A crise econômica no país, resultando na perda do poder de compra da população e numa crescente da taxa de desemprego já traz reflexos aos índices de criminalidade do Estado e também de Curitiba. Segundo dados da Secretaria da Segurança Pública, são cada vez mais frequentes os crimes de roubo, enquanto o índice de furtos se mantém estável. Na definição, um roubo é quando há ameaça à pessoa. 

De acordo com os relatórios estatísticos da Sesp, desde 2012 o índice de roubos vem numa crescente tanto no Estado como na Capital. No Paraná, haviam sido 56.778 ocorrências naquele ano (média de 156 por dia), menor índice para os cinco anos em análise (2011-2015). No último ano, porém, o número de registros já havia subido 24,7%, chegando a 70.789 (194 casos por dia).

Em Curitiba a situação se repete. Em 2012 foram 24.379 ocorrências (67 ocorrências por dia), enquanto em 2015 foram 32.971 registros (90 ocorrências por dia), o que representa uma alta de 35,24% no índice de roubos na Capital.

Um fato curioso, porém, é que ao mesmo tempo em que o índice de roubos vem crescendo ano após ano desde que a crise econômica começou a dar seus primeiros sinais, em Curitiba o índice de furtos vem se mantendo estável, com pequenas variações ano a ano, tanto para cima quanto para baixo.

Cinco anos atrás, em 2012, a Capital registrou 43.147 furtos (118 por dia). Em 2015, foram 43.775 (120 por dia), uma tímida variação de 1,5%. No mesmo período, a variação do índice no estado foi mais sensível: 10,67%, passando de 151.696 para 167.882. Ainda assim, no entanto, uma variação muito abaixo da registrada sobre o índice de roubos.

Em um estudo recente, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) já apontava o possível aumento dos índices de criminalidade diante do cenário econômico em degradação. Em A segurança pública no Brasil em 2023: uma visão prospectiva, o Instituto já apontava que o retrocesso social decorrente da piora da situação econômica do país poderia ter reflexos negativos nos índices de criminalidade e, mais que isso, aparecer como agravante importante no futuro.

Para sustentar a tese, o Ipea apontava como efeitos da crise sobre a segurança a retração dos gastos públicos em medidas socioeducativas e execução penal, o agravamento da situação das polícias, com menos recursos para investigações e elevada tensão sobre reposição salarial, e o crescimento dos mercados legais e ilegais explorados por fações criminosas.

Criminologia e a crise econômica no país

Essa relação entre crise econômica e aumento da criminalidade, inclusive, é algo estudado há mais de 40 anos pela criminologia, ciência que estuda o crime como realidade social e humana. Em um artigo publicado nos anos 1980, por exemplo, Ignácio Rangel, economista e advogado brasileiro, escrevia:

Assistimos ao agravamento das taras do esquema de distribuição de renda, em aumento do desemprego. Tudo isto conflui para a gestação de um clima de protesto, o qual, antes de encontrar expressão política amadurecida, assume a forma de uma criminalidade urbana que, por suas dimensões e características, ultrapassa os quadros cobertos pela simples criminalística.

Mais recentemente, foi vez da advogada Adriana Cristina Garrido publicar um estudo sobre o assunto, no qual apontava que quando emergem as crises econômicas, mais se instiga a criminalidade, assinalando ainda que nessas situações o crime adota um caráter patológico-social. Dos fatores que influenciam na criminalidade, o mais importante, o predominante, é o econômico, finaliza.

 

Rápida

Furto e Roubo

O crime de furto se configura quando um ladrão toma algo que pertence a outra pessoa sem estabelecer contato com ela. Ou seja, se alguém entra numa casa vazia e leva bens de valor, tem-se crime de furto, previsto no artigo 155 do Código Penal (de um a quatro anos de cadeia). Já o crime de roubo é quando há contato, violência ou ameaça contra a vítima. Como envolve violência contra alguém, é um crime mais grave do que o furto: descrito no artigo 157 do Código Penal, prevê pena de quatro a dez anos de prisão.