Quando se fala em bruxa ou bruxaria, logo vem à cabeça (ao menos da maior parte da população) alguns pré-conceitos cristalizados através da cultura pop, do cinema e da literatura. Esqueça, contudo, aquilo de verruga na ponta do nariz, de vassoura voadora e de poções com asa de morcego. Esqueça, também, aquilo que viu em Harry Potter ou leu/viu em As Brumas de Avalon. O mundo da bruxaria é diferente e mais vasto do que se imagina.

Curitiba, inclusive, conta com grupos de bruxaria que quebram com esses paradigmas. Um deles é o Rosa dos Ventos Conclave de Bruxaria, que congrega cinco conventículos da região Sul e Sudeste do País — o do Corvo, com sede na Capital, do Cavalo (Foz do Iguaçu), do Leão (Piracicaba-SP), do Lobo (Barra de São João-RJ) e da Serpente (Porto Alegre-RS).

Mauricio Melo, regente do Conventículo do Corvo e Arauto Soberano do Rosa dos Ventos, conta que definir o que é bruxaria não é uma tarefa fácil. É que não existe uma única forma de bruxaria, mas diversas, existindo até mesmo os bruxos solitários, que são aqueles que se orientam em várias fontes e criam uma prática única.

Muita gente acha que é tudo a mesma coisa, mas não é. Cada segmento, cada senda, cada tradição, vai trabalhar de forma diferente. E ainda temos a questão dos bruxos solitários. Então não tem como dizer o que a bruxaria é. O que se pode dizer é que ela é um ofício que rege a transformação da realidade. Qualquer coisa além disso vai de cada grupo, de cada praticante, explica o bruxo curitibano, que é também tarólogo e terapeuta holístico e exerce a bruxaria como profissão, atendendo pessoas e empresas.

No caso do Conclave, as duas deusas cultuadas são Hécate, conhecida como Rainha das Bruxas e originária da mitologia grega, e Morrigan, conhecida como Rainha Fantasma ou Grande Rainha, uma figura divina da mitologia celta. As duas, inclusive, são tratadas pelo grupo como amigas. Isso, porém, não significa que outras divindades não sejam cultuadas. Em verdade, até santos católicos fazem parte da tradição bruxa. O que não significa, é claro, que o preconceito não exista — embora já não se queime bruxas em praças públicas, como até pouco tempo atrás era permitido não só em algumas regiões da Europa, mas também em Curitiba.

Preconceito é uma coisa que existe na nossa sociedade. Se você não está inserido no que é senso comum, você acaba sofrendo preconceito, aponta Mauricio. Todo mundo que pratica bruxaria já sofreu preconceito, já ouviu piada, já foi discriminado. Não entendem que bruxo é alguém que tem o dom de transformar a realidade, ponto. Bruxo pode ter crença em santos, em anjos, em deuses antigos, em demônios, no que ele quiser. Ou pode não acreditar em absolutamente nada. Desde que você tenha esse dom, se você vai trabalhar com o plano espiritual ou não, independe.