Paulo Gustavo chega cedinho ao set. Maquia-se e fica o dia inteiro vestido de mulher, encarnando a persona ‘Dona Hermínia’. É surreal. Você não sabe se fala com ele/ela no masculino/feminino. Paulo Gustavo recebe o repórter no trailer. “Aqui é mais freisssco”, e carrega nos esses. É a terceira semana de filmagem de Minha Mãe É Uma Peça 2. A equipe está terminando a filmagem no estúdio, em Curicica. Nesta quinta (21), e o dia já passou, filma no aeroporto do Galeão. Você se lembra do fim do 1. Dona Hermínia vira estrela de televisão. No 2, ela está rica, mora num apartamento de luxo — em Niterói, de frente para o mar. Chega a irmã descolada de Nova York. Entra em cena Patrícia Travassos. “Patrícia está sendo um presentão para mim. É como um irmã de verdade.”

A cena filmada mostra Lúcia Helena/Patrícia chegando na casa da irmã. Prim-prim — é a campainha tocando. Dona Hermínia atende, a irmã entra feito um furacão. “Que mala é essa?” E não adianta Dona Hermínia querer tirar o corpo fora. Lúcia Helena para ficar O diretor César Rodrigues filma em plano único. As ‘crianças’ — Marcelina e Juliano — veem a tia e saltam sobre ela. “Nova-iorquina! Nova-iorquina!” Festa familiar, exceto pela cara emburrada de Dona Hermínia. “Não seja chata, mãe”, diz a filha. César muda o ângulo, o foco. Manda um recado. “Isso aqui é cinema, não é TV.” É a crítica mais frequente feita às comédias que viraram blockbusters do cinema brasileiro. São televisivas. “Aqui, não”, ele anuncia. A decupagem é de cinema.

Iafa Britz está de novo no comando da produção. Desde que o 1 fez 4,5 milhões de espectadores, o mercado pedia Minha Mãe É Uma Peça 2. “A gente sempre falou da sequência, mas o filme só começou a andar no ano passado, quando Paulo e Fil Braz tiveram a ideia para o roteiro. E tivemos de armar uma logística infernal para filmar em quatro semanas cravadas porque esse cara (Paulo) tem uma agenda lotadíssima. Está sempre gravando os programas de TV, viajando pelo Brasil com as peças. Mas é sempre um prazer trabalhar com o Paulo. O set é essa alegria que você está vendo.” Com o fone de ouvido, o repórter flagra uma conversa íntima de Paulo e Patrícia durante o ‘break’, enquanto esperam pela próxima rodagem. Lamentam como é difícil a vida de celebridade. Para ‘ficar’, então… Tem sempre um fotógrafo ou repórter chato atrás. Saudades do tempo em que o chuchu abundava na serra.

Não deixa de ser uma contradição, em termos — embora o clima seja descontraído, o ambiente é de muita concentração. Todo mundo — artistas e técnicos — dá o melhor de si. “A gente faz comédia com seriedade”, comenta o diretor. César Rodrigues fez a versão brasileira do High School Musical, que era muito cuidada — em termos de produção —, mas foi um fiasco de bilheteria.

‘Cesinha’, como o chama Paulo Gustavo, fica lisonjeado por ter sido convidado para dirigir Minha Mãe 2, mas percebe o que não deixa de ser uma armadilha. “O 1 foi aquele estouro. Se o 2 for bem, o mérito é do Paulo. Se não for — toc-toc, cadê uma madeira para bater? —, de quem é a culpa? Do César.” Mas não há por que duvidar que o 2 vá repetir o êxito. Patrícia Travassos fala de Lúcia Helena. “A Hermínia parou no tempo, a outra irmã, mais ainda. Aí chego eu de Nova York, do centro do mundo, cheia de modismos. Minha personagem chega para sacudir.” Pelo que o repórter viu filmar, é muito engraçada. A grande novidade — Paulo Gustavo criou uma distribuidora para distribuir seus filmes. “Mas vou distribuir só os meus”, avisa. Minha Mãe É Uma Peça 2 está apontado para estrear na última quinta-feira do ano, 29 de dezembro. A ideia é que seja o blockbuster nacional de janeiro de 2017.

Paulo Gustavo conversa com o repórter em seu trailer no set de Minha Mãe é Uma Peça 2. Trailer? O homem é um astro, mas para toda a equipe é só o Paulo, um amor de pessoa.


Família todo mundo ama e odeia

Sua mãe, todo mundo conhece, até pela peça e pelo filme. Mas e seu pai, qual a importância dele em sua vida?
Paulo Gustavo — Minha mãe, todo mundo sabe. Transformei numa personagem que interpreto. Criei-me nessa casa de mulheres. Mãe, tias. Meu pai não tem nada a ver com o do filme (Herson Capri, sempre às voltas com periguetes). Eles se separaram, mas permaneceram muito ligados. Inclusive, minha mãe sempre foi amiga da mulher dele. E a verdade é que meu pai foi fundamental para mim. Ele era funcionário, um cara muito regrado, cumpridor de horários, provedor da família. Mas ele, e é uma coisa incrível, conversava cinco minutos com uma pessoa e já percebia o que a diferenciava. Com isso, era um imitador genial. Meu pai fazia a gente rir muito com suas imitações. Acho que minha vontade de fazer humor vem dele.

O filme troca de diretor em relação ao 1. O que muda com o César Rodrigues?
Gustavo — O humor continua familiar e o César tem essa coisa boa, que é o olho de cinema. No Vai Que Cola – O Filme, ele já criou outro produto, diferente da TV. Aqui, sinto que está mudando bastante. O timing, a decupagem (os planos). Mas na essência continua a ser Dona Hermínia, os filhos e a irmã, que vem bagunçar ainda mais a já bagunçada vida da família. Acho que é o que explica o sucesso. Família todo mundo tem, todo mundo ama e odeia. E o filme é sobre isso.

Como você escreve o roteiro com Fil Braz?
Gustavo — O Fil não é só roteirista. O Fil me completa. Mesmo na TV, onde tenho uma equipe incrível de roteiristas, o Fil chega para colocar o texto final na minha embocadura. A gente se cobrava essa sequência, mas não encarava de fato. Quando a Iafa ameaçou nos matar, a nova trama saiu rapidinha. Daí foi só escrever.

Você está criando uma distribuidora só para colocar Minha Mãe É Uma Peça 2 nas salas. Não ficou satisfeito com a Paris/Downtown, que distribuíram Minha Mãe É Uma Peça?
Gustavo — Não é isso, e tanto que a distribuição do filme vai ser uma parceria da distribuidora que estou criando, a Diamond Back, com a Paris e a Downtown. A produção é da Migdal de Iafa Britz, parceiraça desde o primeiro filme. Mas a verdade é que senti a necessidade de uma distribuidora só para cuidar dos meus filmes. Não é uma distribuidora tradicional. Não vou distribuir os filmes dos outros. Só os meus. São filmes grandes, que têm essa vocação de mercado. A Diamond vai cuidar deles. O nó do cinema é sempre a distribuição. Vou me sentir mais garantido assim.