NICOLA PAMPLONA
RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Com a melhora nos preços do minério de ferro e recordes de produção, a mineradora Vale teve lucro líquido de R$ 1,842 bilhão no terceiro trimestre, revertendo prejuízo de R$ 6,663 bilhões no mesmo período de 2015, quando sofreu forte impacto da desvalorização cambial.
No acumulado de 2016, o lucro líquido da companhia soma R$ 11,833 bilhões, ante prejuízo de R$ 11,779 bilhões nos nove primeiros meses de 2015.
O resultado líquido, no entanto, caiu 48,6% na comparação com o segundo trimestre. A mineradora atribui essa queda principalmente a variações cambiais, de acordo com relatório da empresa.
Em teleconferência para anunciar o resultado, o presidente da companhia, Murilo Ferreira, disse ter “orgulho de informar que tivemos outro trimestre de muito boa performance operacional de financeira”.
O balanço foi divulgado poucos dias antes de a tragédia de Mariana (MG) completar um ano.
Na ocasião, 40 bilhões de litros de lama mataram 19 pessoas e se espalharam por 650 km na cidade. Ainda hoje o rejeito de minério não removido pela mineradora Samarco, de propriedade da Vale e BHP Billiton, pode agravar o desastre.
No terceiro trimestre de 2016, a empresa bateu novo recorde na produção de minério de ferro, com 92,1 milhões de toneladas.
Os preços de referência do minério produzido pela Vale subiram 9,46% no trimestre, em comparação com o mesmo período de 2015, passando de US$ 46,5 para US$ 50,9 por tonelada.
Para os próximos trimestres, a companhia acredita em manutenção dos preços em patamares mais altos, diante das perspectivas de aumento do consumo do aço, informou o diretor de metais ferrosos Peter Poppinga.
A empresa informou, porém, que manterá esforços para cortar os custos de produção de minério, com a meta de atingir US$ 25 por tonelada -no terceiro trimestre, foram US$ 28 por tonelada, considerando o valor que viabiliza a produção para entrega na China, seu maior cliente.
A receita da Vale no terceiro trimestre de 2016 foi de R$ 23,772 bilhões, alta de 2% ante o mesmo período do ano passado.
A geração de caixa medida pelo indicador Ebitda, que mede o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização, somou R$ 9,829 bilhões no terceiro trimestre, ante R$ 6,816 bilhões no mesmo período do ano passado.
A dívida líquida da companhia caiu US$ 1,543 bilhão na comparação com o segundo trimestre, para US$ 25,965 bilhões, mas ainda está acima dos US$ 24,213 bilhões registrados no mesmo período do ano passado.
A empresa vem trabalhando em um plano de venda de ativos, com o objetivo de reduzir seu endividamento.
Segundo Ferreira, o foco neste momento são as atividades de carvão em Moçambique e as operações de fertilizantes no país.
Para o primeiro, a companhia já anunciou venda de participação à japonesa Mistui, em operação que pode render US$ 768 milhões.
No segundo caso, procura um parceiro estratégico para melhorar as operações no segmento, que vem apresentando boas perspectivas diante do aumento de preços.
O presidente da Vale disse aos analistas que, apesar do bom resultado no acumulado do ano, ainda é cedo para falar em dividendos, mas que espera priorizar os investidores quando voltar a distribuir.
“A prioridade [agora] é redução de dívida e estabelecer nova política de dividendos”, comentou, criticando gestões anteriores que privilegiaram os investimentos no momento de preços altos.
“Se a Vale tivesse devolvido mais dinheiro para seus acionistas na época do superciclo [do minério], poderia não ter feito alguns negócios que depois se mostraram ineficientes e com retorno negativo.”