MAURICIO MEIRELES
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Quando Raduan Nassar chegou ao Museu Lasar Segall, na manhã desta sexta-feira (17), para receber o Prêmio Camões, o autor ganhou um abraço do editor Luiz Schwarcz, que disse:
“Raduan, chegou o dia! Vai passar rápido!”, riu Schwarcz.
Mas devem ter sido longos minutos para Raduan. Pelo visto prevendo que o autor de “Lavoura Arcaica” faria um contundente discurso sobre o governo de Michel Temer, o Ministério da Cultura inverteu a ordem tradicional da cerimônia. Em vez de falar por último, Raduan falou primeiro.
Isso permitiu que o ministro Roberto Freire falasse por último, causando constrangimento geral com uma resposta agressiva à Raduan, que acusou o governo de golpista.
O ministro sugeriu que o escritor não deveria aceitar o prêmio.
“É um adversário recebendo um prêmio e um governo que ele considera ilegítimo”, disse Freire, debaixo de vaias e gritos da plateia.
“Quem dá prêmio a adversário político não é a ditadura!”
O Camões foi concedido a Raduan 17 dias depois de Dilma ser afastada, quando o processo de impeachment foi aberto, em maio do ano passado.
Em seu discurso, além de acusar o governo de golpista, Raduan criticou a nomeação de Alexandre de Moraes para o STF, a prisão recente de Guilherme Boulos e a diplomacia de Temer.
“Mesmo de exceção, o governo que está aí foi posto, e continua amparado pelo Ministério Público e, de resto, pelo Supremo Tribunal Federal”, afirmou o autor, criticando ainda a decisão do STF que permitiu a Moreira Franco virar ministro.
“Em sua decisão, o ministro [Celso de Mello] acrescentou um elogio superlativo a Gilmar Mendes por ter barrado Lula para a Casa Civil. Dois pesos e duas medidas.”
Raduan ainda elogiou a ex-presidente Dilma, a quem chamou de íntegra. “Não há como ficar calado”, concluiu.