Não há escola de educação infantil onde você não encontre uma mãe ou pai ansiosos porque seu filho está mordendo, empurrando e batendo nos coleguinhas. É comum que esses pais se perguntem como podem estar criando uma criança violenta, se proporcionam a ela um ambiente pacífico e de boa educação. Porém, é preciso compreender que a agressividade entre crianças de um a três anos de idade é considerada normal – e necessária – por grandes especialistas em educação, pedagogia, psicologia e neurociência.
A criança que morde, belisca, empurra e dá tapas está experimentando tensões psíquicas muito valiosas para o seu desenvolvimento. Pais e professores devem ajudá-la a compreender e superar essa fase, mas não impedi-la ou superprotegê-la desse impulso (seria mais prejudicial do que benéfico). Principalmente: é um grande erro das escolas tratar esse aluno como um problema, um elemento inadequado.
A fase da agressividade faz parte do desenvolvimento da criança – ela não acontece à toa – e não vivenciá-la pode comprometer alguns aprendizados importantes. Antes de passarmos à próxima ideia, vale ressaltar que não se trata aqui de defender a passividade de pais e professores no processo e, sim, a importância da criança passar por essas situações.
André Lapierre, que é considerado o pai da psicomotricidade relacional, explica que as crianças liberam uma série de tensões psíquicas enquanto brincam e interagem. Autor do livro Um adulto frente à criança, Lapierre mostra que os pequenos aprendem a impor sua individualidade por meio da agressividade. É importante que, nessa fase, pais e professores tenham paciência para ajudá-los a liberarem (e não a reprimirem) essas tensões agressivas do cotidiano. Isso pode evitar que elas venham a se tornar violência real em outra fase da vida.
Lapierre frisa que a agressividade é uma pulsão vital totalmente normal e positiva. Segundo ele, é com ela que muitas vezes a criança aprende a se opor, a resistir e até a transgredir. Só ao vivenciar essas questões é que os pequenos percebem com clareza as regras, as consequências, os padrões de convivência e os modelos a seguir (os adultos). Vivido isso, aos poucos a criança vai deixando de transgredir.
Muitos outros estudiosos também já abordaram a questão da agressividade infantil. O pediatra e psicanalista inglês Donald Woods Winnicott (1896-1971) dizia que o ser humano traz um potencial inato para amadurecer e se integrar. Porém, é importante ressaltar que cada um responde ao ambiente de maneira própria, apresentando condições, potencialidades e dificuldades diversas. Ou seja, o potencial inato não garante que esse amadurecimento realmente ocorra – isso dependerá de um ambiente facilitador, que oportunize o processo.
Winnicott também dizia que amor e ódio constituem dois elementos básicos na construção das relações humanas e que ambos envolvem agressividade. De todas as tendências humanas, a agressividade, em especial, é escondida, disfarçada, desviada, atribuída a agentes externos, e quando se manifesta é sempre uma tarefa difícil identificar suas origens, escreveu ele, lembrando que a agressividade é, de certa forma, algo que impulsiona o ser humano a se desenvolver e a crescer.

Caroline Brand é coordenadora pedagógica e Dayse Campos é diretora da Interpares Educação Infantil