Um pênalti claro de Wilson em Deivid no primeiro tempo, não marcado. A estrela do britânico naturalizado turco Kazim-Richards. Atletiba não é pra qualquer um e qualquer detalhe conta. Na noite de ontem, o Coritiba saiu da ZR – e fica assim desde que o Botafogo não vença o Galo em Minas – e segurou a ascensão do Atlético. Foram 90 minutos de um jogo muito mordido, sem um domínio claro, mas pesaram os detalhes.

Apito desastroso
Thiago Duarte Peixoto, de São Paulo, não deu um pênalti claro de Wilson em Deivid, numa saída de fazer inveja à Van Damme, e também falhou ao não expulsar João Paulo após a entrada em cima de Otávio. Qualquer ângulo da TV vai testemunhar. O choro atleticano procede. Num jogo tão igual, um pênalti e uma expulsão fariam total diferença. Peixoto sentiu o clássico, esses lances foram os capitais. Mas ao longo dos 90, foi péssimo. Fosse a FPF forte politicamente e Peixoto levaria uma geladeira e tanto. Mas somente o mercado local – se tanto – vai cobrar o paulista.

A Estrela
Kazim-Richards, anglo-turco (algo que será menos comum após o Brexit) só não foi o assunto da semana por que não se sabia se jogaria ou não. Jogou. E quando entrou, lembrei de Ariel Nahuelpan, que mais dia menos dia irá vestir o vermelho do Inter gaúcho nesse Brasileirão. Kazim teve a estrela dos grandes artilheiros: na oportunidade, empurrou pra dentro a única bola possível. Gol que fez a torcida coxa-branca sonhar. Não foi só a saída da ZR, nem só a vitória no clássico. Foi também um momento de afirmação. O Coritiba contrariou a lógica dos 90, mas confirmou sua história, como não acontecera no Estadual. O Atlético amargou uma derrota que não mereceu, mas que viveu repetidamente por vários fatores.

O freguês voltou?
Gosto de filosofar, quem lê a coluna sabe. O futebol é o maior inimigo dos comentaristas, narradores, cronistas: ele, como a vida, desmente você segundos depois. Por isso é que apaixona. Um bom amigo me dizia à tarde: o Coritiba tem uma supremacia regional, algo meio inexplicável, que é do futebol. Nacionalmente, hoje, o Atlético é maior. Mas no tete-a-tete, dá Coxa. Não respondi. Um jogo apenas é pouco para dizer isso, mas foi o suficiente para a torcida alviverde cantar ao final do jogo. Clássico é isso, e a cada Atletiba o Atlético acaba por não comprovar a supremacia que de fato teria. Tem o melhor estádio, o melhor CT, vai bem no nacional, é maior em torcida, em repercussão. Em quase tudo, menos nos 90 minutos. Ali, no pau a pau, o Coxa tem sido melhor. Talvez o Coritiba precisasse jogar todas as rodadas como se fossem Atletibas. Talvez o Atlético precise jogar todo Atletiba como se fosse um jogo comum.

Vamos subir?
A vitória do Paraná em São Januário foi empolgante, apagou o tropeço contra O Luverdense (me irrito com o A para um Esporte Clube). O Paraná sofre com as expectativas. Deve se mirar na Chapecoense: um clube que sabe que não pode hoje ser mais do que é, aceita seus tropeços, organiza seus erros e comete poucos. Alguns erros do Tricolor são culpa nossa. Da mesma forma, o Londrina ronda o G4. Pra quem chegou da C ontem, tá lindo demais. Que bom seria. Que bom será.

Napoleão de Almeida é narrador esportivo e jornalista especializado em gestão