O telefone pode tocar duas, talvez até três vezes. Há a certeza, porém, que do outro lado alguém atenderá, independente do horário. É que na casa de número 35, na Rua Carneiro Lobo, bairro Água Verde, o plantão é 24 horas — afinal, nunca se sabe quando alguém pode precisar de um ombro amigo, de um bom ouvinte para desabafar. Ali fica a sede de Curitiba do Centro de Valorização da Vida (CVV), uma associação filantrópica que presta serviço voluntário, gratuito e sigiloso de apoio emocional e prevenção do suicídio.
De acordo com dados do Ministério da Saúde, o Paraná registra a cada dois dias três suicídios. Em 2014, último ano com dados disponíveis no Datasus, foram 574 óbitos por lesão autoprovocada. O número de tentativas, porém, é pelo menos o triplo, com cinco tentativas de suicídio por dia (ao todo, 1.738 em 2014). Não à toa setembro é, desde 2014, o mês Amarelo, uma campanha de conscientização sobre a prevenção do suicídio.
Para conseguir dar conta da demanda crescente e do problema cada vez mais evidente, o CVV conta com uma grande equipe de voluntários que desde o ano passado praticamente dobrou, chegando a 86 atendentes. Ao mesmo tempo, aumentou também o número de atendimentos em Curitiba, que passou de 900 por mês em 2015 para 1.400 neste ano, um salto de 55,6%.
Segundo Claudiane Cassol, da Comissão de Divulgação da CVV Curitiba, dois fatores explicam o aumento no número de atendimentos: o apoio que a imprensa tem dado à iniciativa nos últimos meses e também a crise econômica no país.
Do ano passado para cá tivemos bastante apoio da mídia, divulgamos o CVV, e realizamos vários cursos para novos voluntários, tanto que praticamente dobramos o número de atendentes, explica Claudiane. É muita solidão, muita solidão, e muita angústia por causa da crise, demais. Então somos esse ombro-amigo, esse pronto-socorro emocional, complementa.
Desde 1962 no Brasil, a instituição fundada em São Paulo já marca presença em mais de 18 estados e o Distrito Federal, e conta com 72 postos de atendimento — no Paraná, além de Curitiba, o Centro também está presente em Maringá, na região norte. Para entrar em contato com os voluntários, basta ligar para os telefones 141 (24 horas) ou (41) 3342-4111 – Curso (número de atendimento e de informações, ir pessoalmente nalgum posto de atendimento ou entrar em contato pela internet, através do site www.cvv.org.br via chat, VoIP (Skype) e e-mail.
Nosso ponto forte é o sigilo, a confiança que a pessoa tem em ligar para o CVV. Quando ela liga, o voluntários não dá direções do que ela deve fazer da vida dela. Entendemos que a pessoa tem um poencial dentro dela e que, enquanto voluntários, ajudamos ela a buscar esse potencial, explica Claudiane. Então só facilitamos o desabafo. É como se esclarificasse na cabeça dela algumas direções que ela mesma tem na cabeça, finaliza.
