próximo dia 9.
Para a socióloga e professora da Universidade Federal de Alagoas (UFAL) Ruth Vasconcelos, é preciso recuperar a capacidade de indignação e transformá-la em ações que questionem essa realidade “perversa, injusta e desigual”, em que as motivações dos crimes contra jovens são “absolutamente fúteis e banais” e os “pobres e pretos” são as principais vítimas.
“A maioria resulta de conflitos interpessoais que poderiam ter sido evitados se existisse uma disposição para o diálogo e a possibilidade de conviver com as diferenças”, diz.