DIOGO BERCITO
MADRI, ESPANHA (FOLHAPRESS) – O empresário espanhol Francisco Correa, o principal acusado do caso Gürtel, admitiu ter cobrado propina em troca de contratos públicos, entregando parte do dinheiro a Luis Bárcenas, ex-tesoureiro do PP (Partido Popular), sigla do premiê da Espanha, Mariano Rajoy.
A confissão foi parte de seu depoimento à Justiça nesta quinta-feira (13). Espécie de Lava Jato espanhola, Gürtel é um dos maiores escândalos de corrupção da história recente do país.
Além de reconhecer o financiamento irregular do PP, Correa afirmou que a sede do partido em Madri era sua “casa”. “Estava mais tempo ali do que no escritório.”
Correa é considerado pela Justiça espanhola como o líder da rede de corrupção, razão pela qual dá nome ao caso. “Gürtel” é o alemão para o espanhol “Correa”.
Ele confessou, durante o depoimento, uma série de irregularidades, como os presentes entregues ao ex-marido de Ana Mato, ex-ministra da Saúde -incluindo dois carros. Correa afirmou, porém, que presentear empresários com quem se faz negócios é “prática habitual”.
“Eu não tinha nenhuma consciência de estar cometendo delitos”, afirmou. “Estou pagando. Peço desculpas publicamente ao tribunal e ao Ministério Público.”
SILÊNCIO
Correa passou oito anos calado, fugindo da imprensa, até o surpreendente anúncio feito em 30 de setembro de que iria colaborar com a Justiça espanhola. Em troca, sua pena pode ser reduzida.
Ele disse que iria “contar tudo o que sabe” em seu depoimento. “Nenhum político fez nada por mim durante esses anos”, Correa afirmou ao jornal local “El País”.
A promotoria pede que ele seja condenado a mais de cem anos de prisão. Pelas regras locais, a sua delação pode ser premiada com a redução da pena em até dois terços.
Correa ofereceu também 2,2 milhões de euros de suas contas na Suíça para que a Justiça restitua às vítimas de seus esquemas de corrupção, o que incluiria a prefeitura de Madri. Segundo a mídia local, o empresário tem cerca de 20 milhões de euros bloqueados em bancos suíços.
As investigações do caso Gürtel foram iniciadas em novembro de 2007, e o julgamento finalmente iniciado deve alongar-se por meses.
IMPACTO
Apesar de todo o escândalo do caso Gürtel, somado a outras investigações, é improvável que o PP seja prejudicado a ponto de perder seu governo.
O partido tem sido alvo de diversas acusações de corrupção, mas venceu as duas últimas eleições na Espanha, em dezembro de 2015 e em junho deste ano -apesar de ainda não ter sido capaz de reunir as cadeiras necessárias para formar um governo.
Com as reviravoltas dentro do rival PSOE (Partido Socialista Operário Espanhol), que recentemente forçou a demissão do secretário-geral Pedro Sánchez, há a expectativa de que Rajoy consiga renovar seu mandato até o final do mês. Para isso, seria preciso que o PSOE se abstivesse na votação no Congresso, um cenário possível.